Regras para evitar sobressalto nos preços da carne

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Pecuaristas, frigoríficos e consumidores foram bastante afetados pelo mercado da carne bovina em 2010. Positiva e negativamente. Os criadores festejaram o aumento de preços da arroba do boi gordo, que chegaram perto de R$ 120,00 e depois refrearam ao patamar de R$ 110,00. Excelente remuneração nominal, que ultrapassou os US$ 60, algo jamais visto na atividade. Porém, isso não significa que o setor produtivo não tenha enfrentado problemas. Os custos diretos e indiretos aproveitaram o bom momento do boi e também subiram, pressionando a rentabilidade nas fazendas.

 

Os frigoríficos viveram dois momentos. A primeira parte do ano foi mais tranqüila, com oferta de gado e demanda por carne equilibradas. Mesmo com ociosidade de até 50% em alguns momentos, o segmento recuperou parcela das exportações perdidas por conta da crise em 2009 e respirou bem.

 

No segundo semestre, o mercado mudou, a partir da elevação dos preços do boi gordo. Nesse momento, a indústria certamente se arrependeu da pressão imposta à classe produtiva nos últimos anos, o que elevou a níveis históricos únicos o abate de fêmeas. Resultado: o aquecimento da demanda no varejo e a elevação da cotação da arroba no campo por conta da escassez de animais pressionaram os frigoríficos, que tiveram de desembolsar mais recursos para adquirir o gado, até porque cresceu o movimento de pagamento à vista dos animais.

 

Toda essa complexidade da cadeia explodiu no colo do consumidor. Em outros anos, com a economia mais estável, os preços da carne bovina mantiveram-se em patamares moderados. O mesmo não ocorreu no ano passado, especialmente na segunda metade, com o produto atingindo cotações salgadas, com evolução na casa dos dois dígitos.

 

A pecuária é uma atividade de ciclos e isso é histórico. Não há como mudar sua trajetória, uma vez que vários agentes atuam simultaneamente e há complicadores externos, como o clima.  o que acontece na Austrália, por exemplo, país que enfrentou sérios problemas de estiagem nos últimos anos. Bom para os exportadores brasileiros, que ocuparam espaços no comércio internacional.

 

Desta vez, fomos nós que enfrentamos situação inesperada. A demanda evoluiu bem mais que o esperado e a oferta de gado para abate não foi suficiente para atender às necessidades internas e externas.

 

Há uma lição a ser aprendida? Sempre há. Porém, a pecuária é um negócio emocional. Não deveria ser, mas é. São necessários mais de dois anos para ter um boi gordo pronto para abate. Só de gestação são nove meses. Isso significa que os bovinos nascidos hoje estarão no peso ideal somente a partir da segunda metade de 2012.

 

E não dá para imaginar que nesse momento a cotação da arroba será a mesma de hoje. Seria bom se fosse, mas não é assim que funciona. O frigorífico está com ociosidade atualmente, mas pode não estar lá na frente e, dessa forma, será menos flexível no preço a pagar. Isso é o mercado.

 

Mas ajudaria muito o setor produtivo se as regras fossem claras. Investir hoje em genética de qualidade, alimentação diferenciada, controles sanitários e mão de obra sabendo qual será a receita em dois anos seria um indicativo de profissionalismo da atividade.

 

Como assumiu um novo governo, está aí uma excelente oportunidade de regular a cadeia da carne bovina, dando melhores condições ao pecuarista de investir, sabendo que as regras definidas serão cumpridas, assim como definir algumas ferramentas de proteção do seu negócio.  esperar demais?

 


Veículo: Diário do Comércio - MG


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