Taxas mais altas para a bebida e também para refrescos e energéticos servirá para bancar déficit das empresas de energia
A mordida do governo passará a ser maior a cada gole. Com o caixa em um nível tão baixo quanto os reservatórios das usinas e sedento por recursos para socorrer o setor elétrico, o Ministério da Fazenda confirmou ontem o aumento da carga tributária para cervejas, refrescos, isotônicos e energéticos, em tentativa de arrecadar cerca de R$ 200 milhões até o final do ano.
O impacto na cerveja, que, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), já chegava a ter 54,8% do preço final formado por impostos, é o que mais desperta a curiosidade. Com o decreto, a base de cálculo do imposto para a bebida em garrafa de vidro retornável, por exemplo, subirá de 38,3% do valor final do produto para 39,8%, alta de 3,9% ou 1,5 ponto percentual. O governo avalia que o impacto para o consumidor seria de 0,4% na média, mas o presidente executivo do IBPT, João Olenike, aposta em alta maior.
– Muitas vezes o varejo se aproveita da situação e acaba repassando muito mais do que realmente aumentou.
Entidade que reúne as quatro maiores fabricantes do país, a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja transbordou inconformidade e em nota avisou que “haverá dificuldade para as cervejarias absorverem este aumento dadas as fortes pressões de custos incidentes sobre o setor”.
Proximidade da Copa pode estimular repasse
A aproximação da Copa do Mundo, por outro lado, pode elevar a procura e facilitar para as indústrias o repasse, avalia Adalberto Viviani, presidente da consultoria Concept, especializada em alimentos e bebidas.
– Copa do Mundo é um mês de verão em meio ao inverno – define.
Para o especialista, as indústrias que vendem grandes volumes já enxugaram gastos ano passado devido a aumentos de custos de produção associados à queda de consumo e dificilmente poderão sorver a alta no PIS/Cofins e IPI.
Projetar o quanto subirá para o consumidor, no entanto, é prematuro, avalia Viviani. A Agas estima que, nesta época do ano, os supermercados têm estoques para até 15 dias. Caso a indústria confirme o reajuste, o repasse no varejo chegaria junto com as novas remessas.
Assim como os cigarros, as bebidas alcoólicas são um alvo recorrente quando há necessidade de aumentar a arrecadação. A Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil) reclama que, nos últimos dois anos, a carga tributária de bebidas frias subiu 20%, oito pontos percentuais acima da inflação do período.
Embora o governo negue que a elevação de tributos tenha relação com a crise energética, mês passado admitiu que os recursos para o socorro de R$ 12 bi às empresas do setor também sairiam de aumento de impostos e na conta de luz. As tarifas de energia, porém, subirão apenas em 2015. Para quem gosta de cerveja, a má notícia é que pode vir novo aumento em outubro e partir de 2015 também ficará mais caro deixar a bebida no ponto.
R$ 200 milhões é a expectativa de arrecadação com o aumento da carga tributária 0,4% é o impacto no preço final ao consumidor estimado pelo governo R$ 12 bilhões é a estimativa da ajuda que o governo terá de dar ao setor de energia.
Da usina à bebida
Cerveja vai ficar mais cara – e deixá-la gelada também
1 Em janeiro de 2013, o governo federal anunciou a redução de até 18% nas tarifas de energia residenciais. Para indústria, a redução chegava a 32%.
2 Um ano depois, porém, o baixo nível das hidrelétricas obrigou o governo a acionar todas as usinas térmicas, que geram uma energia mais cara.
3 O desequilíbrio levou o Palácio do Planalto lançar um plano de R$ 12 bilhões de socorro do setor elétrico. Parte será pago pelo consumidor com o aumento na conta de luz a partir de 2015.
4 Para ajudar a fechar as contas do governo, ontem foi a vez de anunciar aumento da carga tributária para cervejas, isotônicos, energéticos e refrescos, na tentativa de arrecadar mais R$ 200 milhões até o final do ano.
Veículo: Diário Catarinense