Os trabalhos visando o lançamento do guia Descorchados América do Sul 2009, reunindo boa parte dos vinhos e vinícolas da Argentina e do Chile foi finalizado há cerca de dez dias em Buenos Aires, nas salas do sofisticado e charmoso hotel Sofitel. O formato do guia segue o utilizado no primeiro, publicado este ano (Editora Planeta), com uma edição em espanhol, para os consumidores chilenos e argentinos, e outra em português, para o mercado brasileiro - deverá ser lançado por aqui na Expovinis no início de abril.
Ainda que, dadas as diferenças de terroir e de estilo, seja precipitado e pretensioso afirmar em termos absolutos qual dos dois países produz melhores vinhos, é válido analisar sob um ponto de vista técnico os melhores de cada lado da Cordilheira e estabelecer uma classificação. Foram, assim, reunidos 60 vinhos que estão atualmente sendo comercializados, metade de cada país, selecionados entre os mais bem pontuados pelos críticos Fabricio Portelli, argentino, e Patricio Tapia, chileno. Os dois mais Hector Riquelme, melhor sommelier do Chile, e eu, degustamos as garrafas totalmente às cegas, sem divisão por país, safra ou casta, durante três dias. Os 49 mais bem avaliados, pela ordem de avaliação que alcançaram estão na tabela ao lado.
Da mesma forma como foi procedido no Descorchados 2008, o grupo avaliava as amostras individualmente e a cada série de cinco ou seis vinhos discutia-se as notas e os critérios adotados, o que elimina possíveis falhas de interpretação, permitindo, por consenso, chegar a um resultado mais coerente e justo. É, a propósito, e como já me referi anteriormente, o procedimento adotado no Japan Wine Challenge e no Decanter World Wine Awards, dois concursos com credibilidade, algo raro entre as tantas competições espalhadas mundo afora.
Para definição mais precisa dos 10 primeiros, as amostras vinhos que obtiveram as maiores notas nas séries iniciais foram degustados outra vez no final, ainda sem identificação, para uma reavaliação e para se assegurar que a bateria em que estavam no princípio não lhes havia beneficiado ou prejudicado. Cabe sobre eles alguns comentários.
Pode parecer surpreendente o primeiro colocado ser um rótulo desconhecido no Brasil. Na verdade, o Kingston é uma vinícola boutique da região de Casablanca, cuja produção pequena e esmerada vem conquistando grandes elogios. É de se esperar que sua importadora no Brasil, que ainda não tem grande expressão no mercado, saiba transmitir valorizar o que tem na mão.
A Fabre Montmayou, a despeito da elegância de seu proprietário francês, nunca conseguiu dar consistência a seus vinhos, tendo, inclusive, trocado de importador várias vezes. Recentemente mudou seu rumo e contratou o premiado americano, Paul Hobbs, como consultor. Este Gran Vin 2006, não tem ainda a mão do assessor. Vale ficar atento na evolução.
Eu já havia me referido anteriormente ao Loma Larga, vinícola situada no Vale de Casablanca que elabora tintos de clima frio de primeira linha. E prova sua bela fase ao colocar 2 vinhos entre os 10 primeiros e mais um, o ótimo Cabernet Franc em 31º. Tudo isso é fruto do trabalho do enólogo francês, Emerick Genevière-Montiganc, à testa da parte técnica desde 2005. Os vinhos mudaram completamente desde que ele assumiu, ganhando mais elegância e equilíbrio, um estilo bem diferente daqueles elaborados por sua antecessora, uma pomposa consultora australiana.
Também não é surpresa Catena se destacar com dois vinhos entre os melhores. Além do pioneirismo, seus vinhos sempre se mantiveram em alto patamar. E ganharam mais personalidade quando o arrojado e talentoso Alejandro Vigil assumiu como enólogo e diretor de desenvolvimento em 2001.
Três vinhos chilenos bem conhecidos fizeram boa figura, Chadwick, Almaviva e Clos Apalta. Vale notar que a sétima posição deste último, embora comprove sua excelência, não lhe dá credenciais - nem de longe -, para ser considerado o melhor vinho do ano pela Wine Spectator. Provando mais uma vez que não merece crédito, a revistinha americana encabeça com ele o Top 100 deste ano. Analisem a lista e tentem achar algum critério na atribuição não só do Clos Apalta, mas dos demais. Não é por pontuação, nem por nota associada a preço e/ou quantidade produzida. Aceito sugestões. (Jorge Lucki)
Veículo: Gazeta Mercantil