Russos vão reduzir importação de carnes

Leia em 3min 30s

A Rússia, um dos maiores compradores de carnes do Brasil, reduzirá significativamente suas importações nos próximos anos, levando à desaceleração na expansão do comércio global de carnes. A projeção é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO) no estudo "Perspectivas Agrícolas 2011-2020", que será divulgado na sexta-feira.

 

Impulsionado pela expansão de embarques de frango e carne bovina, o comércio internacional de carnes deve crescer 1,7% ao ano no período, bem menos que a taxa de 4,4% por ano entre 2001-2010.

 

Essa desaceleração é atribuída em grande parte à menor demanda da Rússia. Até agora um tradicional grande importador de carnes, o país acelerou a política para expandir sua produção de carnes, a ponto de poder alcançar um "certo grau de autossuficiência e saldo exportável" em dez anos.

 

Significa que os problemas que a Rússia causa no momento aos produtores brasileiros, com o embargo à entrada de carnes de 85 unidades frigoríficas, tendem a aumentar com ou sem pretextos sanitários. Em todo caso, o Brasil estabelecerá sua posição como líder mundial nas exportações de carnes bovina e de frango, mas buscando novos clientes. O estudo prevê que consumidores adicionais estarão essencialmente na Ásia, América Latina e em países exportadores de petróleo.

 

O Japão continuará a ser o maior importador mundial de carnes em 2020, seguido por México e Coreia do Sul. A China também persegue sua política de autossuficiência. A expansão da indústria mexicana de processamento de alimentos deve reforçar a demanda de carne estrangeira, paralelamente ao declínio nas importações da Rússia. Na União Europeia, o declínio nas exportações serão acompanhadas pela expansão nas importações.

 

A grande maioria das exportações de carnes virá da América do Sul e do Norte, que representarão quase 84% do total do aumento dos embarques até 2020. O Brasil estabelecerá sua posição como líder nas vendas de carne bovina, atingindo 2 milhões de toneladas em 2020. Os EUA continuarão a expandir suas vendas no Pacífico.

 

As exportações de carne suína terão crescimento modesto no período, mas com mudanças significativas na composição das vendas. Os embarques da América do Sul e do Norte devem aumentar. As exportações do Brasil crescerão, mas também aumentará a demanda doméstica. O comércio da China, que faz metade da produção e do consumo, não deve ser alterada.

 

É esperada uma ligeira desaceleração no crescimento das vendas de carne de frango. Brasil e EUA vão reforçar seu domínio, com quase metade das vendas adicionais para os mercados mundiais.

 

O mercado de carnes é altamente fragmentado por restrições sanitárias. OCDE e FAO dividem o mercado de carne bovina por "rotas de aftosa e o resto do mundo". Grandes exportadores como Brasil e EUA pertencem a diferentes circuitos, e seus preços nem sempre seguem os mesmos passos.

 

Os EUA garantiram o acesso para as carnes de Santa Catarina. Isso "provavelmente" vai intensificar a arbitragem de preço entre os mercados do Atlântico e do Pacífico. No caso da carne bovina, o impacto da abertura do mercado americano a produtores brasileiros pode resultar em maior competição para produtores que estão em áreas mais distantes, como a Austrália.

 

Tudo isso ocorrerá num cenário em que a produção mundial de carnes é projetada para crescer 1,8% por ano em média, frente a 2,1% na década precedente. A expansão virá de ganhos de produtividade, sobretudo para frango e suínos, nos países em desenvolvimento. Os preços devem continuar elevados, pela combinação de altos custos de produção, expansão dos estoques e a introdução de regras mais estritas nas áreas ambiental, de segurança alimentar, proteção animal e rastreabilidade. OCDE e FAO preveem alta nominal de 18% para a carne bovina, 26% para a de frango, 16% para a suína e 20% para a ovina. (AM)

 


Veículo: Valor Econômico


Veja também

Brasil e Rússia retomam negociação sobre OMC

Moscou coloca em vigor amanhã embargo às carnes de 85 estabelecimentos de três Estados brasileiros ...

Veja mais
Argentino troca baby-beef por peito de frango

Consumo de carne bovina no país já caiu este ano 9% e o de frango, no período, subiu 33%   O...

Veja mais
Suinocultores querem revisão das dívidas com o governo federal

A Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) e representantes da cadeia produtiva de su&i...

Veja mais
Malásia certifica frigoríficos brasileiros para exportação

Enquanto o setor produtivo de carnes e o governo brasileiro se desdobram para resolver os embates comerciais e pol&iacut...

Veja mais
Embargo russo poderá causar sérios danos ao setor de carnes

No dia 2 deste mês, a Rússia anunciou embargo às exportações brasileiras de carnes pro...

Veja mais
Brasil vira o maior exportador de frango do mundo

Segundo relatório da FAO, País vai superar os Estados Unidos neste ano, mas entidade alerta para problemas...

Veja mais
Temer intervém por fim de embargo russo

Vice-presidente enviará carta a Putin pedindo adiamento de suspensão da compra de carnes do Brasil  ...

Veja mais
Mato Grosso produz mais carne em menos área

Os pecuaristas de Mato Grosso estão produzindo mais carne em menor área de pastagem. Nos últimos oi...

Veja mais
Cotação do frango vivo apresenta queda de 6%

Oferta no mercado interno está superior à demanda, diz a Avimig.   A avicultura mineira está...

Veja mais