Dona do uísque Johnnie Walker, a Diageo tenta retirar o registro da nanica cachaça mineira João Andante.
As empresas têm a obrigação de defender a propriedade intelectual de seus produtos, bem como evitar cópias e o uso inadequado de suas marcas. Mas é preciso uma dose, sem trocadilhos e de álcool, de bom-senso para que uma postura defensável não termine gerando uma ressaca. Um exemplo dessa falta de medida veio da britânica Diageo, uma das maiores fabricantes mundiais de bebidas alcoólicas, com receita mundial de R$ 28 bilhões por ano. A empresa entrou com um pedido no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) para anular o registro de uma pequena marca mineira de cachaça chamada João Andante.
O motivo: segundo a companhia, a João Andante “configura uma imitação de sua famosa marca de uísque Johnnie Walker” – a mais vendida do planeta – e pode atingir os esforços de consolidação do produto. “É uma tentativa de pegar carona na marca, criando uma associação indevida na mente dos consumidores”, diz um comunicado da Diageo enviado à DINHEIRO. Seja qual for o veredicto do Inpi, pelo menos um feito a Diageo já conseguiu: divulgar nacionalmente o produto de uma empresa desconhecida de Belo Horizonte, administrada de maneira quase amadora e sem grandes pretensões comerciais. “Antes do processo, vendíamos em média 200 garrafas por mês”, diz Gabriel Silva, 28 anos, um dos quatro sócios da marca. “Agora, podemos chegar a duas mil unidades”. O faturamento mensal de R$ 8 mil deve se multiplicar por dez.
Em sua defesa, os donos da marca mineira alegam que o personagem João Andante é inspirado em três figuras diferentes: Dom Quixote, Jeca Tatu e Pablo Picasso. Ele representaria o homem simples do interior, que busca as melhores cachaças e as leva para as grandes cidades. De acordo com analistas ouvidos pela DINHEIRO, a Diageo pode ter, de fato, exagerado na dose. “Os produtos são de nichos distintos e não existe ameaça de perda de mercado”, diz Gilberto Galan, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing, de São Paulo. “Também não é uma imitação; no máximo, trata-se de uma sátira.”
Veículo: Revista Isto É Dinheiro