Dois navios em alto mar carregam cinco contêineres com 125 toneladas de carne suína da Coopercentral Aurora, embarcados em Itajaí (SC), com destino à China. "É uma semente que se planta", diz o presidente da cooperativa, Mário Lanznaster, de olho em um mercado com 1,3 bilhão de pessoas e consumo per capita de 38,4 quilos do produto.
A Aurora planeja enviar volumes crescentes ao país asiático, que exige da empresa um tratamento especial - rastreabilidade dos animais desde o desmame, por exemplo. Quinze mil suínos já estão sendo preparados para o próximo lote, que deve ser o dobro do atual e ser embarcado daqui três ou quatro meses. "Esperamos que os embarques sejam diários no próximo ano", acrescenta Lanznaster.
Por enquanto, a operação não dá lucro, pois o custo logístico "empata" com o ganho previsto, segundo o empresário. "É um investimento que se faz necessário. Daqui três ou quatro anos, queremos exportar dez, quinze, vinte vezes esse volume [125 toneladas]", afirma. O embarque de estreia é visto como um "ensaio".
Maior mercado possível
Assim como a habilitação de três frigoríficos brasileiros para exportar à China, em abril do ano passado, pode ser vista como um ensaio à maior relação comercial do País no segmento de cárneos. Em dois anos, os chineses devem se tornar um "grande mercado", com potencial para ser "o principal", na visão do presidente da Associação Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto.
"A China deve se tornar, num futuro próximo, um grande mercado. Mas não deve ser em 2012", diz o representante. "Somada a Hong Kong, pode ser o principal", pontua.
Em janeiro, Hong Kong foi o principal destino da carne suína brasileira, absorvendo 37% do volume total. As exportações cresceram 8,47% em toneladas e 4,08% em valor no mês, em relação a janeiro de 2010. Foram embarcadas 37.756 toneladas e obteve-se uma receita de US$ 96, 82 milhões, de acordo com a Abipecs. Houve queda de 4,05% no preço médio do produto.
Foi no ano passado que a participação do mercado interno superou a do externo na pauta da suinocultura - mudança atribuída a uma migração no consumo de carnes e, em parte, à maior disponibilidade de carne suína, devida ao embargo russo.
Para Camargo Neto, a suinocultura só tem chance de voltar à orientação que vigorava até 2010 - mais exportações do que consumo interno - se a Rússia retomar suas compras no País. "Só se abrir a Rússia novamente", diz ele.Mas os negócios com a China tendem a pesar cada vez mais na balança comercial brasileira.
Além da Aurora, outras duas companhias foram autorizadas, em abril do ano passado, a exportar ao país asiático: a Marfrig, por meio da subsidiária Keystone Foods, e a BR Foods, que resulta da fusão entre a Sadia e a Perdigão.
Desde então, a Keystone atua na China por meio de duas joint ventures (associação entre duas empresas com projeto único e fins lucrativos), sendo suas parceiras a COFCO - maior fabricante de alimentos chinesa e grande importadora e exportadora de grãos, óleos e alimentos - e a Chinwhiz - situada em WeiFang, na província de Shandong, fabrica rações e abate frangos em 90 subsidiárias.
Os empreendimentos se baseiam na instalação de seis centrais de distribuição de alimentos, com investimento de US$ 252 milhões em dez anos, no caso da primeira parceria; e no processamento diário de 200 mil aves, de acordo com a definição da outra joint venture.
A Marfrig nã o quis comentar os negócios com a China. Quanto à BR Foods, comunicou a acionistas nesta semana que também estabeleceu uma joint venture com a companhia chinesa Dah Chong Hong Limited. O objetivo, segundo a empresa brasileira, é levar a marca Sadia ao mercado chinês. O alcance pretendido inclui a China continental, Hong Kong e Macau. Os volumes anuais são estimados em 140 mil toneladas de carne e US$ 450 milhões de receita. A BR Foods também não quis falar do assunto.
Líder em produção
No final de 2011, quando entrou na pauta de exportações da suinocultura brasileira, a China encomendou apenas 57 toneladas do produto. Sua produção, por outro lado, é a maior do mundo: 51,3 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). O país é o quarto importador (560 mil ton) e o quinto exportador (280 mil).
Veículo: DCI