Custos maiores na aquicultura global

Leia em 3min 10s

O preço da farinha de peixe, principal ração usada na criação de salmões e camarões, atingiu seu maior patamar histórico, depois de o terremoto que atingiu o Chile neste ano ter destruído fábricas de processamento no país sul-americano, segundo maior exportador mundial do produto.

 

O revés é agravado pela escassez de oferta que o segmento já enfrenta em consequência dos reflexos do fenômeno climático El Niño, que prejudicam a pesca no Peru, maior país exportador de farinha de peixe do mundo.

 

Esses problemas deverão chegar aos preços de pescados e outras carnes, já que a ração, além de ser usada para alimentar o mercado multibilionário da piscicultura, também é aproveitada na criação de suínos e frangos.

 

Os contratempos na produção de farinha de peixe chegam em meio ao crescimento de mais de 10% na produção mundial da aquicultura, puxada pelo forte expansão do segmento na China. De acordo com dados da FAO, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para agricultura e alimentação, a aquicultura responde atualmente por quase 40% do peixe para consumo humano. Em 1980, a participação era de apenas 6,5%.

 

A indústria da ração transforma peixes como arenques, sardinhas e anchovas em alimento para o consumo animal. A FAO, cuja sede fica em Roma, na Itália, estima que mais de 30% dos peixes pescados no mundo vêm sendo usados como ração ao longo dos últimos anos.

 

O valor referencial da farinha de peixe aumentou, na semana passada, para o recorde de US$ 1.937 por tonelada, quase 85% a mais do que há um ano, impulsionado pela forte demanda aliada aos problemas de oferta. A valorização é uma drástica reviravolta, já que a crise econômica havia reduzido a demanda pelo produto no início de 2008 e derrubado os preços para aproximadamente US$ 1 mil por tonelada no porto de Roterdã, na Holanda.

 

"A crise financeira mundial foi acompanhada por um importante declínio nos preços", disse José Sarmiento Madueño, presidente da associação de produtores peruanos de farinha de peixe. "No fim de 2008 e início de 2009, estávamos começando a nos recuperar. E, então, o terremoto empurrou os preços para (...) o maior patamar na história", afirmou ele ao "Financial Times".

 

O segmento, receoso com o impacto do fenômeno El Niño, agora observa de perto a pesca no Peru. A corrente de Humboldt, de água fria e rica em nutrientes, que passa pela costa do Peru, no Oceano Pacífico, cria um ambiente ideal para as anchovas. O El Niño, entretanto, aquece a água, reduzindo o volume de peixes. "Um El Niño rigoroso pode provocar uma queda drástica nos números de anchovas", afirmou Sarmiento Madueño. "O último foi em 1998, quando vimos uma queda de 80% na população de peixes."

 

O El Niño, contudo, está se dissipando, de acordo com as análises dos meteorologistas.

 

Como o principal centro de produção de farinha de peixe está na América Latina, distante dos centros de consumo na China e na Europa, a farinha de peixe é uma das commodities mais negociadas internacionalmente.

 

A Associação Internacional de Óleo e Farinha de Peixe, órgão que representa os participantes do segmento, estima que cada tonelada de farinha de peixe viaja uma média de 5 mil quilômetros para atingir o usuário final na indústria da aquicultura.

 

O aumento dos preços da farinha de peixe está colaborando para sustentar o mercado de farelo de soja, mesmo com a grande oferta global do grão, já que alguns produtores podem recorrer a ambos como ração.

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Aumenta impaciência dos fornecedores da Doux Frangosul no RS

Dois meses depois que a Doux Frangosul apresentou uma proposta para colocar em dia até o fim de julho os pagament...

Veja mais
O peixe que dá pinta

O pintado, ou surubim como é conhecido em outras regiões do país, é um prêmio para os ...

Veja mais
Frigoríficos não cumprem meta ambiental

Empresas do setor pedem mais três meses de prazo para o Greenpeace para cadastrar e monitorar seus fornecedores de...

Veja mais
Pecuarista e frigorífico travam disputa por preço da arroba

Enquanto o clima não define o cenário para a comercialização do boi gordo, a disputa de pre&...

Veja mais
Maior acionista do Marfrig eleva fatia no frigorífico

A MMS Participações, acionista controlador da Marfrig, anunciou na semana passada a compra de 9.425.263 a&...

Veja mais
Brasil tenta desbravar a fronteira comercial mais fechada do globo

Frigoríficas negociam venda de alimentos, e embaixador em Pyongyang quer incluir filmes brasileiros em festival ...

Veja mais
Integração de operações será foco do setor de carnes em 2010, diz Moody's

A recuperação da demanda externa forma um cenário mais otimista para as indústrias de carnes...

Veja mais
Pérolas aos porcos

Selvagens, os suínos pretos ibéricos têm alimentação natural que lhes dão aroma...

Veja mais
JBS, Marfrig e Cargill têm maior fatia da cota Hilton na Argentina

As maiores fatias da cota argentina de exportação de carne bovina tipo premium com tarifa especial para a ...

Veja mais