Após oferta fracassada pela Heineken, SABMiller poderá se tornar alvo da Inbev,dizem analistas
Negócio avaliado em US$ 122 bilhões seria o maior no setor de cervejas
O grupo belga Anheuser-Busch InBev, maior cervejaria do mundo e holding da brasileira Ambev, está negociando com bancos o financiamento para o que poderá se tornar um acordo de US$ 122 bilhões para comprar a rival e segunda no ranking global, a britânica SABMiller, revelou uma fonte ouvida pelo “Wall Street Journal” nesta segunda-feira. De acordo com a fonte, ainda não há uma negociação direta entre as duas maiores cervejarias do mundo. A Inbev estaria estruturando formas de financiar a operação antes de fazer uma abordagem formal.
A notícia vem na esteira da rejeição no domingo pelos acionistas da holandesa Heineken de uma oferta de aquisição apresentada pela SABMiller. Embora a fonte do “Journal” tenha afirmado que a oferta pela Heineken não teria sido uma estratégia defensiva contra a Imbev, pessoas ouvidas pela Bloomberg, que participaram da iniciativa, afirmam justamente o contrário: a aquisição da holandesa pela britânica visava a blindar esta última contra uma oferta do grupo belga.
Em 2013, a Inbev possuía uma fatia de cerca de 20% do mercado global de cerveja, de acordo com o serviço de dados Euromonitor. Na sequência, apareciam SABMiller, com 9,6%, e Heineken, com 9,3%.
SEM BLINDAGEM
Segundo a fonte do “Journal”, uma nova proposta de aquisição da Heineken pela SABMiller não está descartada, embora as opções para isso tenham se tornado mais restritas. No entanto, para analistas, a rejeição agora deixa o grupo britânico mais vulnerável ao apetite da líder do setor. Segundo fontes ouvidas pela Bloomberg, “a bola estaria agora no campo da gigante belga”, para uma aquisição há muito especulada pelo mercado.
“A rejeição tão pública da oferta da SABMiller deixa a Inbev numa posição ainda mais fortalecida, se ela optar por avançar sobre a Miller“, escreveu em uma nota o analista Eddy Hargreaves, da Canaccord Genuity. “Os acionistas da SABMiller podem estar ainda mais sensíveis agora a uma proposta de aquisição.”
Karen Couck, porta-voz da Inbev, e Richard Farnsworth, da SABMiller, não quiseram comentar o assunto. As ações da Miller chegaram a subir 13% em Londres hoje, em meio a especulações de uma proposta da Inbev pela número 2 do setor. Com isso, o valor de mercado da Miller avançou para US$ 99 bilhões, uma valorização que tornaria o acordo o maior da história do setor de cerveja.
ACORDO COMPLEXO
Embora a SABMiller ainda possa buscar outros parceiros, tais como a cervejaria dinamarquesa Carlsberg, “o fato de a diretoria da SABMiller se mostrar tão séria sobre a necessidade de se defender alimenta a especulação de que a Inbev fará uma oferta”, escreveu em uma nota Jonathan Fyfe, analista da Mirabaud Securities.
A Inbev, com sede em Leuven, na Bélgica, investiu perto de US$ 100 bilhões nos últimos dez anos para adquirir cervejarias, da Corona à Budweiser. Comprar a SABMiller criaria um gigante global de cerveja, fundindo a força da Inbev em Estados Unidos, México e Brasil com a presença da SABMiller em África, China e Austrália.
A proposta seria, no entanto, bastante complexa, dizem analistas, muito possivelmente exigindo desinvestimentos das joint-ventures da SABMiller nos Estados Unidos e China para aplacar o rigor das autoridades reguladoras. Além disso, a Inbev corre o risco de ter sua nota de crédito reduzida se buscar a aquisição da rival, informou a agência de rating Fitch no último dia 9. Mas a própria agência admitiu que “não existem desafios insuperáveis” para o acordo.
ACORDOS PARALELOS
O diretor-executivo da SABMiller, Alan Clark, disse à Bloomberg News em janeiro que há argumentos para uma fusão, embora certamente isso exigiria a venda de alguns ativos nos Estados Unidos, sede da joint-venture MillerCoors, por determinação dos reguladores.
Um sinal de que uma proposta pode estar sendo costurada aparecerá caso a Inbev rejeite a renovação de seu acordo com a engarrafadora de refrigerantes PepsiCo na América Latina, que é similar ao que a SABMiller tem com a Coca-Coal na África. A Inbev terá que se manifestar sobre isso no mais tardar até o próximo ano, caso não queira renovar o acordo para além de 2017.
— Se houver mesmo um interesse pela SABMiller, então a Inbev muito provavelmente teria que notificar (o fim da parceria) à PepsiCo num futuro próximo — disse Hargreaves, da Canaccord.
O acordo com a Coca-Cola é o mais vantajoso dos dois arranjos, uma vez que está localizado em um mercado menos desenvolvido (e portanto com maior potencial de expansão), segundo Giulio Lombardi, da Fitch.
‘NO JOGO’
Outro indício que os analistas estão observando é o balanço financeiro da Inbev. A relação entre a dívida líquida e os ganhos antes de juros, impostos, depreciação e amortizações, ou Ebitda, recuou para cerca de duas vezes, um nível que torna uma proposta de aquisição “viável”, de acordo com Hargreaves. Esta relação poderá se expandir para até 7,2 vezes se uma proposta for financiada inteiramente por dívida, disse a Fitch, embora um fluxo de caixa combinado das duas entidades poderá reduzir essa relação para 3,3 vezes em dois anos.
Uma proposta com algum componente de capital próprio seria mais interessante para os dois maiores acionistas da SABMiller, Altria Group e a familia Santo Domingo, da Colômbia, segundo analistas da Morningstar.
Seja como for, a SABMiller está agora “no jogo”, disse Wyn Ellis, analista da Numis Securities.
Veículo: O Globo - RJ