Embargo russo a produto do Brasil deve pressionar preços

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Com uma demanda mais fraca este ano, e uma oferta restrita, preço dos bovinos, que deveria ficar mais alto, pode cair caso a medida seja mantida 

 

Após a confirmação, ontem, do início do embargo russo às carnes brasileiras, o mercado de proteínas que oscilava pouco até então e aguardava preços mais altos no segundo semestre, teme repetir os resultados registrados em 2006 quando os valores despencaram no mercado interno após a confirmação da gripe aviária e a permanência das aves no País. Para o secretário Executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Alessandro Teixeira, a restrição aos 85 frigoríficos brasileiros deve ser resolvida até o final de julho o que projeta uma duração de pelo menos 30 dias no embargo.

 

Enquanto a suspensão das exportações das carnes brasileiras não é solucionada, o preço da proteína no mercado interno segue enfraquecido. Segundo o analista Hyberville Neto, da Scot Consultoria, ainda não se trata do reflexo da decisão russa. A principal razão é a demanda menor e os baixos volumes nas exportações de bovinos em geral. "A carne bovina normalmente serve de parâmetro às outras carnes. Então, na medida que os preços não se modificam muito, as demais também seguem em baixa". Neto confirmou que, "com o real valorizado e os preços da carne de boi mais altos que o ano passado, as exportações brasileiras têm sido um desastre" visto que a competitividade da proteína no mercado internacional é pequena. "O cambio tem atrapalhado bastante as exportações. O preço da carne no Brasil está bastante elevado o que tirou a vantagem que tínhamos no passado" disse. "Hoje a carne brasileira não é barata para os mercados pouco exigentes, e não atende qualitativamente os mercados mais exigentes que pagam mais."

 

Os preços da carne bovina no mercado interno estão em média 10% mais altos que os valores registrados no ano passado. Enquanto isso, suínos e aves acumulam desvalorizações de até 15% este ano. Para Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado, isso reflete uma oferta menor de bovinos, e um incremento considerável na produção de suínos e aves. Na média do mês de maio os bovinos estavam cotados a R$ 98,7 a arroba, contra os R$ 78,5 do mesmo período do ano passado.

 

As aves também fecharam o mês de maio mais altos que o ano anterior, ou seja, R$ 1,6 o quilo do animal vivo em 2011 e R$ 1,4 em maio de 2010. Já os suínos acumularam em maio o valor de R$ 45,1 a arroba, contra os R$ 50,9 do ano anterior. "Acredito que devemos ainda ver médias de preços para os bovinos chegando a R$ 105 a arroba, isso por conta da demanda no mercado interno e da baixa oferta de animais. Com isso os preços das outras carnes também devem se elevar", confirmou Molinari ao DCI.

 

Rússia

 

Ambos os analistas acreditam que todo esse cenário de alta no segundo semestre pode ser prejudicado pelo embargo russo, que deve afetar primeiramente os estados atingidos para somente depois afetar os preços no País. Para Alessandro Teixeira, secretário Executivo do Mdic, a restrição não deve ultrapassar o mês de julho. "Os inspetores não gostaram do que viram. Só espero que no próximo mês isso esteja resolvido. São vários elementos que a gente tem que equacionar. Em alguns eles têm razão e em outros, não", disse.

 

O embate entre os países que até então era colocado como um acerto sanitário parece mesmo estar relacionado diretamente ao acordo para a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC). O Itamaraty está resistindo e não alterou sua posição em Genebra durante reunião sobre a entrada da Rússia na OMC realizada na terça-feira. Segundo uma fonte do ministério, a diplomacia só deixará de insistir em cotas exclusivas se o setor privado manifestar sua mudança de posição "por escrito". Essa fonte explica que ceder a chantagem da Rússia pode não surtir efeito, porque os russos nunca admitiram que o embargo está ligado com as negociações da OMC.

 

Em Genebra, um dos facilitadores da adesão da Rússia à OMC confirmou que o Kremlin está usando seu mercado de carnes como uma de suas principais "cartadas políticas" para obter de parceiros em todo o mundo concessões em diversos setores. "Os russos entenderam que seu mercado de carnes é um dos mais promissores do mundo e estão vendendo isso a preço de ouro", disse. A chantagem com o Brasil, com a mudança de posição do setor privado, teria funcionado.

 

A Rússia bloqueou a entrada de carne suína, de frango e bovina de 85 frigoríficos do País. As autoridades sanitárias sinalizaram há algumas semanas sobre o bloqueio, que entrou em vigor oficialmente ontem.

 

Veículo: DCI


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