Representantes da indústria processadora de laranja e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) devem se reunir nos próximos dias para tentar resolver uma divergência sobre o tamanho dos estoques de suco no Brasil.
O órgão norte-americano registra disponibilidade de cerca de 240 mil toneladas do produto. Porém, a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR) declara existência de 660 mil toneladas.
Esta é uma diferença que pode trazer problemas para a indústria, que pressiona o governo a dar garantias para que sejam comercializados 40 milhões de caixas de laranja excedentes da safra atual.
Segundo documentos obtidos pelo DCI, o USDA admite possibilidade de erro, mas não garante revisão. O monitoramento dos estoques é feito pelo órgão desde os anos 1970. "[Os industriais] criaram o número, e tem muita gente aceitando - inclusive autoridades", acusa o presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas.
O representante levantou a divergência entre os dados de estocagem na última reunião da Câmara Setorial da Citricultura, terça-feira em Brasília, enquanto se discutiam soluções conjuntas para a crise de oferta do setor.
Os citricultores esperam medidas públicas que deem garantias à indústria, para que esta decida comprar o volume excedente da safra atual, estimado em 300 mil toneladas de suco.
O excesso de produção - concordam ambas as partes do setor - está ligado à expansão dos pomares administrados pelas fabricantes ao longo da década passada, e se agrava com o acúmulo de estoques (aferidos pela Citrus BR) da última safra.
Medidas recentes
O Estado de São Paulo, garantiu, recentemente, a redução de ICMS para a cadeia produtiva da laranja. O impacto será de 6% a menos do preço da fruta no varejo. Já o governo federal, por meio do Ministério da Agricultura (Mapa), instruiu que a presença de suco concentrado aumente de 30% para 50% no néctar contido em produtos engarrafados.
A indústria compromete-se a absorver 40 milhões de caixas de laranja, caso suas demandas sejam atendidas pelo estado.
As principais reivindicações são a realização de leilões em que se pagariam cerca de R$ 7 por caixa de laranja (cabendo ao governo completar o preço mínimo de R$ 10) e à prorrogação da Linha Especial de Crédito (LEC) destinada à ampliação da capacidade de estocagem - o governo deve ceder a essa demanda ainda nesta semana ou na próxima.
Na última safra, o crédito à estocagem (R$ 300 milhões em empréstimos) respondeu pela estocagem de mais 311 mil toneladas de suco. A intenção da indústria é repetir o volume neste ano, segundo o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR), Christian Lohbauer.
O representante afirmou recentemente ao DCI que a prorrogação da LEC poderá evitar que 40 milhões de caixas de laranja (50% do excedente) sejam descartadas pelos produtores.
"O suco que se guardou na safra passada ficou mais caro neste ano, e pudemos exportá-lo", havia dito Lohbauer.
Prevê-se ainda a utilização de contratos para a compra da fruta ao longo do ano.
Lohbauer disse que, nesse formato, consta que os citricultores terão direito a participação futura nos lucros - quando o suco estocado em 2012 for vendido, no ano seguinte. "[A divisão do ganho] varia por empresa: 40% e 60% ou 50% e 50%", explicou.
Para Viegas, da Associtrus, a indústria "fabricou" a crise.
"Se não houver interesse em se engajar no processo de solução, as medidas do governo terão pouco alcance. A condição pública é que os fabricantes ampliem a compra de frutas", avaliou o representante.
Entre 2011 e 2012, colheram-se 420 milhões de caixas de laranja no Brasil. Na safra atual, o setor deve produzir mais 365 milhões de caixas - sem haver, ao que tudo indica, garantia de demanda.
"É a pior crise da história", afirmara o produtor Frauzo Sanchez, de Ibitinga (SP), que já dispensou 20% de sua produção, estimada em 250 mil caixas. "O citro está com liquidez zero: não vende nem abaixo do custo."
Veículo: DCI