Apesar da projeção de leve expansão do mercado de cervejas para este ano, o setor não deve retornar ao patamar recorde de 2014 pelos próximos dois anos, após a indústria local amargar o impacto da crise econômica. No entanto, as cervejarias artesanais ganham espaço entre os consumidores, ávidos por novos produtos e com um pouquinho mais de dinheiro no bolso.
Em 2017, o volume de produção se manteve próximo ao ano anterior, quando alcançou 13,3 bilhões de litros, segundo a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil). A entidade representa a Ambev, o grupo Petrópolis e a Heineken (que recentemente adquiriu a Brasil Kirin). Juntas, estas empresas respondem por cerca de 96% do mercado nacional. “Em 2017, ficou mais forte a oposição entre a disponibilidade de renda para consumo e o volume de produção de cerveja”, afirma o diretor-executivo da associação, Paulo de Tarso Petroni.
Na segunda metade de 2017, porém, ele afirma que a economia começou a dar sinais positivos como a queda da inflação, das taxas de juros e uma leve redução do desemprego. “Por isso, apostamos em uma retomada do poder de compra para este ano”, diz o executivo.
Segundo Petroni, os últimos dois meses trouxeram de volta o otimismo às cervejarias brasileiras e o executivo projeta que o crescimento do setor para 2018 deve acompanhar a alta estimada para o PIB brasileiro, de 2,89%, de acordo com o boletim Focus de fevereiro.
Os resultados alcançados por duas das gigantes do setor corroboram com a perspectiva de Petroni – de crescimento – ainda que a despeito da crise. Em 2017, a Heineken anunciou a aquisição da Brasil Kirin por US$ 704 milhões e passou a ser a segunda maior do País. A holding reportou lucro líquido global de 1,94 bilhão de euros em 2017, 25,6% maior do que o resultado obtido em 2016. Já a Ambev apresentou crescimento de 5,6% na receita líquida no ano passado, para R$ 26,35 bilhões, ainda que o volume de produção tenha crescido somente 0,7% ante 2016.
Ainda que essa projeção se confirme, o crescimento não será suficiente para que as empresas retomem os volumes de produção pré-crise, quando a indústria atingiu 14 bilhões de litros. “Esperamos para 2018 um volume um pouco maior de produção se as empresas mantiverem as mesmas estratégias de preço do ano passado. Mas ainda levaremos um par de anos para retomar os volumes de 2014”, estima.
Nos próximos cinco anos, a consultoria Mintel estima que o setor de cervejas no Brasil movimentará R$ 101 bilhões, a um ritmo de crescimento baixo, porém estável. O dado mais recente do mercado indica R$ 70 bilhões em faturamento em 2014.
Artesanais
Neste cenário, as cervejarias que se dedicam às bebidas artesanais ou especiais encontram espaço para crescer, amparadas no interesse do consumidor em produtos diferenciados. Estas empresas representam entre 2,5% e 3% do faturamento do mercado. Conforme levantamento do Ministério da Agricultura (Mapa), o total de cervejarias instaladas no Brasil chegou a 679 no ano passado, alta de 37,7% ante 2016, com 8,9 mil produtos registrados, uma média de 13 para cada marca.
“Acredito que esse número vai continuar a crescer neste ritmo em 2018, sobretudo em regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste”, estima o presidente da Associação Brasileira de Microcervejarias e Empresas do Setor Cervejeiro (Abracerva), Carlo Giovanni Lapolli.
Ele aposta em dois fatores para esse crescimento: a popularização dos brewpubs – cervejarias que vendem diretamente ao consumidor final – e a possibilidade de as microcervejarias aderirem ao Simples Nacional a partir deste ano. Para se enquadrar nessa categoria, as empresas precisam ter faturamento de até R$ 4,8 milhões. “Para cervejarias, o limite é pouco, mas para os brewpubs é muito bom”, avalia Lapolli.
O avanço deste mercado chama a atenção também das grandes empresas, que têm adquirido cervejarias menores para ofertar produtos mais sofisticados. “Tanto grandes quanto pequenas fabricantes estão tentando atender a essa demanda do público em um cenário de população retomando o poder de consumo. É um movimento que amplia o mercado”, avalia Petroni, da CervBrasil.
A perspectiva de crescimento das cervejas artesanais têm atraído inclusive companhias que não atuam no ramo. A Casa Valduga, tradicional vinícola gaúcha, investiu R$ 6 milhões em uma unidade para a produção de cervejas especiais, a Cervejaria Leopoldina, em Garibaldi, na Serra Gaúcha, com capacidade de produção de 70 mil litros por mês, há um ano e meio. “Acredito que esta é uma tendência, tanto entre as vinícolas nacionais quanto as do exterior. A produção de vinho e de cerveja tem muito a contribuir uma com a outra”, afirma o gerente nacional da marca, Fernando Menezes Cruz.
Hoje, a cervejaria produz 40 mil litros por mês e registrou elevação no faturamento de 47% no ano passado. “Para este ano, esperamos um crescimento de 60%, com a entrada no mercado de novos produtos e aumento da popularidade da marca”, estima Cruz. A unidade aposta em tecnologias como o tratamento da água de acordo com o tipo de cerveja que será produzida e a expertise de maturação de bebidas em barris de carvalho para se posicionar como cervejaria premium.
Alheia à crise, a cervejaria Berggren, de Nova Odessa, em São Paulo, termina neste ano a ampliação de sua fábrica, com capacidade de produção de 1,2 milhão de litros por mês, com investimento de R$ 3 milhões – 80% financiados pelo BNDES.
Por enquanto, a unidade deve trabalhar com 320 mil litros por mês, segundo o diretor geral da empresa, Lucas Berggren. Em janeiro de 2016, quando foi inaugurada, a cervejaria produzia 120 mil litros mensais. “Começamos com 11 estilos de cerveja e 12 tanques. Com alguns produtos vendendo mais que outros, não foi possível manter a variedade de oferta, por isso optamos pela ampliação.” Com o investimento, a Berggren pretende triplicar o faturamento (que foi de R$ 750 mil em 2017) nos próximos 18 meses. As bebidas da marca são vendidas em cinco estados.
Fonte: DCI