São Paulo - A indústria de refrigerantes está conseguindo reduzir custos de produção com a liberação da mistura de açúcar e edulcorantes. Mas a redução da oferta de sucos e óleos cítricos pode atrapalhar os planos da cadeia de bebidas.
"As fabricantes vêm buscando reduzir o teor de açúcar com a substituição por adoçantes (os edulcorantes) há alguns anos, porque isso está relacionado ao tema da saudabilidade. Mas, além disso, elas têm reduzido o custo para adoçar os refrigerantes", diz Flávio Moribe, diretor comercial da Tovani Benzaquen, que fornece os ingrediente para bebidas.
De acordo com o executivo, a substituição por edulcorantes permite às indústrias reduzir de 30% a 60% os custos. O movimento ganhou mais força após a liberação da mistura de açúcar com edulcorantes em bebidas prontas a partir do decreto 8.592 de dezembro de 2015.
Além dos adoçantes serem mais baratos, o açúcar deve ficar mais caro. As projeções para a commodity indicam déficit global do produto.
"Cresceu bastante a demanda dos nossos clientes por edulcorantes e, hoje, 80% dos fabricantes de refrigerantes mudaram para o modelo híbrido e quem não migrou, deve fazer isso até o fim de 2017", contou o gerente de contas da fornecedora de aromas e sucos concentrados Loop, Gabriel Piacentini.
Mesmo com a migração para composições com menor teor de açúcar, Piacentini afirmou que a indústria pode enfrentar problemas com os custos dos óleos e sucos cítricos, outros insumos importantes.
"Nos últimos anos, os custos com isso aumentaram e a indústria de sucos muitas vezes acaba privilegiando a exportação", lembrou o executivo.
A aromista sênior da International Flavors & Frangances (IFF), Mariana Sales, também destacou a menor oferta de óleos cítricos no mercado global. "Cada vez mais o consumidor final demanda produtos com refrescância e os cítricos são importantes nisso. Mas sabemos que as plantações têm sofrido com doenças, o que resulta na elevação do custo global com os óleos", comentou.
Segundo o sócio da consultoria Markestrat, José Carlos de Lima Júnior, a citricultura tem sofrido com pragas, principalmente nos Estados Unidos e Brasil, principais produtores de laranja. Com a redução da oferta, o custo tem crescido.
"Os produtores brasileiros sofreram com a queda do preço do suco em anos recentes, o que levou muito deles a abandonarem a citricultura, reduzindo a oferta", disse ele.
Valor agregado
Mesmo com a categoria de refrigerantes encolhendo cada vez mais em volume e a pressão constante sobre o custo dos insumos, a expectativa da cadeia de fornecedores é que os industriais consigam ao menos ampliar as margens com itens de maior valor agregado.
"Temos demanda de fabricantes para desenvolver refrigerantes com até 60% de suco de fruta, quando hoje o percentual é de 5%. Mas isso é para um nicho premium", contou Piacentini, da Loop. A fornecedora está reforçando a divulgação de novos sabores e texturas para refrigerantes.
De acordo com Piacentini, a categoria continuará relevante para o mercado, mas o destaque deve ficar com dois nichos: os produtos de maior valor agregado e o outro extremo, com rótulos de baixo valor.
Para o diretor de contas da consultoria Kantar Wordpanel, Thiago Torelli, os refrigerantes de menor preço cresceram muito nos últimos anos, impulsionados, principalmente, pelo investimento das fabricantes em marketing, como é o caso da Itubaina. Já a gigante Coca-Cola, a primeira a usar açúcar e edulcorantes no Brasil na bebida com Stevia, perdeu 2,5 pontos de penetração nos lares brasileiros, citou Torelli.
"O consumidor brasileiro está mais racional e avaliando muito o custo-benefício das marcas, o que favorece produtos de menor preço", concluiu.
Jéssica Kruckenfellner
Fonte: DCI