O padrão das refeições do consumidor da classe média passou por mudanças, fruto de mais grana no bolso do brasileiro. O frango deu lugar à carne vermelha de qualidade e o azeite de oliva substituiu o óleo de soja. E as trocas não estão restritas à mistura, pois os brasileiros também estão gastando mais com alimentação fora do lar, mostra estudo da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).
Ao analisar os resultados da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre 2003 e 2009, foi constatado que enquanto o consumo médio mensal de carne de primeira aumentou 4,2%, o de frango caiu 11,8%. A compra de azeite cresceu 13,8% e o de óleo de soja recuou 45,5%.
"Isso mostra que as famílias estão se alimentando mais e com melhor qualidade. Está ocorrendo uma sofisticação do consumo. Com mais dinheiro, as mudanças nas compras aparecem no setor de alimentação", diz o assessor econômico da Fecomercio Altamiro Carvalho.
Por desejo ou necessidade, os hábitos de alimentação da classe C estão se transformando. Em 2003, o gasto em restaurantes, bares e lanchonetes somava R$ 54,19 por mês por família. Seis anos depois passou para R$ 91,12, variação de 67%.
Fabio Ferreira, 33 anos, que trabalha no setor de logística, faz parte desse grupo. Ele saía de um restaurante em Santo André ontem quando admitiu que é impossível jantar em casa. "Entro no trabalho às 13h30 e saio à 1h. Sou obrigado a jantar na rua", explica. Por mês, ele destina R$ 140 para refeições.
Já a secretária Marli Augusto, 65 anos, afirma que, apesar de muitas vezes ser necessário comer fora de casa, prefere preparar sua comida. "Nunca gostei de comer fora, mas às vezes preciso, e sempre gasto R$ 20 para isso, ou R$ 150 por mês."
Segundo a pesquisa da entidade, as despesas com refeições dos brasileiros da classe média fora do lar têm peso de 3,15% no orçamento familiar mensal. Em 2003, essa participação era de 1,75%.
COMPORTAMENTO
O assessor econômico da Fecomercio Fabio Pina acrescenta que ao conquistar rendimento maior, as famílias em ascensão social - que representam 52% dos domicílios e detêm R$ 1 trilhão do poder de consumo -, preferem investir em áreas como Educação, Saúde e previdência privada. "Os planos de saúde cresceram bastante em volume de vendas nos últimos anos e precisaram expandir alcance para atender as exigências do público."
Esse reflexo é notado pela empresária Carla Renata Sarni, fundadora da franquia de tratamentos odontológicos especializado nas classes C e D, Sorridents. "Há alguns anos, de cada 100 pacientes, apenas 33 concluíam o tratamento. Atualmente, esse número chega a 45", detalha. Os consumidores emergentes do Grande ABC são alvo da marca, que neste ano pretende abrir mais cinco franquias entre Santo André, São Bernardo e Diadema.
DÉCADA
Projeção da Fecomercio-SP aponta que, até o fim da década, o PIB (Produto Interno Bruto) do País chegará a R$ 5,4 trilhões e que o consumo das famílias será responsável por R$ 3,5 trilhões, o equivalente a 65,4% de participação da produtividade brasileira. Estima-se que a população será de 207.143 milhões de pessoas e que as riquezas do Brasil vão avançar 40% frente a 2010.
Até 2020, a massa de pessoas na chamada nova classe média saltará de 105,665 milhões (previsão referente a 2012) para 113,373 milhões. Conforme o estudo, esse estrato social consumirá 34,6% do PIB nacional.
FORÇA DE TRABALHO
No cenário traçado pelo estudo para 2020, o Brasil atingirá sua maior PEA (População Economicamente Ativa) da história com 144 milhões de pessoas no mercado. O número representa incremento de 10% na força de trabalho, que atualmente soma 130 milhões de trabalhadores. Em 2010, o País tinha 18 milhões de pessoas com mais de 60 anos e poderá chegar a 26 milhões daqui a oito anos.
Veículo: Diário do Grande ABC - SP