Problemas na distribuição de energia elétrica no Distrito Federal (DF) estão provocando prejuízos de milhões de reais às indústrias que enfrentam danos em equipamentos sofisticados e são, também, obrigadas a interromper a produção em alguns períodos.
Renato Barbosa, diretor geral da Brasal Refrigerantes, licenciada da Coca-Cola, conta que o fornecimento da Companhia Energética de Brasília (CEB) na fábrica de Taguatinga Sul vem sofrendo interrupções constantes e a tensão é oscilante. O ideal, segundo ele, seria recebê-la em 380 volts, mas as variações são intensas. Como exemplo, ele cita as medições da segunda-feira que registraram máximo de 376 volts e mínimo de 351 volts. Segundo ele, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tolera intervalo de 351 a 399 volts. "Essa norma protege as distribuidoras, mas, mesmo dentro daquela faixa, a CEB presta um mau serviço", lamenta.
Como a oscilação é grande, o diretor da Brasal afirma que os equipamentos não trabalham com eficiência. Em janeiro, um pico de energia a 413 volts queimou 50 motores inteligentes, o que custou R$ 160 mil na reparação de danos. Além disso, a linha de produção ficou parada por sete dias e mais R$ 1,3 milhão foram perdidos em vendas frustradas. Nas contas de Barbosa, as perdas foram de R$ 2,7 milhões em setembro, R$ 6,02 milhões em outubro e, na primeira quinzena deste mês, já chegaram a R$ 3 milhões. Atualmente, como a demanda por energia cresceu, Barbosa acredita que a CEB reduziu a tensão de toda a rede e, várias vezes, fornece abaixo dos 351 volts.
No setor metalúrgico, os empresários também vêm enfrentando perdas relevantes com o irregular fornecimento de energia da CEB. Rosângela Gravia, superintendente da Gravia, empresa que fabrica e distribui produtos de aço, relata que no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), as interrupções e a oscilação de tensão significam perdas de faturamento e exigem o uso de um gerador que custou R$ 100 mil para sustentar uma rede de computadores. A Gravia paga aproximadamente R$ 500 mil pelos serviços da CEB.
O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas do DF, Gilberto Rossi, confirma que, na entidade, são comuns as reclamações contra a CEB. Sua empresa, a Rossi Portões, mudou-se há pouco tempo de Taguatinga para Águas Claras e sofre com interrupções quase diárias. "Uso equipamentos sofisticados que não resistem a esse tipo de problema. Não tenho capital para investir em geradores que trabalhariam em tempo integral. O prejuízo é grande", atesta.
A Sadia, por meio de sua assessoria, também confirma ter enfrentado problemas com a energia oscilante fornecida pela CEB, mas, ao contrário das demais empresas consultadas, informa que isso não chegou a provocar prejuízos na sua unidade de Samambaia Norte.
A participação de mercado da Brasal Refrigerantes na sua região de atuação - DF e áreas de Goiás e Minas Gerais - caiu de 71,21% (junho) para 69,43% (outubro). Barbosa relata que já procurou o presidente da CEB, o ex-senador José Jorge, e saiu da reunião sem perspectivas de solução do problema. Segundo ele, Jorge disse que um relatório seria preparado para identificar os problemas, mas não deu prazo para uma solução. A empresa está negociando com o governo de Goiás incentivos para a instalação de uma unidade em Luziânia. O local da sua fábrica no DF, em Taguatinga Sul, não permite expansão.
A CEB, por meio de sua assessoria, afirma que o fornecimento de energia às indústrias respeita as tolerâncias relativas a interrupções e oscilação de tensão previstas nas normas da Aneel. Por outro lado, explica que retomou, no ano passado, os investimentos na rede de distribuição para o Distrito Federal. A empresa lamenta que durante os oito anos do governo Joaquim Roriz (1998-2006) não tenham sido realizados os investimentos necessários. Em 2007, na gestão do atual governador José Roberto Arruda (DEM), os investimentos foram de R$ 80 milhões. Neste ano, serão mais R$ 190 milhões e outros R$ 215 milhões estão previstos para o ano que vem.
Em dezembro, de acordo com a CEB, será inaugurada a subestação do Sudeste e, no primeiro semestre de 2009, será dobrada a capacidade da subestação de Águas Claras. Outras cinco subestações entrarão em operação em 2009. Dessa maneira, a empresa - segundo informações da assessoria - acredita que as reclamações sobre interrupções no fornecimento, decorrentes de problemas de oferta de energia, devem acabar em 2009.
A garantia de bom fornecimento de energia é central para o plano de crescimento econômico e atração de novos investimentos no Distrito Federal. Empresas de outras regiões valorizam o mercado da capital, cuja renda per capita é três vezes superior à média do país. Estima-se que 10% da população (250 mil pessoas) ganhem mais de R$ 20 mil por mês. A política do DF para atrair empresas oferece descontos de até 80% nos valores dos terrenos e o financiamento de até 70% do ICMS por 15 anos.
Veículo: Valor Econômico