Enquanto crescem os rumores de uma possível fusão entre as operações da Doux Frangosul no Estado e a BR Foods, o diretor-geral da empresa no Brasil, Aristides Vogt, e os advogados da companhia informaram durante uma nova reunião realizada nesta quinta-feira na sede do Ministério Público Estadual (MP-RS), em Porto Alegre, que a resolução das dívidas com os cerca de 1,6 mil produtores integrados de aves depende de uma operação de capitalização já programada. De acordo com o executivo, com os investimentos externos, os pagamentos deverão ser feitos assim que houver a conclusão das negociações em andamento, mas não revelou detalhes da estratégia que ainda incluirá o repasse das operações de suínos no Rio Grande do Sul a um novo parceiro.
As negociações, segundo um dos dirigentes presentes no encontro, o presidente da Fetag-RS, Elton Weber, envolvem os processos de produção, industrialização e também a comercialização de produtos que utilizam a carne de porco como principal ingrediente. Questionado se os representantes da empresa estariam preparando uma retirada da Doux Frangosul do setor de suínos no Rio Grande do Sul, Weber respondeu que esta foi a impressão de todas as entidades participantes.
“Este foi o ponto mais claro abordado. Eles garantiram que o repasse acontecerá de forma escalonada e contempla os processos de criação, industrialização e comercialização de suínos. Em princípio, entendemos que com esta transição acontecerá uma retirada do mercado de suínos por parte da empresa, que nos garantiu conversações avançadas com o novo parceiro e resultados de curto prazo”, revelou.
Se o movimento for confirmado, a Doux abandonará um setor que produziu 3,5 milhões de toneladas, das quais 84,7% foram absorvidas apenas no mercado interno brasileiro. O segmento gerou receitas de exportação na ordem de US$ 96, 82 milhões, com 38 milhões de toneladas embarcadas no ano passado. Além disso, a área de suínos é responsável por 30% das operações da Doux no Estado.
Na saída da reunião, o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, atestou que Vogt teria antecipado que um acordo semelhante ao realizada no momento da venda das operações de perus no Estado será pactuado com o objetivo de garantir o fornecimento dos atuais integrados por pelo menos dois anos. Ele confirmou a possibilidade de um repasse das operações da área de suínos para uma nova empresa, mas disse que não foram divulgados prazos, nem os nomes dos possíveis compradores. “Na verdade, outra vez não disseram nada. Apenas que estão em meio a uma busca por investidores para sanar a situação da empresa. Na área de suínos, eles alegam que a situação estaria praticamente resolvida”, conta.
Mesmo assim, o presidente da Acsurs não se diz satisfeito com as explicações. “Discordo que esteja resolvida. O problema real está longe de ser solucionado”, destaca. De acordo com Folador, a empresa não apresentou posições concretas para sanar o rombo de R$ 2 milhões em dívidas com os suinocultores.
Em relação aos integrados de frangos, o presidente da Fetag, Elton Weber, chamou a atenção para a falta de sinalização a respeito de qualquer cronograma de pagamentos, condicionados aos novos investimentos em fase de capitalização. “Não há uma posição clara, o que ainda deixa os produtores apreensivos. Não conseguimos descobrir se haverá um novo parceiro também para a área de frangos e, tampouco, se o sócio seria o mesmo para as duas áreas envolvidas”, concluiu o presidente da entidade.
Indústria garante normalização no fornecimento de rações
Durante o encontro realizado no Ministério Público, mediado pelo procurador-geral de Justiça em exercício, Ivory Coelho Neto, o diretor-geral da Doux Frangosul, Aristides Vogt, enfatizou que o fornecimento de ração para suínos e aves será normalizado. Ele ainda afirmou que os produtores integrados de suínos, que representam 30% da produção da empresa, terão uma solução de curto prazo.
Na opinião do procurador-geral, a pressão dos agricultores é legítima. Entretanto, ele ressaltou que a situação da empresa também deve ser compreendida. “Em razão das questões sociais que implicam a falta de pagamento é que o MP tenta auxiliar o acordo entre as partes”, defende.
Na quarta-feira passada, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação em Passo Fundo e Região, Miguel Luís dos Santos, informou que mais de 600 trabalhadores do segundo turno da unidade industrial da Doux Frangosul em Passo Fundo entram em férias coletivas no próximo dia 5 de março. O anúncio coloca em risco a continuidade das operações e agrava a crise enfrentada pela empresa.
Na semana passada, linhas de embutidos e empanados do complexo de Montenegro, o maior da marca no País, pararam. Cerca de 300 empregados dos setores estão em férias até a próxima segunda-feira. No final de janeiro, um dos três turnos de abates de frangos foi suspenso, reduzindo em um terço (ou 150 mil aves) a capacidade diária, que era de 450 mil frangos. A medida atingiu 330 funcionários, que retornarão ao trabalho no começo de março, quando outro turno deve entrar em férias.
Veículo: Jornal do Comércio - RS