Em novembro do ano passado, a família Scodro vendeu para a PepsiCo a Mabel, uma das maiores fabricantes de biscoitos do país. O negócio girou em torno de R$ 800 milhões, segundo apurou o Valor. Desde então, a Gama Sucos e Alimentos (GSA) se tornou a principal empresa do clã. Agora, a GSA vai receber R$ 100 milhões de investimentos até 2014 para impulsionar seu crescimento pelos próximos oito anos. A meta é agressiva: passar dos R$ 100 milhões faturados em 2011 para R$ 1 bilhão em 2020.
No comando da GSA está Sandro Marques Scodro, neto de um dos fundadores da Mabel, o italiano Nestore Scodro, e filho do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), que adotou o nome da empresa ao entrar para a vida política. Sandro Scodro assumiu a GSA em 2002, aos 19 anos. "Meu pai me chamou no escritório para dar um presente. Era a fábrica da Gama", conta aos risos, lembrando do que "estava longe" de ser um presente. "A Gama era um problema. A gente brincava que as balas quebravam os dentes das crianças."
Scodro trabalhava na Mabel desde os 16 anos, na área de compras. Quando assumiu a Gama, tratou de sanar as finanças e separar a empresa do resto do grupo. A Mabel foi fundada em 1953 no interior de São Paulo por Nestore e seu irmão Udelio, que deixaram a Itália rumo ao Brasil depois da Segunda Guerra Mundial. A Gama foi criada em 1984 e em seu portfólio estavam produtos como balas e pirulitos, que não eram do escopo da Mabel.
Hoje, as principais marcas da GSA são Refreskant (suco em pó) e Sandella (alimentos, de tempero pronto a mistura para bolo). A empresa passou de um faturamento médio de R$ 8 milhões em 2002 para R$ 100 milhões em 2011.
Para isso, Scodro mudou completamente a cara da fabricante. Deixou de lado as balas, chicletes e pirulitos para entrar em achocolatado, pipoca de microondas e macarrão lámen, entre outros produtos sob a marca Sandella, lançada em 2007. Reforçou a verba de marketing, não revelada, com a contratação de estrelas da música sertaneja, como a dupla Bruno & Marrone e o cantor Leonardo. Aumentou o número de distribuidores, chegando aos atuais 40 mil pontos de venda, principalmente no varejo de um a quatro caixas ("check-outs").
Agora, para multiplicar as vendas por dez dentro de oito anos, os investimentos de R$ 100 milhões serão divididos em quatro frentes. A primeira é em ações de marketing, que vão receber R$ 15 milhões. Uma nova campanha começará a ser veiculada no próximo mês, estrelada pela apresentadora Ana Maria Braga e pela atriz mirim Mel Maia, a menina Rita da novela "Avenida Brasil", da Rede Globo.
"Fizemos uma ampla pesquisa e descobrimos que a Ana Maria tem um peso muito forte sobre nosso público-alvo: donas de casa das classes B, C e D", diz Scodro, acrescentando que "R$ 15 milhões é um investimento agressivo para essas regiões, Norte, Nordeste e Centro-Oeste" do país.
O segundo pilar para o crescimento é ampliar o espaço físico da GSA. Scodro decidiu que era a hora de construir uma nova fábrica, "dez vezes maior do que a atual", com 133 mil m 2, no município de Senador Canedo, em Goiás. A outra fábrica fica no mesmo Estado, em Aparecida de Goiânia, sede da Mabel.
As obras da nova fábrica começam no segundo semestre deste ano, junto com a construção de um novo centro de distribuição, que será agregado aos outros sete que a GSA possui (Goiás, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais e São Paulo). "É um investimento para receber novas linhas de produtos e prepara a empresa para o crescimento", diz Scodro.
Em Senador Canedo, serão fabricadas as novas linhas de produto - a diversificação é o terceiro pilar de expansão. Em 2012, a GSA vai lançar seis novas categorias, incluindo gelatina, energético e mistura para sopa com macarrão (sopão). No ano que vem, está prevista a entrada em outras oito novas categorias.
O quarto pilar do crescimento da GSA está nas aquisições, prioritariamente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, diz o executivo. Ele acrescenta que a companhia tem reserva para ir às compras, mas que para isso vai depender de encontrar bons negócios. "A GSA está bem capitalizada e, o mercado, ansioso", afirma Scodro. O problema, diz ele, é que "os múltiplos estão muito altos", e "muita coisa não vale o que pedem". Por isso, "as aquisições podem não sair".
Parte dos R$ 100 milhões que a GSA vai investir sairá do caixa da empresa, outra parte de financiamentos e, o restante, da venda da Mabel. "A venda da Mabel vai dar uma turbinada na GSA", diz Scodro, sem detalhar o quanto lhe coube com a venda ou o quanto será investido na empresa. A GSA está negociando as taxas de financiamento com instituições públicas e privadas. "O que pudermos buscar de FCO [Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste] e BNDES é melhor."
Veículo: Valor Econômico