Exportações de carne de porco do Brasil ao país vizinho têm redução de 77%, efeito da barreira às importações
Esse é o ponto mais preocupante na relação comercial entre os países, afirma o governo brasileiro
Quase um mês após a Argentina impor a necessidade de autorização prévia para todas as importações, as exportações brasileiras de carne suína para o país, que representa 9% do mercado, estão praticamente paradas.
Para o governo brasileiro, essa é hoje a maior preocupação na relação com o vizinho.
Dados do Ministério do Desenvolvimento apontam que as vendas de carne de porco aos argentinos em fevereiro, até a quinta-feira passada, foram de 30 toneladas por dia, em média, uma redução de 77,5% na comparação com o mesmo período de 2011.
"Exportações para lá estão quase congeladas. Tradicionalmente, vendemos 4.000 toneladas", diz Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína).
Camargo Neto crê que o número tenha saído do zero porque alguns negócios de janeiro podem só ter sido contabilizadas agora. Em relação ao primeiro mês do ano, as exportações de carne de porco caíram ainda mais: 83,7%.
Na semana passada, representantes do setor estiveram na Secretaria de Comércio Exterior para pedir providências em relação ao tema.
"A venda de carne suína é a nossa principal preocupação agora em relação à Argentina", afirma Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do ministério. "Nas exportações em geral, não houve redução de vendas."
Em 2011, o Brasil exportou US$ 1,4 bilhão em carne suína a outros países. A Argentina respondeu por US$ 129,3 milhões desse total.
Desde 1º de fevereiro, por determinação do governo argentino, todas as importações necessitam de autorização para ingressar no país.
Pela regra, os importadores precisam pedir permissão prévia e esperar pela aprovação para ter acesso à compra.
Quando a medida foi anunciada, o Brasil não descartou retaliar o país por protecionismo, mas preferiu esperar até março para ter uma melhor avaliação dos impactos e definir uma linha de ação.
O porco ganhou importância no cardápio dos argentinos após uma queda significativa no consumo de carne bovina -com a crise, o rebanho do país vizinho diminuiu e os preços aumentaram.
Antes, cada argentino comia, em média, 98 quilos de carne bovina por ano, número reduzido para 55,5 quilos em 2011, o menor nível em 90 anos, segundo dados da Câmara de Indústria e Comércio de Carnes e Derivados.
Para estimular o consumo de carne suína em seu país, a presidente argentina, Cristina Kirchner, chegou a afirmar que comer carne de porco "melhora a atividade sexual".
"É muito mais gratificante comer porco grelhado que ingerir Viagra", disse Cristina, em uma cerimônia em 2010 para anunciar a redução do preço da carne suína.
Veículo: Folha de S.Paulo