Setor de refrigerante corta açúcar, mas esbarra em custos com outros insumos

Leia em 3min 10s

 


São Paulo - A indústria de refrigerantes está conseguindo reduzir custos de produção com a liberação da mistura de açúcar e edulcorantes. Mas a redução da oferta de sucos e óleos cítricos pode atrapalhar os planos da cadeia de bebidas.
"As fabricantes vêm buscando reduzir o teor de açúcar com a substituição por adoçantes (os edulcorantes) há alguns anos, porque isso está relacionado ao tema da saudabilidade. Mas, além disso, elas têm reduzido o custo para adoçar os refrigerantes", diz Flávio Moribe, diretor comercial da Tovani Benzaquen, que fornece os ingrediente para bebidas.


De acordo com o executivo, a substituição por edulcorantes permite às indústrias reduzir de 30% a 60% os custos. O movimento ganhou mais força após a liberação da mistura de açúcar com edulcorantes em bebidas prontas a partir do decreto 8.592 de dezembro de 2015.
Além dos adoçantes serem mais baratos, o açúcar deve ficar mais caro. As projeções para a commodity indicam déficit global do produto.


"Cresceu bastante a demanda dos nossos clientes por edulcorantes e, hoje, 80% dos fabricantes de refrigerantes mudaram para o modelo híbrido e quem não migrou, deve fazer isso até o fim de 2017", contou o gerente de contas da fornecedora de aromas e sucos concentrados Loop, Gabriel Piacentini.
Mesmo com a migração para composições com menor teor de açúcar, Piacentini afirmou que a indústria pode enfrentar problemas com os custos dos óleos e sucos cítricos, outros insumos importantes.


"Nos últimos anos, os custos com isso aumentaram e a indústria de sucos muitas vezes acaba privilegiando a exportação", lembrou o executivo.
A aromista sênior da International Flavors & Frangances (IFF), Mariana Sales, também destacou a menor oferta de óleos cítricos no mercado global. "Cada vez mais o consumidor final demanda produtos com refrescância e os cítricos são importantes nisso. Mas sabemos que as plantações têm sofrido com doenças, o que resulta na elevação do custo global com os óleos", comentou.


Segundo o sócio da consultoria Markestrat, José Carlos de Lima Júnior, a citricultura tem sofrido com pragas, principalmente nos Estados Unidos e Brasil, principais produtores de laranja. Com a redução da oferta, o custo tem crescido.
"Os produtores brasileiros sofreram com a queda do preço do suco em anos recentes, o que levou muito deles a abandonarem a citricultura, reduzindo a oferta", disse ele.


Valor agregado
Mesmo com a categoria de refrigerantes encolhendo cada vez mais em volume e a pressão constante sobre o custo dos insumos, a expectativa da cadeia de fornecedores é que os industriais consigam ao menos ampliar as margens com itens de maior valor agregado.


"Temos demanda de fabricantes para desenvolver refrigerantes com até 60% de suco de fruta, quando hoje o percentual é de 5%. Mas isso é para um nicho premium", contou Piacentini, da Loop. A fornecedora está reforçando a divulgação de novos sabores e texturas para refrigerantes.
De acordo com Piacentini, a categoria continuará relevante para o mercado, mas o destaque deve ficar com dois nichos: os produtos de maior valor agregado e o outro extremo, com rótulos de baixo valor.


Para o diretor de contas da consultoria Kantar Wordpanel, Thiago Torelli, os refrigerantes de menor preço cresceram muito nos últimos anos, impulsionados, principalmente, pelo investimento das fabricantes em marketing, como é o caso da Itubaina. Já a gigante Coca-Cola, a primeira a usar açúcar e edulcorantes no Brasil na bebida com Stevia, perdeu 2,5 pontos de penetração nos lares brasileiros, citou Torelli.
"O consumidor brasileiro está mais racional e avaliando muito o custo-benefício das marcas, o que favorece produtos de menor preço", concluiu.

Jéssica Kruckenfellner

 

 

Fonte: DCI

 


Veja também

Setor de refrigerante tem entraves

São Paulo - A regulação do mercado de bebidas não-alcóolicas pela Agência Nacio...

Veja mais
Ano começa com alta nas vendas de cerveja

  O mercado brasileiro de cerveja deu alguns sinais de recuperação no primeiro bimestre de 2017, emb...

Veja mais
Concorrentes da Heineken vão ao Cade

A Ambev e o Grupo Petrópopara serem incluídos como terceiros interessados na avaliação do pr...

Veja mais
Exportação de suco recua 16% no acumulado da safra 2016/17

  As exportações de suco de laranja do Brasil acumulam queda acentuada nos oito primeiros meses do a...

Veja mais
Mercado de cervejas encolhe e eleva pressão sobre as gigantes do setor

As gigantes do setor de bebidas, que cresceram embaladas pela expansão do consumo doméstico, começa...

Veja mais
‘Brasil será maior mercado da Heineken’

A aquisição dos ativos da Kirin – dona da marca Schin – fará do Brasil a maior opera&cc...

Veja mais
Heineken, nova dona da Schin, tem queda nas vendas no Brasil em 2016

A holandesa Heineken, que anunciou esta semana a compra da Brasil Kirin, por € 664 milhões (R$ 2,2 bilh&otil...

Veja mais
Heineken compra dona das cervejas Schin e Devassa

A dona das cervejas Schin, Devassa e Baden Baden vai trocar de mãos. O grupo japonês de bebidas Kirin Holdi...

Veja mais
Pequenas fábricas de bebidas ficam fora da briga por preços

As pequenas fabricantes de bebidas sinalizam que não entrarão na briga por preço com as gigantes do...

Veja mais