Com Galvão Bueno, Miolo mira classe média e China

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Grupo quer usar prestígio do novo sócio para promover vinhos


Dá para dizer que foi em um intervalo entre partidas de futebol e corridas de Fórmula 1 que o narrador esportivo Galvão Bueno arrematou mais um negócio fora dos microfones ou da TV. No recesso das temporadas dos dois esportes, Bueno anunciou o ingresso no capital da Miolo Wine Group, maior empresa do setor vitivinícola brasileiro, com 35% das vendas de vinhos finos nacionais. A operação, cujos valores e percentuais de participação de cada sócio (família Miolo - majoritária -, Randon, Benedetti, Tecchio e agora Bueno) não foram revelados, envolveu aumento de capital e foi o primeiro passo mais claro rumo à oferta de ações na BM&FBovespa, projetada para 2020. Neste ano, o grupo pretende oferecer como trunfo para atrair investidores uma receita de R$ 500 milhões.

Se no Brasil o consagrado jornalista esportivo não tem conseguido narrar grandes feitos no futebol ou na Formula 1, a aposta agora é acelerar no mundo dos negócios e multiplicar seu capital com os planos ambiciosos da vinícola nos próximos sete anos. A empresa, criada pela família Miolo em 2000, vinificou 12 milhões de litros em 2012 e abarcou 35% do mercado de vinhos finos produzidos no País. Agora, quer avançar na faixa do consumidor da classe C e transpor as muralhas da China.

O novo sócio se revela um dos entusiastas da exploração do potencial no mercado chinês, que ostentou alta de 70% no portfólio externo da Miolo em 2012, mas ainda é o terceiro em encomendas. “O país é o grande arrematador de leilões internacionais, já produz seus vinhos, mas busca qualidade e boa relação custo-benefício”, anima-se o narrador, que oficializou o acordo com a Miolo Wine há duas semanas, em Bento Gonçalves, e decolou no dia seguinte para a Europa. Da varanda da casa que possui no luxuoso balneário do Principado de Mônaco, Bueno falou ao Jornal do Comércio que ocupará uma cadeira no conselho de administração da Miolo e escalará sua filha Letícia para um posto na direção-executiva. O investidor, que tem parreiral próprio no projeto Bella Vista Estate, em Candiota, na região da Campanha, lembra que o namoro para acertar o casamento do capital começou em 2009. Um ano antes, uma parceria selada com a vinícola incluiu processamento das uvas colhidas nos 30 hectares do narrador, que também tem criação de Angus e cavalos Crioulo no Rio Grande do Sul.

O acordo gerou até hoje seis rótulos, e Bueno revela que um sétimo está a caminho, oriundo de um varietal que ele faz segredo e que se chamará Bueno 1836, referência ao ano da batalha de Seival, onde fica o seu projeto, a mais famosa da Revolução Farroupilha. “É uma homenagem à região que me recebeu tão bem. O vinho ficará em barricas de carvalho por três anos. Será um tinto de uma uva francesa”, descreve Bueno, que só vê crescimento para a marca. Para a família Miolo, o namoro descrito pelo sócio também serviu para medir a confiança e estudar o potencial acionista, descreve o superintendente do grupo, Adriano Miolo.

A expectativa dos fundadores é de que Bueno agregue o capital considerado mais estratégico daqui para frente: suas boas relações, tanto no País como em mercados pelo mundo. Miolo cita que, antes de ser sócio, o narrador abriu portas na corte do automobilismo. A vinícola também foi uma das bebidas oficiais das Olimpíadas de Londres. “Para a expansão que almejamos, precisamos ter alguém como ele, voltado à comunicação”, reforça o executivo. Bueno está pronto para entrar em campo.

Meta é crescer até 20% em 2013

A Miolo Wine Group vai mirar com força novos consumidores que estão na faixa de renda das classes C e D e que são apontados como motor do crescimento de 2012. O ano não chegou aos 15% de expansão lançada nos planos em fim de 2011, mas ficará em 10% (os dados estão sendo fechados). O faturamento é estimado em R$ 128 milhões. Para este ano, a meta é avançar 15% a 20%, alcançando R$ 150 milhões, e os combustíveis devem vir também da popularidade crescente dos espumantes (com aumento de 20% na comercialização em 2012) e dos efeitos do acordo firmado com o governo e setores de varejo e serviços para promover o produto nacional, em detrimento do importado.

“No ano passado, o vinho importado representou 80% das vendas. Nunca esteve tão ruim. Os importadores terão de ajudar para evitar salvaguardas”, previne o empresário. Segundo Miolo, restaurantes que haviam expurgado a vinícola da carta de vinhos estão retomando encomendas. “Dos que haviam nos tirado da carta, 80% nos chamaram para conversar. É resultado do acordo”, associa o superintendente. No setor externo, a estratégia será comercializar o rótulo da Brazilian Legend, criada em 2012 para atender a clientes em 30 países e abrir novos nichos, e que concorre com faixas de preço mais baixos, e a inserção de linhas premium e Miolo. Lá fora, a vinícola espera colher mais vendas com a quebra da safra de uvas na Europa e inflação interna na Argentina, que tornam os preços dos concorrentes menos palatáveis. As exportações somaram US$ 1,5 milhão no ano passado (10% da receita anual), e a intenção é duplicar as divisas em dois anos. Em 2020, a meta é alcançar 35% do faturamento no exterior.

Para ampliar o espaço na mesa da classe emergente no mercado interno, o grupo vai turbinar a oferta de safras do Miolo Seleção com preços tão atrativos quanto os importados argentinos e chilenos mais baratos e das linhas do Almadén. “A marca chegou a vender 1 milhão de caixas. Em 2009, caiu a 230 mil. Alcançamos 400 mil em 2012 e queremos crescer mais”, projeta. Até 2020, Miolo espera elevar de 1,2 mil hectares para mais de 2 mil a área de parreirais.

Mais áreas poderão ser adquiridas, adianta Miolo. Mas ele não descarta buscar mais fornecedores, pois hoje 10% da uva vinificada vêm de produtores independentes. Os recursos do novo sócio devem ser aplicados em ações de vendas. Segundo o superintendente, foram investidos R$ 100 milhões em dez anos, que inclui aquisições. Está nos planos ainda encontrar uma vinícola que sirva de modelo de companhia aberta, até a estreia da brasileira. Miolo cita o grupo Concha y Toro, do Chile. Por enquanto, o executivo diz que está ocupado em atingir as metas até 2020. “Lembro a minha equipe que saímos de uma receita de R$ 1 milhão, em 2000, para R$ 100 milhões, em 2010. Agora é só crescer quatro vezes.”

A Miolo Wine Group e os planos até 2020

    Donos: família Miolo (fundadora e acionista majoritária), famílias Randon, Benedetti e Tecchio (com fatias semelhantes no capital, mas não reveladas)  e Galvão Bueno
    Ativos: 1,2 mil hectares de parreirais e plantas de vinificação em sete projetos no País: Seival e Bellavista Estate (Candiota), Almadén (Santana do Livramento), Miolo (Bento Gonçalves, Vale dos Vinhedos), Lovara (Serra gaúcha), RAR (Campos de Cima da Serra) e Ouro Verde (Bahia, Região do Vale do São Francisco). Até 2020, a meta é ter 2 mil hectares de parreirais
    Produção: 12 milhões de litros de vinhos finos em 2012 (35% do volume vendido pelas vinícolas nacionais)
    Faturamento: R$ 128 milhões em 2012, alta de 10% sobre 2011. Para 2013, previsão de R$ 150 milhões e, em 2020, R$ 500 milhões. Em 2000, a receita foi de R$ 1 milhão
    Mercado externo: marca está em 30 países, com principais importadores Inglaterra (1º) , Holanda (2º) e China (3º). Setor significa 10% da receita, e intenção é chegar a 30% em 2020.




Veículo: Jornal do Comércio - RS


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