A oferta de US$ 2,4 bilhões pelo grupo China Huiyuan Juice feita pela Coca-Cola ajudou a agitar o mercado de sucos no Brasil. A expectativa é de que nos próximos dias haja alguma aquisição de peso por aqui também. Mas por que esse setor passou a chamar tanta atenção? "O Brasil é o terceiro maior consumidor de refrigerantes", lembra Luís Eduardo Figueiredo, diretor comercial da Sucos Jandaia, de Fortaleza, no Ceará.
"A migração de refrigerantes para suco, por conta de um estilo de vida mais saudável, é certa e predominante. Por isso o Brasil tem um grande potencial nesse mercado, uma vez que aqui o consumo de sucos ainda é muito baixo." Segundo dados das indústrias, cada brasileiro toma de dois a dois e meio litros de suco de frutas por ano. Na Argentina, no México e no Peru, são seis litros anuais por pessoa. Na Europa, a média é de 24 litros. França e Alemanha chegam a 50. Já em refrigerantes, o brasileiro supera todas essas marcas: fica com 67 litros por pessoa ao ano.
Dentro desse mercado, a maioria das empresas cresce, em volume e em receita, na casa dos dois dígitos por ano. Só uma parece destoar: a Maguary, pertencente à americana Kraft Foods. A marca mineira lidera o setor de suco concentrado. Trata-se de um grande mercado, em volume, mas com menor rentabilidade do que o de sucos prontos.
O mercado de concentrados movimenta R$ 550 milhões e o de prontos, R$ 1,3 bilhão. Os concentrados têm 80% de presença nos lares brasileiros, enquanto prontos não chegam a 25%, o que evidencia o potencial de crescimento desse último. A Maguary, além disso, está parada há um bom tempo na linha de sucos prontos enquanto os concorrentes lançam novos sabores a todo momento (bebidas com soja, chá verde, chá branco, entre outros). A Maguary, com fábrica em Araguari (MG), sequer tem uma linha light, diet ou com menos açúcar.
Sua dona, a Kraft Foods, anunciou anteontem nos Estados Unidos que pretende focar seus negócios globalmente em cinco categorias (biscoitos, chocolates, bebidas em pó, café e queijo cremoso), em dez marcas (bolachas Oreo e Club Social, cafés Jacobs e Carte Noire, chocolates Milka, Cote d´Or, Toblerone e Lacta, nos sucos Tang e no queijo Philadelphia), e em dez mercados (China, Rússia, Brasil, Ásia, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha e Austrália.)
No Brasil, a empresa atua, entre outras, com as marcas Lacta, Tang, Clight, Maguary, Toblerone e Nabisco. Considerando-se o anúncio da matriz, Maguary não é prioridade. "Para dar mais vigor aos setores em que quer melhorar, a Kraft vai realizar aquisições e se desfazer dos que ela não considera estratégicos", diz Steven Ralston, analista da Zacks Investment Research, em Chicago, nos EUA. A Kraft afirmou ontem ao Valor que não confirma a venda da Maguary.
Executivos e donos de empresas de sucos ouvidos pelo Valor colocam a Maguary a outros negócios - como a divisão de sucos da Schincariol, a recém lançada Mais Vita, da Yoki, a cearense Dafruta, e a WOW!, da marca Sufresh - como alvo de aquisições. Todas, entretanto, negam qualquer negociação em andamento. Do outro lado - o dos compradores - são citadas a Nestlé, que anuncia uma aquisição na semana que vem e outra dentro de um mês, a própria Coca-Cola e a PepsiCo.
Veículo: Valor Econômico