A pecuária brasileira passa por um momento de transição. De um lado, aposta no cenário promissor para os próximos anos, especialmente porque o mundo deposita grande expectativa de crescimento sobre a atividade.
Na outra ponta, a bovinocultura convive com seus próprios dilemas. Se o ano foi bom para o produtor, não foi para os frigoríficos. O consumidor também teve de pagar mais pela carne e, não fosse o embalo da economia -especialmente no primeiro trimestre-, poderia haver solavancos no preço da proteína.
Em números, em São Paulo a arroba do boi gordo subiu cerca de 50% desde o início do ano, segundo levantamento da Esalq, mesmo percentual de alta do preço do quilo da carne no varejo.
O pecuarista aplaude e quer mais. Mas os frigoríficos sofrem. Um exemplo: os dois maiores (JBS e Marfrig) passaram a angústia de ter de conviver com ociosidade e tomar a difícil decisão de fechar, mesmo que temporariamente, algumas unidades. Não fosse num ano em que foi criado mais de 1,8 milhão de empregos, a gritaria no interior seria insuportável.
Num ano que alguns querem que acabe logo e outros aproveitam ao máximo para fazer receita, o consumidor desempenhou papel preponderante. A tão falada ascensão das classes C e D realmente aconteceu. Mesmo com preços elevados na ponta, a carne teve demanda.
Segundo dados preliminares da Abiec (reúne os frigoríficos exportadores), o Brasil fechará o ano com menos 300 mil toneladas vendidas no exterior. É um recuo (superior a 25%) considerável em volume. Porém, o mercado interno absorveu esse excedente e pagou mais.
Isso não significa que as exportações foram ruins. O Brasil deve encerrar o ano com US$ 5,2 milhões em receita. Poderia ser pior. Afinal, os preços médios pagos pela carne brasileira aumentaram cerca de 25% no ano, atingindo US$ 4.900 a tonelada.
É momento de virar a página e olhar para 2012 com otimismo. O governo sinaliza que não pressionará o consumo, reduzindo tributos e incentivando o crédito. O brasileiro, ávido por melhor alimentação, deve continuar indo às compras, mantendo a demanda per capita próxima de 40 quilos por ano -similar ao consumo de frango.
Entre as lições aprendidas, está claro que a melhoria da qualidade da carne -processo que ainda vive de casos isolados- é a porta da agregação de valor.
Se as exportações mantivessem os preços médios do ano anterior (US$ 3.900 a tonelada, segundo dados da Abiec), o recuo de receita em 2011 superaria R$ 1 bilhão e talvez o cenário hoje fosse menos otimista.
Veículo: Folha de S.Paulo