Chegam ao Brasil produtos da vigorosa e crescente indústria da vinificação israelense: vinhos bem-feitos e respeitosos de sua origem
Tratando-se de Israel, a citação das escrituras é incontornável, pois alguns dos mais antigos registros em texto sobre vinhos vêm da Bíblia. Por exemplo, quando Noé plantou a vinha após o dilúvio e depois bebeu (um pouco demais, diga-se), cerca de 4 mil anos atrás. Ou o Livro do Deuteronômio, que designava a uva como um dos produtos abençoados. No entanto, nas mesmas terras bíblicas do Oriente Médio, quase desapareceu por completo a produção da bebida, pelos caprichos da história agitada do lugar, um hiato de mais de mil anos entre o fim do Império Romano e a atualidade.
A história do vinho israelense é, portanto, bem recente, com o uso de técnicas e variedades internacionais. Uma visita decisiva de técnicos da Universidade da Califórnia - Davis, que viram na região imensa possibilidade pelos distintos terroirs, foi o recomeço. Do norte, com altitudes de até 600 metros e alguma neve eventual, ao deserto de Negev, no sul, Israel tem uma paisagem muito propícia à cultura dos vinhedos. Em menos de quatro décadas apareceram 300 vinícolas produtivas, de garagistas a empresas de porte médio. O crítico Daniel Rogov publica, anualmente, um guia precioso dos vinhos do país e não há nada de exótico num vinho israelense - são vinhos bem-feitos e respeitosos de sua origem.
Olhando o mapa, é evidente a conexão geográfica da região a um fator decisivo para os vinhos do sul europeu: o Mediterrâneo. Todas as regiões de Israel são fortemente influenciadas por esse mar, tão significativo para os vinhos italianos, espanhóis e gregos. As características mais destacadas dos vinhos mediterrâneos estão lá: muita fruta madura, mineralidade, intensidade e uma elegância mais hedonista que os vinhos de climas menos generosos.
O privilegiado clima semidesértico (com noites frias e dias quentes e secos) permite uvas sadias e com bom equilíbrio. A exploração das altitudes compensou o calor e permitiu até o plantio de variedades complicadas como a Pinot Noir.
Alguns israelenses chegam ao País pela Vinhos de Israel (tel. 3494-3607. www.vinhosdeisrael.com.br), da empresária Anete Ring. Por enquanto, só 17 rótulos de três vinícolas. Vale conhecer um consistente Chardonnay da Amphorae Vineyard, com notável toque mineral dos solos vulcânicos da Alta Galiléia, e um festivo e delicado Sauvignon da Tishbi, sem a exuberância tropical dos similares fora da Europa e tampouco a reticência de um Sancerre - mas sim, um acordo entre os dois estilos e uma boa explicação para um lugar tão simbólico. Nem velho, nem novo: um velhíssimo mundo renovado.
Veículo: O Estado de S.Paulo