Já se vão oito anos desde que fiz o primeiro ranking de vinhos em 2001. Desde então, esta lista tornou-se referência no mercado e vem cumprindo seu objetivo de ser um serviço aos leitores da Gazeta Mercantil. O fato é comprovado pela grande visitação que as sete listas anteriores recebem diariamente em meu site (www.mardevinho.com.br).
Os critérios desta seleção são os mesmos há oito anos: em primeiro lugar, só concorrem os vinhos que provei pessoalmente, entre dezembro de 2007 e dezembro de 2008. Este ano, degustei quase cinco mil vinhos, no Brasil e em muitas viagens. A preferência é para as novidades e para os provados às cegas. Todos os selecionados estão presentes no mercado brasileiro e se destacaram dentro de suas categorias de preço, tipo (tinto, branco etc.) e estilo (corpo, região, idade etc). O objetivo é oferecer um panorama do que há de novo e de bom no mercado, proporcionando ao leitor opções de compra para todos os gostos, bolsos e ocasiões. É importante frisar que não são "os melhores vinhos do mundo", pois este tipo de lista se repetiria, com poucas variações, ano após ano, contendo nomes que dispensam apresentações, mas requerem saldo bancário.
Este ano estão representados 13 países, por meio de 200 vinhos, sendo 110 tintos, 40 brancos, 14 espumantes, 12 fortificados ou doces, 8 rosés e 16 tintos brasileiros, com preços de R$ 18,90 a R$ 864.
Em linhas gerais, o fato mais marcante do mercado nacional de vinhos em 2008 foi causado por um acontecimento externo - a crise econômica internacional. A crise não afetou a qualidade intrínseca dos vinhos, mas alterou o câmbio do dólar, o preço final de prateleira e o ânimo financeiro dos consumidores. O quanto a crise nos afetou? Ainda é cedo para falar de números e tirar conclusões, mas é certo que o crescimento do mercado de vinhos no Brasil é irreversível e superará a longo prazo qualquer crise.
No que diz respeito ao que se degustou em 2008, vejamos meus comentários, por tipologia (acompanhe na tabela todos os vinhos e a descrição detalhada de alguns destaques):
Brancos
Algumas tendências de 2007 se confirmaram, como o crescimento do interesse pelos brancos e o aumento da qualidade da oferta. Os destaques são os Sauvignon Blancs e Chardonnays do Chile, especialmente de regiões como Casablanca, San Antonio (e sua sub-região Leyda), Limarí e Elqui. Os brancos argentinos da casta Torrontés também são uma ótima opção, de baixo custo, conquistando a cada dia novos adeptos. Em ascensão também continuam os Rieslings alemães e os Alvarinhos portugueses. Como novidade e como tendência para 2009, posso apontar em direção aos brancos espanhóis, alguns são surpreendentes, como o Pedralonga Albariño 2006 e o Tondônia Reserva 1988 (veja entre os destaques). Como aspecto negativo a melhorar eu citaria a dificuldade de se conseguir no Brasil as safras mais recentes de muitos brancos. Vários dos vinhos selecionados aqui foram provados em seu país de origem e só devem chegar ao Brasil na virada do ano, especialmente os das safras 2007 e 2008. Sem falar de muitos brancos excepcionais que provei fora do país e que infelizmente não pude colocar nesta seleção, pois simplesmente não estão presentes em nosso mercado. Já temos uma ótima oferta de brancos, mas que ainda pode melhorar.
Espumantes
Na faixa de preço mais baixa esta categoria é dominada pelos espumantes nacionais, e na faixa mais alta pelos champanhes. Outras origens que merecem atenção são sempre os espanhóis Cava e os italianos Franciacorta. Dos nacionais selecionei 4 rótulos, os três produtores que hoje considero os mais consistentes (Chandon, Cave de Amadeu e Valduga) e um produtor pequeno que surpreendeu na prova cega: Dom Giovanni. Dentre os champanhes a constatação é de que nosso mercado já tem uma variedade fantástica, com inúmeros vinhos espetaculares disponíveis. Como grande destaque, cito o champanhe Dom Ruinart Brut 1996: exuberante.
Rosé
No mundo cor-de-rosa houve uma queda no número de novidades entre 2007 e 2008, o que não significa que não existam ótimos vinhos a serem descobertos, como o alemão Villa Bürklin 2007. Outros já conhecidos merecem ser apreciados em suas novas safras, como o os franceses de extrema elegância Pétale de Rose 2007 e Château de Pourcieux 2007. Para os que desejam fruta mais intensa, recomendo o Santa Digna Cabernet Sauvignon rosado 2007, um bom entry wine para se começar no mundo dos rosados. Aos poucos o consumidor vai reconhecendo a versatilidade dos rosados, mas a mudança de hábito demora.
Doces e Fortificados
O número de lançamentos neste segmento continua crescendo. A curiosidade dos consumidores é grande, mas ainda há muito o que crescer, pois muitos não possuem (e até desconhecem) o hábito de acompanhar suas sobremesas com vinho. Uma coisa é certa, matéria-prima, na forma de bons vinhos, não falta no Brasil. Para servir em taça em restaurantes o Deen Botrytis Semillon 2005 ou o Nucho de Pegões licoroso podem ser ótimas opções. Para entendedores, grandes sauternes como o Chateau Doisy Daene 2005, o Château Coutet 1998 ou o Château Guiraud 1997, são um verdadeiro ouro líquido, aptos a repousar por décadas em uma adega climatizada esperando o momento de nos emocionar.
Brasil
Nunca tive tantos vinhos brasileiros neste ranking, é um recorde absoluto, com 21 rótulos (dentre todos os tipos, tintos, espumantes etc). Este número constata que os vinhos brasileiros seguem firmes em sua evolução. Porque nenhum branco? Pois ainda falta massa crítica dos produtos nacionais nesta categoria. Porque separei os tintos e não os espumantes? Pois os espumantes possuem classe internacional inconteste, e se destacam mesmo sem um nicho separado. Os tintos por outro lado, precisam ser isolados para serem analisados, pois se colocados no quadro geral se perderiam em meio à imensa oferta de rótulos importados. A lista de tintos é uma verdadeira seleção brasileira, como o que há de melhor em nossa enologia. O Rio Sol 2006, surpreendeu ao conquistar a Expovinis 2008 na categoria "tinto nacional". O Nebbiolo Battú é um autêntico vinho de garagem, com produção de apenas 300 garrafas (uma barrica) ao ano. O Tannat Grande Vindima da Lídio Carraro é um tannat diferente de todos, o Storia Merlot, da Valduga, é o melhor tinto que esta tradicional vinícola já fez, enquanto a Miolo segue seu caminho de qualidade apresentando mais uma ótima safra do Merlot Terroir. Alguns vinhos de Santa Catarina também começam a se destacar e merecer atenção, como o Maestrale e o Innominabile, além dos já prestigiados Villa Francione. (Marcelo Copello)
Veículo: Gazeta Mercantil