Queda do interesse por vinho na Ásia preocupa franceses

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Dominique Lee se irrita ao ver que o valor dos vinhos que comprou há três anos dos vinicultores de maior prestígio da França caiu pelo menos 20%.

"Não quero nem ver quanto eles valem agora", diz o fabricante de roupas de Hong Kong.

Na atual temporada, os mesmos vinhos esperam reconquistar a confiança de compradores como Lee, cortando preços na mais nova safra, em até um terço do oferecido no ano passado, na esperança de estimular a demanda na Ásia, onde os colecionadores viram declinar o valor dos vinhos que compraram nos últimos anos.

Os vinicultores de Bordeaux acabam de iniciar sua campanha de "en primeur" deste ano,na qual oferecem no mercado de futuros seus vinhos produzidos mais recentemente. Os vinhos de 2012, que ainda estão em barris e só serão engarrafados e entregues daqui a dois anos, estão sendo anunciados pela primeira vez para os distribuidores e colecionadores.

Os poucos vinicultores que divulgaram seus preços até agora estão com os níveis mais baixos desde 2008. Na segunda-feira, a produtora Château Lafite-Rothschild fixou seu preço em 350 euros (US$ 457) por garrafa, 17% inferior ao ano passado e 42% inferior ao ano anterior.

Na semana passada, a vinícola Château Mouton-Rothschild fixou o preço de 240 euros por garrafa, 33% menos que em 2011. A Château Lynch-Bages vai vender seus vinhos de 2012 a 60 euros por garrafa, uma queda de 13%.

Mais de 200 produtores devem participar do mercado "en primeur", sistema que vigora há séculos. No entanto, a Château Latour, uma das produtoras mais conceituadas da região, pertencente ao bilionário francês François Pinault, decidiu não entrar no mercado de futuros este ano, preferindo lançar os vinhos no mercado aberto quando estiverem prontos para o consumo.

O Liv-ex 100, índice que acompanha os vinhos mais colecionados do mundo, atingiu o pico em junho de 2011 mas afundou 29% em outubro de 2012. Desde então, o índice teve uma ligeira recuperação, de 8%.

Lee disse que, apesar da perda em sua carteira, ainda vai comprar algumas garrafas no mercado de futuros deste ano. Ele aprecia a exclusividade da compra antecipada, dizendo que se sente "parte da lista." Quanto aos seus 2.009 vinhos, ele ainda está convencido de que os valores irão ultrapassar o que ele pagou por eles. "Cada garrafa que se bebe, é uma garrafa a menos lá fora", disse, repetindo uma frase ouvida com frequência entre os colecionadores de vinho. "Eles não podem ser reproduzidos."

O corte nos preços tem estimulado a compra, dizem comerciantes do setor.

"Vendemos todo o nosso Mouton na manhã seguinte ao anúncio do preço", disse Simon Staples, diretor de vendas para a Ásia da grande comerciante de vinhos Berry Bros. & Rudd, de Hong Kong.

O mercado de vinhos finos ainda não voltou ao seu pico de 2011, quando foi estimulado sobretudo pela maior demanda de colecionadores e apreciadores da Ásia. Hong Kong anulou suas tarifas para importação de vinhos em 2008 e em dois anos se tornou o maior centro mundial de comércio de vinhos, superando em vendas as firmas de Londres e Nova York em leilões em 2010 e 2011.

Os produtores também estão sentindo pressão para baixar os preços, depois de um verão de clima desfavorável. As primeiras resenhas sobre a safra de 2012, provada diretamente do barril por compradores de vinho e críticos do setor, foram medianas.

Os vinicultores também não querem repetir o erro do lançamento da safra do ano passado. Depois de duas safras bem-sucedidas em 2009 e 2010, ambas louvadas como excepcionais pelos enólogos, os vinhos de 2011 foram oferecidos com descontos pequenos. As vendas dessa safra, geralmente consi-derada de menor qualidade, foram insatisfatórias.

Os baixos preços da safra de 2012 foram bem recebidos pelos importadores da Ásia.

Durante a campanha de 2009, alardeada pela crítica como "a safra do século", os compradores asiáticos representaram cerca de 30% dos 110 milhões de libras (US$ 168 milhões) do total de vendas "en primeur" da Berry Bros., a maior firma do setor que negocia com futuros de vinho. No ano passado, as vendas na Ásia representaram apenas 3% dos 37 milhões de libras que a Berry Bros. vendeu em vinhos "en primeur".

Os clientes se afastaram do mercado de futuros depois da queda no preço dos vinhos de 2009, que estão mais baratos agora do que quando chegaram ao mercado, há três anos.

Jo Purcell, diretora administrativa da distribuidora de vinhos Farr Vintners, de Hong Kong, costuma ir a Bordeaux para visitar vinícolas e produtores e provar os vinhos, para recomendar aos clientes seus favoritos do ano. Este ano, a empresa nem a enviou para a França. "É uma forma discreta de lhes dizer que estamos achando difícil vender na Ásia", disse ela.



Veículo: Valor Econômico


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