Consumo menor e estoque maior forçaram redução do valor dos cortes do boi; no caso do frango, motivo é a maior oferta do produto
Um dos principais acompanhamentos do arroz e feijão, principal refeição brasileira, as carnes de boi e a de frango estão mais baratas para os consumidores araraquarenses e de todo o Brasil. A carne bovina acumula queda de 13% nas últimas semanas. No preço do frango, a redução chega a 20% (leia texto ao lado), segundo estabelecimentos de comércio consultados pela reportagem da Tribuna Impressa e do Araraquara.com.
Até mesmo o filé mignon, um dos cortes mais nobres e valorizados, teve ligeira queda no preço. O quilo oscila entre R$ 22 e R$ 25 em açougues e supermercados da cidade. O acém (corte dianteiro do boi), cujo preço nas últimas semanas chegou a quase R$ 10 o quilo, custava ontem entre R$ 7,99 e R$ 8,69. O patinho (corte traseiro) está sendo vendido a valores entre R$ 10,90 e R$ 12,99.
Oferta e procura
A lei da oferta e procura explica a redução dos valores da carne bovina praticados no varejo. Segundo Carlos Alberto de Lorenzo, diretor do Sindicato da Indústria de Frios do Estado de São Paulo (Sindfrio), o aumento dos preços de agosto do ano passado a janeiro de 2011 retraiu as vendas do produto, acumulando os estoques.
"Com o preço maior, o consumidor busca alternativas e começamos a ter estoque [de carnes]. Para esse produto ser consumido, é preciso fazer promoções", explica.
No varejo local, o preço pago pelo quilo da carne no frigorífico foi 7% menor. Porém, com a reserva excedente, as redes de supermercados, açougues e até mesmos os estabelecimentos menores puseram os produtos em promoção, forçando a redução para até 13%, conforme o corte. "[A variação] depende do frigorífico", indica Ricardo Biagioli, proprietário de um açougue. "Quando ele tem muita sobra de coxão mole, por exemplo, então aumenta um pouco o preço dos outros cortes e diminui o do coxão mole para desovar este estoque."
Na opinião de Biagioli, essa tendência de retração no preço da carne bovina se manterá apenas nos próximos dois meses. "Depois, com a estiagem, o preço deve voltar a subir", aponta.
Para Eduardo Santos Neto, gerente de um supermercado, a redução nos valores acordados entre pecuaristas e frigoríficos ainda não chegou totalmente ao varejo. "Tivemos uma queda de 5%, em média", afirma. "Estou pagando R$ 13,89, o quilo do contrafilé, mas coloco na oferta [ontem] a R$ 12,99. Perco um pouco, mas atraio o cliente".
Oferta em alta desvaloriza frango vivo
A redução de 20% do valor da carne de frango ao consumidor final, no comércio de Araraquara, é um reflexo de sua desvalorização no atacado (preço do produto para o revendedor).
Em queda desde o começo do ano, o frango vivo era cotado, ontem, a R$ 1,55 o quilo na venda das granjas para os frigoríficos. O valor da ave era R$ 1,76 em abril, quando já registrava redução de 9,3% em relação ao mês de março.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), o declínio deve-se a uma elevação da oferta em relação à demanda e afeta, principalmente, os produtores independentes, que comercializam o produto direto com o frigorífico.
Mas os que atuam em parceria com a indústria também sofrem com a defasagem na cotação do frango, que, nesse caso, é vendido por cabeça. De acordo com estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a diminuição dos valores do milho e da soja - usados na alimentação das aves - deve reduzir ainda mais o preço do frango nas próximas semanas.
Veículo: A Tribuna - Araraquara-SP