Aumenta impaciência dos fornecedores da Doux Frangosul no RS

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Dois meses depois que a Doux Frangosul apresentou uma proposta para colocar em dia até o fim de julho os pagamentos em atraso aos integrados no Rio Grande do Sul, os criadores de frangos e suínos vinculados à empresa enfrentam agora dificuldades no recebimento de ração para os animais. Os relatos sobre o problema têm se intensificado nos últimos dias e os atrasos variam de "horas a dias", disse o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), Elton Weber.

 

O dirigente deve reunir-se ainda nesta semana com o diretor-geral da Doux Frangosul, Aristides Vogt, para tratar do assunto e tentar antecipar a regularização dos pagamentos pelos animais entregues para abate. Em fevereiro, no encontro com 150 criadores na sede da Fetag-RS, Vogt já havia admitido que estavam ocorrendo problemas na distribuição do insumo, mas prometeu resolver a situação até 15 de março.

 

Em Brochier, a 95 quilômetros de Porto Alegre, os integrados estão recebendo a ração com dois ou até mais dias de atraso, disse a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade, Marlise Keller. Com isso, os criadores de frangos desligam a luz dos alojamentos à noite para que as aves não se alimentem durante o período e os produtores de suínos são obrigados a racionar a alimentação dos animais para estender a duração dos estoques.

 

"A situação está bem complicada", afirma Marlise, que calcula em mais de 20 o número de integrados da Doux no pequeno município de 5 mil habitantes. O presidente da Fetag-RS recebeu informações extra-oficiais de que o problema estaria ocorrendo devido a falhas nos equipamentos das fábricas de ração da empresa.

 

Procurada pelo Valor, a Doux informou em nota que o atraso será "liquidado" até o fim desta semana. "Neste momento, as equipes internas da companhia estão em contato com os produtores para resolver eventuais falhas na programação", afirmou a empresa, acrescentando que "não está vendendo nenhuma de suas unidades e mantém suas atividades dentro de absoluta normalidade".

 

Na reunião de fevereiro, o diretor-geral da Doux também havia se comprometido a reduzir os atrasos nos pagamentos aos integrados a partir da segunda quinzena de março, até eliminá-los no fim de julho. Esse foi o terceiro cronograma apresentado pela empresa para regularizar o fluxo de desembolsos, que começaram a ser feitos fora do prazo em fevereiro de 2009. Por enquanto, conforme Weber, essa parte do acordo vem sendo cumprida, mas a Fetag-RS insiste em antecipar a regularização dos débitos em 30 dias.

 

Ao mesmo tempo em que tenta resolver os problemas de pagamento e fornecimento de insumos aos integrados, a Doux publicou ontem o balanço referente ao exercício de 2009, com queda de 12,3% na receita bruta em comparação com 2008, para R$ 1,727 bilhão. As exportações recuaram 17,3% no período, para R$ 1,335 bilhão, enquanto as vendas no mercado interno cresceram 11,4%, para R$ 391,6 milhões.

 

Apesar da queda no faturamento, o endividamento financeiro líquido da empresa (excluídos adiantamentos de contratos de câmbio e pré-pagamentos de exportação) diminuiu 41,4% no período, para R$ 50,3 milhões. A empresa também fechou o ano com lucro líquido de R$ 83,2 milhões, revertendo um prejuízo de R$ 127,5 milhões em 2008, graças a ajustes decorrentes da adesão aos padrões internacionais de contabilidade (IFRS, na sigla em inglês).

 

Com isso, R$ 175,4 milhões em perdas com derivativos e R$ 24 milhões em descontos concedidos a cliente no exterior resultantes de operações assinadas mas não reconhecidas no balanço de 2008, tiveram que ser lançadas nas contas daquele exercício e não nas de 2009. Os ajustes tiveram impacto ainda sobre as provisões para imposto de renda e contribuição social referentes a 2008 e transformaram o lucro líquido daquele ano, originalmente reportado em R$ 14,1 milhões, no prejuízo de R$ 127,5 milhões.

 

Fusão dá origem a uma 'nova' União Brasileira de Avicultura

 

Foi aprovada ontem, em assembleia em São Paulo, a fusão entre a União Brasileira de Avicultura (UBA) e a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef). A entidade que surgiu da união vai se chamar Ubabef (União Brasileira de Avicultura).

 

Cada uma das entidades aprovou, em assembleias extraordinárias separadas, com quórum de 87%, a proposta de mudança de estatuto e da fusão. Depois, numa terceira reunião, foram aprovados o nome de Francisco Turra para a presidência-executiva da nova entidade e a criação dos conselhos deliberativo e consultivo e de 12 câmaras setoriais dentro da Ubabef para tratar, por exemplo, de mercados interno e externo, sanidade, genética e sustentabilidade.

 

Ricardo Santin será o diretor de mercados interno e externo da associação, Ariel Mendes, diretor técnico-científico e de produção, e José Perboyre, diretor administrativo e financeiro da entidade.

 

De acordo com Turra, que presidia a Abef, o objetivo, com a fusão é fortalecer o setor. "Explorando as sinergias, vamos aprimorar as medidas de estímulo à expansão da produção avícola, com qualidade e sanidade, e de ampliação da presença da carne de frango brasileira no comércio internacional", afirmou o ex-ministro.

 

A união já vinha sendo pensada há cerca de dois anos e a ideia é anterior ao movimento de concentração no setor de carne de frango, disse Turra. Nos últimos meses, as negociações entre os associados ganharam força.

 

Na pauta de prioridades da Ubabef está a abertura de novos mercados para o frango brasileiro, como Indonésia, Malásia, Paquistão, Angola, Índia, Nigéria e Senegal. O Brasil já exporta para 154 países. Turra disse que a entidade também deve reforçar o acompanhamento do mercado interno, com atenção para temas como fiscalização.

 

Antes da união, a Abef tinha 34 associados e a UBA, 65. Com a fusão, o número total caiu para 85 atualmente, já que alguns eram sócios das duas entidades. Mas, segundo Turra, esse número deve subir para "mais de 100" já que o novo estatuto permitirá a entrada como associado de fornecedores da avicultura e prestadores de serviço, por exemplo.

 

De acordo com a nova entidade, a avicultura brasileira movimentou em 2009 em torno de R$ 32,3 bilhões, considerando a carne de frango comercializada nos mercados doméstico e externo, ovos e os insumos utilizados na atividade.

 

Para este ano, a previsão da Ubabef é de uma produção de 11,5 milhões de toneladas de carne de frango no país, 5% mais do que em 2009, e exportações de 3,9 milhões de toneladas, alta de 4% a 5% sobre o ano passado. No primeiro trimestre deste ano, as exportações de frango somaram US$ 1,454 bilhão, alta de 20% sobre igual período de 2009. Em volume, o aumento foi de 0,38%, para 847,7 mil toneladas.

 

Veículo: Valor Econômico


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