As destilarias ampliaram a oferta de aguardente com suco de fruta e outros ingredientes, seguindo a tendência global do mercado de destilados de criar misturas para estimular o consumo. As companhias apostam principalmente em bebidas com teor alcoólico mais baixo, que agradam mais aos consumidores com menos de 30 anos de idade.
A estratégia parece estar dando resultado. O mercado de aguardente neste ano, segundo a Nielsen, cresce ano 5,9% em volume e 14% em receita, para R$ 6,6 bilhões, impulsionado pelo aumento da oferta de linhas segmentadas e pelas vendas em hipermercados e supermercados. O crescimento é mais acelerado do que em 2013, quando a expansão de receita foi de 4,9%, para R$ 5,8 bilhões, e o volume caiu 3,6%.
Tradicionalmente, o consumo de aguardente se dá principalmente em bares e restaurantes. Mas à medida que as empresas foram desenvolvendo novas misturas e produtos mais sofisticados, a demanda no varejo alimentar cresceu. "O comportamento de consumo está mudando. A cachaça está se tornando uma categoria gourmet de bebidas e, como consequência, os supermercados e hipermercados aumentam o espaço destinado à bebida nas gôndolas", disse Mayane Soares, analista de mercado da Nielsen.
Os principais fatores para a elevação da receita acima dos volumes, segundo Mayane, são o aumento da oferta de cachaças premium, que representam 20% do volume de vendas do segmento, e as vendas de bebidas feitas à base de aguardente.
A Indústria de Bebidas Pirassununga, fabricante das cachaças 21 e Cambraia e da vodca Balalaika, desenvolveu neste ano diferentes linhas de produtos com misturas de sabores e de menor teor alcoólico que as cachaças tradicionais, em, torno de 40%. Carolina de Tommaso, diretora de marketing da Pirassununga e membro da família fundadora, dá como exemplo uma linha de cachaça com mel e limão e teor alcoólico de 18%.
"O público com menos de 30 anos de idade prefere bebidas mais refrescantes e menos alcoólicas. A nova linha tem servido como produto de entrada para atrair esse público", disse Carolina.
A expectativa da executiva é que a nova bebida com cachaça tenha um desempenho semelhante às bebidas à base de vodca com sucos de frutas, que neste ano apresentam um aumento de vendas entre 15% e 20%, em relação ao ano passado. A companhia estima para este ano um crescimento baixo, de um dígito. Carolina disse que a Copa do Mundo no Brasil favoreceu o consumo de cervejas, mas dificultou a venda de outros destilados, incluindo a cachaça.
A consultoria Euromonitor International observou, em relatório, que o crescimento muito baixo do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e o aumento do IPI sobre a aguardente contribuíram para conter o consumo da bebida no Brasil - embora, em anos recentes, a expansão da renda familiar tenha contribuído para estimular as vendas de cachaças de mais caras.
A consultoria também ponderou que o setor sofre com a concorrência da vodca, que tem um consumo mais forte entre jovens (18 a 35 anos) e é a bebida preferia para misturas com energéticos ou polpas de frutas. A Euromonitor informou ainda que, no mercado brasileiro, as vendas de aguardente tradicional apresentam estabilidade, enquanto as linhas de mais alto valor agregado (cachaças premium e misturas) apresentam expansão.
Fernanda Paolone, gerente de marketing da Santa Dose, marca de cachaça adquirida em setembro pela Brown-Forman, disse que as vendas da sua bebida, feita à base de aguardente e mel, cresceram 40% neste ano. As vendas, segundo a executiva, se fortaleceram tanto em bares quanto em redes de hipermercados, como Pão de Açúcar, Carrefour e Extra. "A nova formula estimulou o consumo principalmente entre jovens e o público feminino", disse.
Essa demanda aquecida levou o empreendedor Leandro Dias a desenvolver uma cachaça com flocos de ouro comestíveis. Ele, dono da empresa Dias de Ouro, desenvolveu o produto em parceria com a Destilaria Vitória durante um ano e colocou a marca Cachaça Middas no mercado há cinco meses.
De acordo com o executivo, os flocos de ouro, de 23 quilates, são importados da Alemanha e, quando misturados à aguardente, flutuam na bebida durante 15 minutos. "Decidi deixar o ouro fora da garrafa para que o consumidor tivesse a sensação de tocar o ouro e houvesse mais interação com o produto", disse Dias.
A meta de Dias é vender 18 mil garrafas neste ano e gerar uma receita média de R$ 225 mil por mês. Dias afirmou que sua empresa já exportou amostras para Japão, Portugal e Estados Unidos e a meta é transformar a bebida em uma cachaça tipo exportação.
O executivo afirmou ainda que, devido ao sucesso de vendas no país, a empresa deve colocar no mercado até o início de 2015 uma cachaça com ouro envelhecida em tonel de carvalho francês, uma aguardente com mel e limão e uma bebida com cachaça, licor de cana-de-açúcar, mel e limão.
Entre as grandes fabricantes, a Sagatiba, do grupo Campari, optou por reforçar a linha de produtos mais sofisticados, incluindo a marca Preciosa, que é vendida a R$ 450. A companhia também informou que reforçou neste ano as vendas em supermercados, hipermercados e delicatessens.
A pernambucana Pitú também reforçou sua oferta de produtos na categoria de mais alto valor agregado, com o lançamento da marca Vitoriosa. "A Copa do Mundo teve o efeito positivo de dar visibilidade às marcas tipo exportação", disse Alexandre Ferrer, diretor comercial e de marketing da Pitú.
De acordo com Ferrer, houve uma procura maior de consultas para exportação, mas a expectativa é que o aumento das vendas externas só se realize em 2015. Para este ano, a previsão da Pitú é manter o volume de exportações em 2 milhões de litros. A companhia produz por ano em torno de 95 milhões de litros de aguardente.
No segmento de misturas, a companhia manteve as linhas Pitú com limão, que possui 20% de teor alcoólico, e a Pitú Cola, que compete no segmento de bebidas "ice", com teor alcoólico de 5%. "Esses segmentos têm se mantido estáveis, não vejo sinais de aquecimento por enquanto", afirmou o diretor comercial.
Veículo: Valor Econômico