''Não é mais hora de fazer aquisições''

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O controlador do grupo Marfrig, Marcos Molina, vem acompanhando a Copa do Mundo na África do Sul com olhos mais atentos que os de um simples torcedor. Afinal, a Seara, uma das marcas do grupo, é uma das patrocinadoras da seleção brasileira e também do próprio evento, que vem sendo usado dentro do projeto de internacionalizar a marca. Apesar disso, ele ainda faz mistério sobre os planos para dar à Seara status "global". Mas essa estratégia, seja ela qual for, recebeu um reforço considerável na semana passada, quando o grupo anunciou a compra da americana Keystone, fornecedora de carnes para redes como Subway e McDonald"s, por US$ 1,26 bilhão.

 

O Marfrig é hoje um grupo avaliado em R$ 6,1 bilhões, com negócios espalhados pelo Brasil, Uruguai, Argentina, Europa e Estados Unidos, além de braços no Oriente Médio e na Ásia - foram quase 40 aquisições nos 10 anos de história da companhia. Seu controlador mantém, porém, um estilo espartano. Seu maior luxo é um jatinho, que ele afirma ser uma necessidade do trabalho. A seguir, leia os principais trechos da entrevista:

 

Os analistas de mercado que acompanham o Marfrig dizem que ainda esperam por mais sinergias depois de tantas aquisições feitas pelo grupo. Quando elas vão acontecer?

 

Elas já estão acontecendo. Acontecem a partir do momento em que fechamos o negócio. O primeiro passo é adequar a empresa a uma das nossas cinco divisões de negócio e, a partir daí, começamos a analisar todas as possíveis sinergias. Tudo é muito claro. Cada divisão é focada numa atividade, mas procuramos manter muita relação entre as áreas. As sinergias podem acontecer desde coisas simples, como adotar em outras unidades um corte especial de carne feito no Uruguai, até estratégias comerciais. É o que buscamos o tempo todo.

 

Outra dúvida dos analistas diz respeito à aquisição da Keystone Foods, anunciada na semana passada. Do total de vendas da empresa, 90% são para o McDonald"s. Concentrar as vendas em um só cliente não é arriscado?

 

A Keystone agora não existe mais. Ela passa a ser Marfrig e as suas vendas respondem por 27%, 28% das vendas do grupo. Ainda estamos estudando o modelo, mas a Keystone será uma das nossas plataformas globais para novos negócios. Sem deixar de dar atenção ao McDonald"s, temos de procurar outras formas de aproveitar a estrutura de negócios que já temos e a que adquirimos com a Keystone.

 

Qual a chance de o Marfrig fazer mais alguma aquisição?

 

Nós temos como estratégia estar em toda a cadeia produtiva e no mercado de processados. Com a última aquisição, terminou o ciclo para termos esta plataforma de negócios. Agora, queremos crescer apenas organicamente. Não é mais hora de adquirir, mas sim de procurar formas de expandir os atuais negócios. Compramos empresas muito tradicionais, com 50, 60 anos de mercado. Então, há muitas formas de tirarmos proveito de todos os negócios adquiridos.

 

E depois de tantas aquisições e a evolução das sinergias dentro do grupo, seria possível imaginar a Marfrig se desfazendo de alguma empresa?

 

Não, a não ser que mudemos nossa estratégia. Como fechar a cadeia produtiva se amanhã vendermos parte da estrutura?

 

O sr. não esconde o entusiasmo com a marca Seara. Quais são os planos para a marca?

 

Será a nossa marca global. Temos cinco divisões de negócios nos quais agregamos cada empresa comprada pela Marfrig. A Seara será a única marca com status global dentro de uma empresa de plataforma globalizada como nós queremos ser.

 

O que já foi feito até agora nesse sentido?

 

Não posso dar muitos detalhes, porque parte dos projetos ainda estão sendo desenvolvidos. Mas vamos em breve usar a Moe Park (adquirida recentemente) para produzir e distribuir produtos da Seara na Europa. Hoje, as vendas para lá ainda são por meio de exportações feitas pelo Brasil. Faremos o mesmo nas operações da Argentina e do Uruguai, vendendo nossas carnes e pratos prontos, sem deixar de trabalhar com as marcas que nós adquirimos ao longo dos anos, que são muito tradicionais em todos esses mercados. A Seara será nossa marca global.

 

Até mesmo na China?

 

Pode ser. Será que a palavra Seara é muito difícil para os chineses pronunciarem? Precisamos ver (risos).

 

O fato de o Brasil não poder exportar carne in natura para os EUA chega a ser um problema? Como o grupo tem atuado na tentativa de derrubar essa barreira?

 

Não interferimos nesse assunto. Para nós é um problema que deve ser administrado pelo governo, não pela empresa. Por parte das empresas, posso dizer que o Brasil está pronto para exportar porque atende às questões sanitárias e tem fábricas de ponta. Mas a negociação é uma função do governo. Só não sei se o governo americano tem interesse em abrir mercado. Só se o governo brasileiro fizer o mesmo movimento. Sem reciprocidade, não acredito que as negociações avancem. Mas, para nós, os EUA não são um mercado interessante a ponto de nos preocuparmos com a barreira para exportar. Se não vendo para lá, vendo para outros países. Além do mais, temos um mercado interno muito forte.

 

Na aquisição da Keystone Foods, o grupo anunciou também o lançamento de debêntures. O sr. disse na ocasião que já tinha investidores interessados. O BNDES, que é acionista da Marfrig, é um desses investidores?

 

Só posso dizer que temos vários investidores interessados. Os atuais acionistas têm direito de preferência, entre eles o BNDES. E eu espero que todos os atuais investidores se interessem pelas debêntures.

 

Como é a sua rotina de trabalho?

 

Da forma como atuamos, todo o grupo funciona sozinho, tem independência. Costumo usar meu tempo para pensar em estratégias para a empresa, ouvindo clientes, fornecedores, bancos, enfim, todos os parceiros. Uma das nossas missões é ouvir a opinião de todo mundo.


 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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