SABMiller vai expandir produção de cerveja de mandioca

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A SABMiller, segunda maior cervejaria do mundo, em volume vendido, quer expandir a produção de sua cerveja de mandioca para mais países na África, atraindo consumidores de menor renda.

A companhia britânica, que faturou US$ 34,4 bilhões no ano passado, tem presença forte nos mercados emergentes. E foi a primeira a lançar no mundo a cerveja de mandioca - ou cassava, como é chamada na África - em escala comercial.

No Brasil, a Cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto (SP), também produz cerveja de mandioca desde 2007. Batizada de Colorado Cauim, a bebida tem teor alcoólico de 4 %. A garrafa de 600 ml custa entre R$ 12,50 e R$ 20,70 em varejistas online no Brasil.

Em 2011, a subsidiária da SABMiller em Moçambique iniciou a produção da marca Impala. Este ano, foi a vez do lançamento em Gana com a marca Eagle. "Esse é um produto que poderá ser muito grande, e concorrentes estão interessados em fazer o mesmo", disse ao Valor o diretor de operações da companhia na África e na Ásia, Hloni Mtsela, em meio a uma degustação da bebida num evento recente na sede da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A mandioca é uma das colheitas mais propagadas na África, mas continua a ser vista como produto de subsistência ou de emergência, quase sem desenvolvimento comercial. Em Gana, estima-se que o excesso de produção chega a 40% por ano, e falta oportunidade para os agricultores venderem o produto. A mandioca começa a sofrer degradação 24 horas depois de ter sido colhida. A cervejaria britânica resolveu o problema com a tecnologia desenvolvida pela Dutch Agricultural Development & Trading Company (Dadtco). Essa empresa holandesa, que mistura empreendedorismo e atividade social, elaborou uma máquina móvel que inicia a industrialização da mandioca na terra mesmo do agricultor, permitindo que ela seja estocada por semanas.

"Queríamos fazer uma cerveja com produto local para substituir o malte importado caro, e está dando certo", diz Stuart Eke, diretor da SABMiller em Londres.

Pequenos produtores têm a garantia de compra do produto, a cervejaria a garantia do fornecimento e o governo recolhe mais imposto. A produção mistura 70% de mandioca com 30% de malte importado.

Além de reduzir a fatura com o malte, a cervejaria obtém redução de imposto em Gana, por exemplo. É que a cerveja normalmente é submetida a taxa de 47% se tiver menos de 30% de conteúdo local. Para a cerveja com mais ingrediente da região, como a Eagle Lager, a taxa baixa para 10%. Com isso, a cerveja de mandioca custa 30% a menos do que as marcas tradicionais. SABMiller diz acreditar que isso poderá reduzir o consumo de bebidas caseiras, feitas sem segurança - um costume ainda forte em boa parte do continente.

O gosto da bebida é agradável. Num fim de tarde em Genebra, a SABMiller apresentou a cerveja num evento na OMC, paralelo ao grande encontro anual sobre ajuda ao desenvolvimento. A companhia mostrou como trabalha com pequenos agricultores para garantir a produção estável de dezenas de milhares de toneladas de mandioca por ano, destinada a essa cerveja pouco convencional.

Depois do sucesso em Moçambique, trabalhando com 1.500 agricultores que garantem a produção de 40 mil toneladas, a SABMiller expandiu o negócio este ano para Gana com quase 2 mil agricultores no primeiro ano.

A fatia de mercado da cerveja de mandioca ainda é muito pequena, em pouco mais de um ano de seu lançamento, "mas está em alta exponencial", segundo Mtsela, sem dar cifras para não estimular concorrentes, segundo ele. O plano é de continuar expandindo a produção em mais países, assim como procurar outros tipos de cerveja "não convencional".

Matsela exemplifica que, em 2000, a companhia lançou em Uganda uma cerveja de sorgo, para aproveitar a forte produção local e mais barata.

Na Europa, a existência mesmo da cerveja de mandioca parece surpreender. "Francamente, não tenho a menor ideia das oportunidades de expansão dessa bebida", diz Marco Gulpers, analista do setor no banco ING.

SABMiller é a segunda maior cervejaria do mundo, só superada pela Anheuser-Busch InBev, e 75% do faturamento vem de países em desenvolvimento. Na China, o grande mercado ambicionado por todo mundo, controla 50% da cerveja mais popular do país, a Snow. E é na China que espera obter 19% de seus lucros por volta de 2020, comparado a 2% atualmente.



Veículo: Valor Econômico


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