Atolada em dívidas com criadores integrados há três anos, a Doux Frangosul informou ontem, em reunião na sede do Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul que acertou a venda da operação de suínos em Caxias do Sul (RS). Conforme participantes do encontro, o diretor geral da empresa, Aristides Vogt, disse, ainda, que a multinacional francesa prepara a abertura de capital à participação de um novo investidor para honrar os débitos com os 1,6 mil produtores de aves vinculados no Estado.
Segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Elton Weber, Vogt informou, sem revelar nomes, que a negociação para a transferência da operação de suínos estará concluída até o fim deste mês e será semelhante à venda do antigo frigorífico de perus da Doux, também em Caxias do Sul, para a Marfrig, em 2009. O Valor apurou que a própria Marfrig entrou na negociação e é forte candidata a assumir a unidade de abate de suínos e a relação com os 700 integrados nesse segmento no Estado. Procurada, a Marfrig negou a informação.
Em 20 de setembro do ano passado, a BRF divulgou comunicado ao mercado informando que estava negociando a aquisição de "alguns ativos relacionados com a operação de produção e abate de suínos da Doux, localizada em Ana Rech (distrito de Caxias do Sul)". As tratativas não envolviam a incorporação de marcas, mas o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) reagiu negativamente à notícia e a BRF, que nas últimas semanas chegou a fornecer ração para os integrados da Doux, segundo fontes locais, desistiu do negócio, também de acordo com apuração do Valor. A BRF preferiu não se pronunciar.
Em nota distribuída no início da noite, a Doux disse que não se pronunciaria sobre a venda do "setor de suínos". Em relação à capitalização, revelou que "o acionista majoritário [o empresário francês Charles Doux] decidiu abrir o capital do grupo e buscar um novo investidor, permitindo o processo de recapitalização e com o refinanciamento junto aos bancos, reestruturar a questão da dívida, trazer estabilidade e fornecer meios para o crescimento futuro".
Na reunião de ontem, Vogt também prometeu normalizar o fornecimento de rações de aves e suínos para s integrados, informaram participantes do encontro. De acordo com Weber, da Fetag-RS, o executivo disse que a empresa que assumirá a operação de suínos quitará as dívidas com os integrados, mas o presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, afirmou que não ficou claro quando os produtores começarão a receber os pagamentos atrasados.
Com os atrasos recorrentes aos fornecedores de animais para abate, que segundo estimativas das entidades representativas já acumulariam créditos de até R$ 50 milhões contra a empresa, a Doux vinha reduzindo o nível de atividade no Rio Grande do Sul desde janeiro. Conforme o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação de Montenegro, as linhas de embutidos e empanados pararam dia 13 deste mês e só voltarão a operar segunda-feira. Na mesma cidade, onde fica a sede da empresa, o abate de frangos caiu 30% ante a média normal de 450 mil cabeças por dia desde 23 de janeiro, segundo informou a entidade.
Em Caxias do Sul, o abate de suínos caiu de 3,2 mil para 2,8 mil cabeças por dia e sofreu interrupções parciais ou totais durante alguns dias nas duas últimas semanas, de acordo com o sindicato dos trabalhadores da cidade. Além disso, em janeiro, 13 dos 42 donos de unidades produtoras de leitões (UPLs) que trabalham para a empresa no Estado também conseguiram liminar na Justiça que permite a retenção de matrizes de suínos da Doux como garantia para créditos atrasados estimados em R$ 2 milhões.
Veículo: Valor Econômico