O Departamento de Justiça dos Estados Unidos entrou com uma ação ontem, quinta-feira, para impedir a aquisição da cervejaria mexicana Grupo Modelo pela Anheuser-Busch InBev (AB InBev), por US$ 20 bilhões, sob o argumento de que o acordo vai resultar em aumento de preços e inibir a concorrência.
A fusão poderá elevar preços, custar bilhões de dólares aos consumidores nos Estados Unidos e atrapalhar a inovação em todo o setor, de acordo com o Departamento de Justiça.
A marca Bud Light, da AB InBev, é a cerveja mais vendida nos Estados Unidos, enquanto a Corona Extra, da Modelo, é a cerveja importada mais vendida no país.
Combinadas, as duas empresas controlariam cerca de 46% do mercado de cervejas nos Estados Unidos, estimado em US$ 80 bilhões.
"Se a AB InBev controlasse e fosse proprietária integral da Modelo, a AB InBev poderia elevar o preço das cervejas para os consumidores americanos", disse ontem Bill Baer, subprocurador-geral encarregado da divisão antitruste do Departamento de Justiça. "Este processo busca evitar que a AB InBev elimine a Modelo como uma importante força para a concorrência na indústria de cerveja".
A ação do Departamento de Justiça cita documentos internos da AB InBev admitindo que a mexicana Modelo dificultou sua estratégia de aumento de preços, que o resto da indústria tende a acompanhar.
Em junho, a AB InBev, maior cervejaria do mundo em receita, acertou a compra do controle integral da cervejaria mexicana por US$ 20,1 bilhões, na qual já detinha participação de 50%, intensificando seus esforços para assumir a dianteira na consolidação no mercado de cervejas.
O executivo-chefe da AB InBev, Carlos Brito, pagou um ágio alto pela Modelo na esperança de ganhar maior acesso ao mercado mexicano de cervejas e de vender marcas como a Corona por meio da rede de distribuição internacional da AB InBev. [No Brasil, a AB InBev controla a Ambev, a maior fabricante de cervejas do país, com cerca de 70% das vendas].
Para tentar amenizar as preocupações antitruste, a Modelo concordou, na época, em vender sua participação de 50% na Crown Imports, seu empreendimento conjunto nos Estados Unidos, para a parceira Constellation Brands, por US$ 1,85 bilhão.
O acordo de importação entre AB InBev e Constellation, contudo, pode ser encerrado após dez anos e o Departamento de Justiça sustentou que essa solução cria apenas uma "fachada" de concorrência.
Em comunicado, a AB InBev informou ontem que vai "contestar vigorosamente" o processo, mas que não prevê mais concluir o acordo de aquisição no primeiro trimestre.
"A ação do Departamento de Justiça dos EUA buscando bloquear a proposta de combinação entre AB InBev e Grupo Modelo é inconsistente com a lei, os fatos e a realidade do mercado", segundo a AB InBev.
Analistas já previam objeções à aquisição por preocupações com a concorrência e sugeriram, nas últimas semanas, que a AB InBev poderia ter de fazer concessões para ganhar aval.
"O resultado mais provável, em nossa opinião, é que a ABI abra mão da opção de, depois de dez anos, poder retomar suas marcas da Constellation e [que] venda um par de marcas menores", escreveram analistas do Citigroup em informe a clientes. "O pior cenário seria não se permitir que a ABI produza as cervejas da Constellation Brands e [que] tenha de vender algum ativo de produção".
A AB InBev não deu sinais de estar disposta a fazer concessões. As ações da AB InBev fecharam ontem em queda de 5,88% na bolsa de Nova York. Os papéis da Modelo recuaram 6,5% na Bolsa do México [a Ambev fechou em alta de 0,58% na bolsa de São Paulo].
Veículo: Valor Econômico