O governo federal decidiu adiar o aumento da carga tributária sobre as bebidas frias - cerveja e refrigerante -, previsto para outubro, para "algum momento em 2014", disse ontem o secretário adjunto da Receita Federal, Luiz Fernando Teixeira Nunes.
O novo aumento, o segundo deste ano (o primeiro foi em abril), seria de cerca de 2%, incluindo IPI, Cofins e PIS. A sua postergação beneficia cervejarias como Ambev, Brasil Kirin, Heineken e Petrópolis , que estão pressionadas pela queda nos volumes de vendas e pela alta dos custos atrelados ao dólar, principalmente com matérias-primas.
A produção de cerveja caiu 1,8% nos primeiros oito meses deste ano, em relação a igual período de 2012, segundo o Sicobe, sistema da Receita Federal.
Fábio Marchiori, diretor financeiro da Brasil Kirin, dona da Nova Schin, disse que a decisão surpreendeu. "Estávamos preocupados, teríamos que fazer um repasse para o consumidor".
Segundo Marchiori, a Kirin ainda não tinha aumentado seus preços para evitar desgaste na relação com os clientes, em caso de ter que voltar atrás. Sem elevação dos impostos e com o dólar numa posicão "mais confortável", a Kirin não precisará revisar preços neste ano.
Na semana passada, o Bank of America Merrill Lynch (BofA) disse em relatório que a Ambev, líder com quase 70% do mercado de cervejas, passou a reajustar seus preços entre 10% e 12% em agosto. A conclusão, tirada pelo banco após um levantamento com 30 varejistas em São Paulo, era de que a empresa estava se antecipando à alta dos impostos em outubro.
A Ambev não comenta o relatório do BofA. Diz apenas que sua "política em relação a preços continua a mesma: reajuste em linha com a inflação e repasse de impostos" e que "como não haverá novo aumento de tributos, não faz sentido falar em repasse".
Antes de qualquer comunicado oficial do governo, das empresas ou das grandes associações, parte do mercado financeiro já estava sabendo da postergação tributária. Na manhã de ontem, BTG e Citi enviaram relatórios a seus clientes contando sobre o adiamento. Um dos analistas disse ao Valor que a informação foi divulgada, na sexta-feira, em um comunicado da Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afrebras), que reúne 150 médios e pequenos produtores de refrigerantes.
Na quinta-feira, o ministro Guido Mantega tinha se reunido com representantes do setor, em São Paulo. Na ocasião, a CervBrasil, que representa as grandes fabricantes de cerveja, negou ao Valor que questões tributárias estivessem na pauta do encontro. Ontem, não havia informações no Diário Oficial da União sobre o tema, mas o Citi e o BTG dizem que o aumento ficou para abril.
Para o Citi, a postergação pode estimular as vendas, mas manteve recomendação "neutra" para ações da Ambev. O Citi diz que 2013 está sendo o ano mais difícil para o setor de bebidas, nas últimas duas décadas. Para o BTG, o adiamento melhora as perspectivas para preços líquidos e expansão de volumes "A indústria da cerveja tem conseguido melhorar o seu diálogo com o governo, o que reduz o potencial de surpresas negativas no futuro". BTG também tem recomendação "neutra" para a Ambev.
Veículo: Valor Econômico