Presidente do terceiro maior frigorífico do país, Fernando Queiroz afirma que novo ciclo resultará em queda de preço
O Brasil está perto de voltar ao período mais próspero da pecuária. A avaliação é de Fernando Galletti de Queiroz, presidente do frigorífico Minerva, o terceiro maior do país em capacidade de abate de bovinos.
Para ele, a aguardada reversão do ciclo pecuário já começou, resultando em aumento da oferta de animais para abate e queda nos preços da arroba do boi gordo.
"Estamos entrando em um ciclo muito favorável para o Brasil", afirmou Queiroz.
Em 2007, os pecuaristas iniciaram o ciclo de retenção de matrizes, necessário para aumentar o rebanho bovino, que foi reduzido nos últimos anos por conta do abate das fêmeas entre 2005 e 2006.
O menor número de bois para o abate também valorizou o preço do bezerro, incentivando ainda mais os produtores a manter as vacas.
Agora, com o mercado de cria menos rentável e o aumento da oferta de bovinos, os pecuaristas começam a se desfazer das fêmeas menos produtivas, contribuindo para o aumento da oferta.
A redução nos custos com aquisição de matéria-prima ajudou a empresa a gerar fluxo de caixa operacional positivo no quarto trimestre de 2011, após dois trimestres de resultados negativos, afirmou Queiroz.
"Isso mostra a inflexão na curva do ciclo pecuário. Há uma tendência de queda no preço do boi. Os negócios no mercado futuro indicam valores inferiores aos do ano passado", disse.
Ontem, a arroba do boi gordo valia R$ 97 em São Paulo, segundo a AgraFNP. Na BM&F, o contrato de maio apontava o preço de R$ 93.
CAMINHO LIVRE
Mais importante do que a maior oferta de matéria-prima é a falta de concorrência para o Brasil no cenário internacional neste ano, afirma o presidente do Minerva.
Ao contrário do Brasil, os EUA assistem a uma redução do seu rebanho, enquanto a Argentina permanece com restrições às exportações e a Austrália deve continuar com a oferta estável.
"O Brasil está ocupando espaço de outros países que não têm condições de suprir a demanda", afirma.
Entre os países que mais devem importar a carne brasileira, Queiroz destaca emergentes do Oriente Médio, do norte da África e do Leste Europeu.
Mas, no ano passado, o mercado interno foi o grande destaque das operações da empresa, que aumentou em 54% as vendas no país.
O faturamento total, incluindo as exportações, que subiram 2% em 2011, ficou em R$ 4,26 bilhões, alta de 19% em relação a 2010.
Apresentado ao mercado financeiro como a opção mais conservadora e previsível do setor, no qual compete com os gigantes JBS e Marfrig, o Minerva dobrou o seu lucro líquido, que ficou em R$ 41,7 milhões, ante R$ 20,8 milhões em 2010.
A dívida líquida ficou estável em R$ 1,2 bilhão. "Mantemos a dívida, enquanto o mercado questiona algumas estratégias de consolidação. Acreditamos que a nossa está correta", afirma.
Preço da carne deve cair no varejo
A maior oferta de bois para o abate pode conter ou até provocar reduções no preço da carne ao consumidor. O repasse, porém, não deve acontecer na mesma velocidade em que as altas no campo chegam ao consumidor, pois o varejo costuma segurar o benefício.
Veículo: Folha de S.Paulo