Lílian Cunha, de São Paulo
O mercado cervejeiro do país deve fechar o ano com um crescimento entre 5% e 6%, em volume, em relação a 2007, segundo fontes do setor. Com isso, o consumo dos brasileiros passaria de 6,9 bilhões de litros (total apurado pela Nielsenem 2007) para quase 7,3 bilhões - ou 38 litros por habitante. Esses percentuais levam a crer que, apesar de toda celeuma que gerou a Lei Seca, em vigor desde o final de junho ( punindo com multa de R$ 955 motoristas flagrados dirigindo após beber), a proibição não afetou a indústria.
"Houve, sim, uma queda nas vendas de chope", diz Paulo Macedo, diretor de relações externas Mercosul da Femsa. Nos primeiros meses da nova lei, o consumo de chope chegou a cair 50% em relação aos mesmos meses de 2007. Isso porque 98% do consumo da bebida só é possível em bares que tenham equipamento apropriado para servir a bebida. E foi nas regiões onde se concentram esses estabelecimentos que a fiscalização atuou mais.
Mas a queda não foi suficiente para tirar o gás da indústria. "O chope representa só 3% do volume que vendemos", diz o executivo da empresa mexicana. Segundo Macedo, a queda acumulada até agora nas vendas é de 20%. "Mas, como de junho a novembro vendemos 25,3% mais chope e cerveja, os dois nas versões sem álcool, compensamos a baixa e até saímos ganhando", afirma. O chope sem álcool foi lançado dois meses após a entrada em vigor da lei.
Na AmBev, poucos apostavam na Liber, a cerveja sem álcool que desde 2004 estava no portfólio da empresa. Porém, com o aumento de vendas de 78% logo nos dois primeiros dois meses da Lei Seca (em relação ao mesmo período de 2007), a companhia também decidiu lançar o chope sem álcool.
Outros dois fatores que ajudaram no crescimento das vendas foram a alta do consumo em bairros residenciais e o aumento da demanda nos supermercados. "Notamos diminuição do consumo de cerveja em bairros boêmios, como Vila Madalena em São Paulo, Savassi em Belo Horizonte e o Leblon, no Rio de Janeiro. Mas houve uma conseqüente migração para bairros residenciais mais movimentados, como Higienópolis, para citar uma área paulistana", diz Macedo. A Femsa, segundo ele, não tem como precisar qual foi o percentual de queda em um determinado tipo de bairro e o aumento em outro. "Mas é certo que os bares de áreas residenciais que pediam dez caixas agora pedem 12, 14."
E quem não foi para o bar da esquina, bebeu em casa mesmo. E para isso, teve antes de passar no supermercado para comprar suas latinhas. Com mais cerveja sendo vendida nos auto-serviços, as marcas mais baratas saíram ganhando. Tanto é que na última medição Nielsen do mercado de cerveja, a participação de mercado da Petrópolis, fabricante da Itaipava, passou de 9,4% do mercado em outubro para 9,9% em novembro. A Schincariol subiu de 12,9% para 13% (AmBev caiu de 67,8% para 67,4% e Femsa ficou estável em 7,4%). As duas - Petrópolis e Schin - são reconhecidamente as marcas mais baratas nas prateleiras.
A dúvida, agora, é com relação ao consumo durante o verão. A estação concentra 40% de tudo que as cervejarias vendem no ano. E, no que depender da polícia de São Paulo - maior mercado do país - a fiscalização será tão intensa nas cidades quanto no litoral, para onde muitos viajam. Segundo disse o secretário de Segurança, Ronaldo Marzagão ao jornal "O Globo", as operações com os bafômetros acontecerão tanto durante o dia como à noite. Nas cidades praianas do Estado do Rio, até pilotos de barcos serão fiscalizados com bafômetros. No total, segundo o secretário, há 628 equipamentos em todo o Estado para fazer a fiscalização - 350 a mais que em junho.
Diante desse cenário, a AmBev se prepara para aumentar a distribuição de Liber. "Os consumidores estão cada vez mais abertos às opções sem álcool. Prova disso é o crescimento de Liber. Atualmente, a cerveja sem álcool representa 0,75% do mercado de cervejas, mas acreditamos que vai crescer ainda mais", diz Sérgio Eleutério Aguiar, gerente de marketing de Liber.
Na Femsa, a expectativa é a mesma. "Esperamos que o comportamento do consumidor na praia seja igual ao adotado até agora nas cidades", diz Macedo. Ou seja: as pessoas devem continuar bebendo. "Quem for dirigir, entretanto, deve se abster ou preferir as versões sem álcool", afirma.
Veículo: Valor Econômico