Fonte rara descoberta no interior do Paraná se transformou em aposta no concorrido mercado
A água que brota de um poço artesiano perfurado na cidade de Sobradinho (PR) inicialmente para resolver os problemas de abastecimento da fábrica de iogurtes mantida pelo empresário Osmar Pereira é considerada rara. A água contém vanádio, mineral com propriedades medicinais que ajuda a combater o colesterol, influencia o funcionamento do pâncreas, fígado e até auxilia no combate contra o diabetes.
No mundo todo, existem pouquíssimas fontes de água vanádica. Há uma famosa na França e em Imbirá (SP) – há outras em São Paulo e no Paraná, principalmente. Mais difícil ainda é encontrar o produto com índice de pH 10 ou com a concentração de 0,31 mg de vanádio por litro, como é o caso da fonte chamada pelo empresário de Sferriê – em geral, as 'concorrentes' giram em torno de 0,02 mg/l e 0,13 mg/l, segundo o Departamento Nacional de Água Mineral (DNPM).
“Foi muita sorte”, diz Osmar Pereira, que há pouco tempo nem sabia a diferença entre a água mineral para as demais. “Tinha uma mina aqui no laticínio que a gente usava. Um dia desses o pessoal falou: ‘Osmar, acabou a água’. Eu pensei: ‘não pode, temos um reservatório de 100 mil litros’”, lembra o paranaense, que seguiu em direção à mina para investigar o caso.
Osmar descobriu na nascente uma outra bomba de água, além da sua, com um encanamento seguindo em direção oposta à fábrica. “Fui seguindo o cano e deu no meu tio, que tinha uma propriedade ao lado”, explica ele, que no mesmo dia decidiu furar um poço para resolver a história.
“Aqui, a gente dá um coice numa pedra e já sai água. Por isso, achava que com 30 metros ia resolver. Mas começamos a furar 50 metros e nada, 100 metros, nada. Encontramos só com 230 metros”, relembra Pereira, que mandou com a equipe de perfuração uma amostra do líquido para testes de pureza. “Os caras me ligaram: ‘Osmar, sua água é muito rara, meu Deus do céu’. Foi quando começamos a entender o que era esse tal de vanádio’, afirma.
Inteirado sobre alcance da descoberta, Osmar Pereira, que fatura R$ 3,5 milhões por mês com o laticínio, montou um planejamento com o objetivo de alcançar entre R$ 500 mil e R$ 700 mil por mês com a marca de água Sferriê até o final do ano – atualmente, ele fatura R$ 300 mil com a linha. O empreendedor contratou 20 pessoas e aplicou R$ 5 milhões na construção de um parque para a extração da água.
“Lançamos duas embalagens, uma delas premium, com 410 ml, e outra tradicional, com 510 ml. Vendemos em hotéis chiques, restaurantes de melhor nível e supermercados do Paraná", conta ele, que nesta semana viaja para São Paulo a fim de tentar um acordo de fornecimento com alguma grande rede nacional. “Recebemos em torno de 30 a 40 emails por dia de gente querendo saber onde pode encontrar a água em São Paulo e nós precisamos ter uma referência”, conta.
Comunicação. É justamente a negociação com o canal de venda o ponto sensível do novo negócio de Osmar Pereira, avalia Adalberto Viviani, especialista no mercado de bebidas da consultoria Concept. “Conseguir um bom ponto de venda e um canal de comunicação com o público vão determinar futuro do empreendimento”, destaca.
Para Viviani, a água do empresário pode ser especial. Mas, até a consolidação do negócio, ele terá de enfrentar um caminho longo, principalmente para convencer o consumidor de que o produto vale a pena. “Esse mercado é muito disputado e, para conseguir espaço, é preciso ter realmente algo especial. O consumidor em geral não conhece a água vanádica e divulgar o diferencial é o desafio do empresário”, destaca.
Veículo: O Estado de S.Paulo