De acordo com a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), o segmento representa menos de 1% do mercado de cervejas. Apesar do potencial, variação cambial e impostos dificultam negócios
A mudança no perfil do consumidor, que está mais exigente e busca produtos com maior valor agregado, tem impulsionado as pequenas e microcervejarias. O movimento vem sustentando a produção nesse segmento, na contramão das grandes empresas.
Nos últimos doze meses as vendas de cervejas especiais cresceram cerca de 16%, segundo o coordenador do curso de Administração de Negócios da Cerveja da Fundação Getulio Vargas (FGV), Tulio Rodrigues. Já o mercado geral deve terminar o ano com alta de apenas 3%, estimam especialistas.
"Nós obviamente não temos o melhor ano, com eleição e mudanças no dólar, mas [o segmento de] cerveja especial ainda cresce", avalia o coordenador comercial da Dama Bier, Paulo Bettiol. A fábrica produz 65 mil litros por mês, o que representa um avanço em relação a produção mensal no ano passado, que era, em média, de 45 mil litros de cerveja.
A Burgman, de Sorocaba (SP), também ampliou sua produção, com investimento em aumento da capacidade da fábrica, que passou de 90 mil para 120 mil litros por mês. "Nossa expectativa é atingir a marca mensal de 115 mil litros em dezembro", conta o cervejeiro Alexandre Sigolo. Segundo ele, as altas temperaturas, mesmo antes da estação mais quente, favoreceram a cervejaria paulista que não viu a produção diminuir nem durante o inverno.
A Bamberg, por sua vez, registrou uma desaceleração no ritmo de crescimento, que deve passar de 20% no ano passado para entre 5% e 10%. A taxa de expansão de 20% era mantida desde 2005. "Essa redução não é alarmante no momento", disse o dono da cervejaria, Alexandre Bazzo, ponderando que a empresa ainda mantém ritmo de crescimento. "Após a Copa do Mundo notamos uma redução nas vendas", conta Bazzo.
De acordo com o dono da Bamberg, a empresa deve produzir 900 mil litros neste ano, mas não descarta atingir a marca de 1 milhão de litros. O desempenho dependerá da demanda no Verão, que geralmente é 50% que no restante do ano, segundo o empresário.
Custos
De acordo com os profissionais ouvidos pelo DCI, um dos maiores problemas enfrentados pelas pequenas e microcervejarias está relacionado ao peso do dólar no custo da produção. "O nosso produto ficou entre 15% e 20% mais caro este ano com a alta nos custos devido ao câmbio", conta Sigolo da Burgman. A empresa, que importa 90% da sua matéria-prima, tem tentado segurar o repasse de preços para não prejudicar a estratégia de ganhar participação no mercado.
Já Alexandre Bazzo, da Bamberg, afirma que já cogitou importar diretamente os insumos, para poupar recursos, mas o volume produzido pela cervejaria atualmente não justifica o investimento exigido.
Paulo Bettiol, da Dama Bier, afirma que o aumento da matéria-prima, negociada em dólar, foi o que mais pesou no custo em 2014. "A produção local de malte não supre toda a demanda, então precisamos importar", explica Bettiol.
Competitividade
De acordo com a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), a participação das microcervejarias no mercado nacional não chega a 1%, o que revela o forte potencial de crescimento desse segmento. Mas o impacto da tributação dificulta a competitividade das empresas.
O professor da Escola Superior de Cerveja e Malte, Carlo Enrico Bressiani, observa que enquanto as cervejas comuns têm tributação média de 23%, as especiais podem atingir 56% e nas importadas variam entre 30% e 40%. "É preciso proteger o pequeno produtor."
A mudança na tributação também é defendida por Tulio Rodrigues, da FGV. Para ele, o governo deveria adotar uma postura diferente em relação as microcervejarias, garantindo ganho de competitividade.
Apesar das dificuldades enfrentadas, a expectativa do segmento é manter o nível de crescimento em 2015, mesmo com a manutenção do cenário macroeconômico adverso. "Mesmo se o cenário recessivo se mantiver, as cervejas especiais continuam crescendo", acredita o professor da FGV.
Veículo: DCI