Em sinal de descompasso entre oferta e demanda, os preços de todas as carnes recuaram fortemente nos últimos sete dias no atacado. Coincidência ou não, os maiores impactos foram sentidos na bovina e na suína, que têm como principal mercado exportador a Rússia, que vem apresentando incertezas quanto ao cumprimento dos contratos. "A crise na Rússia é a causa que conseguimos visualizar concretamente. Mas sabemos que essa incerteza deixa muitos negócios parados", diz Rubens Valentini, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).
De acordo com levantamento do Centro do Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a carcaça comum do suíno caiu de R$ 5,37 o quilo no dia 20 para R$ 4,80, recuo de 8,7%. Em seguida, a maior queda foi registrada na carne bovina. Os cortes dianteiros, cotados a R$ 5 o quilo em 20 de outubro, fecharam o dia 24 cotados em R$ 4,80, retração de 4%.
Boa parte desse movimento é explicado pelo fato de que as empresas resolveram aguardar um pouco para realizar novos contratos com a Rússia até que os importadores liquidem os contratos que ainda estão em aberto, segundo Luiz Carlos de Oliveira, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Carnes (Abiec). "Enquanto não houver pagamento ou renegociação de contratos com garantias, as indústrias não vão realizar novas vendas. Temos contâiners que já estão lá e que ainda não foram pagos", diz o diretor da Abiec. A Rússia consome metade de toda a carne in natura que o Brasil exporta e, desde o começo de outubro, segundo Oliveira, seus importadores estão pressionando o exportadores brasileiros a baixarem preço. "O frigorífico fez Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) a R$ 1,60 e, agora, no momento do embarque, que o câmbio está acima de R$2, a indústria vai pagar o ACC com o novo valor do dólar. Não se apropriará dessa diferença", reforça Oliveira.
Desaceleração
Os preços do frango também recuaram na última semana, segundo o Cepea. As cotações dessa carne (resfriada) caíram 2,8% de R$ 2,79 o quilo em 20 de outubro para R$ 2,71 no dia 27. Érico Pozzer, vice-presidente da Associação Brasileira de Avicultura (Uba), diz que é cedo para dizer que uma demanda externa menor poderia estar "inchando" o mercado interno de frango e provocado a queda dos preços. Mas, segundo ele, é possível que haja uma desaceleração do crescimento da demanda, enquanto a oferta continua ainda expandindo-se em ritmo acelerado. A produção de frango de setembro para outubro deve crescer de 460 milhões de frangos para 480 milhões. "O produtor já tinha alojado pintinhos. Agora, estamos orientando os avicultores a reduzirem os alojamentos em 10%".
Sérgio De Zen, pesquisador do Cepea, explica que há sinais de desencontro entre oferta e consumo. "No ano passado, o consumo vinha em alta, e a produção veio atrás tentando acompanhar. Mas neste ano, está começando a ocorrer o contrário. A demanda caiu mais rápido, e em movimento inverso, a produção terá que retrair-se", diz De Zen. Há de se considerar ainda, segundo ele, que por conta do menor preço das matérias-primas da ração de frango e suínos (milho e soja) há tendência de que o custo caia e leve para baixo também os preços do produto final.
Suínos
Apesar da turbulência deste final de ano, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, acredita que o Brasil manterá a meta de exportar 600 mil toneladas de carne suína em 2008, gerando um faturamento de US$ 1,8 bilhão. Mesmo que 40% das exportações de carne suína brasileiras sendo direcionadas à Rússia Camargo Neto prefere manter o otimismo e diz que pode aproveitar a desvalorização do real para aumentar sua competitividade.
Veículo: Gazeta Mercantil