JBS reinicia abates na Doux de Montenegro

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Depois de exatos quarenta dias do anúncio oficial de arrendamento da Doux Frangosul no Rio Grande do Sul, a JBS Friboi manteve à risca os cronogramas apresentados na ocasião e retomou ontem os abates na planta de Montenegro. Por volta da 1h40min da madrugada desta segunda-feira, o carregamento inicial chegou à fábrica para finalizar um período de crise e incertezas para cerca de 6 mil funcionários em todo o Estado, a maioria deles, cumprindo férias coletivas há mais de dois meses.

Na primeira jornada de trabalho foram 260 mil frangos. Amanhã, a capacidade máxima, de 380 mil por dia, deve ser alcançada. Na próxima semana, a movimentação de Passo Fundo será somada e a nova produção fechará em 860 mil unidades diárias para voltar ao teto de 1,1 milhão de abates em meados de setembro. Segundo o CEO da JBS Aves no Brasil, o irlandês James Cleary, o período de espera pelo reinício das operações possibilitou que a empresa recolocasse 20 milhões de aves nas granjas em diversas fases do processo de engorda para posterior abate.

Com o sistema integrado recuperado, na opinião do presidente do Grupo JBS, Wesley Batista, o momento é de encerrar as auditorias internas acerca dos passivos da antiga proprietária, a francesa Doux, para selar a opção de compra definitiva antes do prazo de dez anos estipulado em contrato. No entanto, ele prevê alguns meses de renegociação até que “se encontre um denominador” para contornar a dívida total estimada em mais de R$ 1 bilhão.

“Chegamos em Montenegro para ficar e para crescer”, resumiu o executivo ao antecipar que o foco inicial das operações, que também demarcam a entrada da empresa no mercado avícola nacional, será concentrado nas vendas externas. “Nosso negócio de aves no Brasil será voltado às exportações. Já somos a segunda maior empresa de aves no mundo com a operação norte-americana, temos perfil exportador e o câmbio no nível atual nos favorece ainda mais”, concluiu.

O presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, atestou o bom momento do setor nos mercados internacionais. Segundo ele, em 2011 o Estado foi único a apresentar déficit de produção, enquanto no restante do País a atual conjuntura já determina que 40% das exportações mundiais de frango tenham origem nacional. Além disso, em maio, conforme Turra, o segmento superou todos os recordes com o embarque de 374 mil toneladas para 154 países. “O Rio Grande do Sul foi o único estado com crescimento negativo na avicultura, muito em razão da crise da Doux, por isso foi uma solução importante a que foi consolidada aqui em Montenegro”, avaliou o dirigente.


Cerca de 1,2 mil pessoas voltam ao trabalho

Enquanto aguardavam o início da solenidade oficial que demarcou a retomada da produção em Montenegro, cerca de 1,2 mil funcionários comemoravam o final de um período de dois anos marcados por ameaças de demissão, disputas judiciais e revezamento de férias coletivas em razão da crise que levou a falência das operações do grupo francês Doux no País.

Funcionária da Frangosul há 12 anos, Ângela Lenhardt, disse estar aliviada com o retorno ao trabalho na linha de produção de miúdos após mais de 60 dias em férias coletivas. Assim como ela, Patrícia dos Santos Lopes, colaboradora há oito anos, também demonstrava empolgação com o retorno. “Foi um tempo de muita preocupação, pois o fechamento da fábrica significaria a perda de todo o tempo de trabalho e o início de uma briga na justiça que poderia durar mais do que a minha vida”, sintetiza.

Juntas, as três unidades da Frangosul (Montenegro, Passo Fundo e Caxias do Sul) concentram 6 mil postos de trabalho. Apenas em Montenegro, munícipio com 50 mil habitantes, localizado a 45 km da Capital, são 3,7 mil vagas nas duas linhas de produção com capacidade para 12 mil unidades/hora cada uma.

Por isso, o ex-diretor da Doux no Brasil, Aristides Vogt, revela ter tirado um “peso das costas”. O executivo, que contabiliza mais de 30 anos de participação na Frangosul, afirma que a etapa mais importante foi encerrada ontem com a manutenção de todos os empregos da cadeia na região. “A etapa mais importante era esta. A abertura do frigorífico de madrugada lembrava um grupo de estudantes empolgados com o reinicio das aulas”, destacou.

Agora, segundo ele, é preciso contornar a questão dos passivos totais avaliados em mais de R$ 1 bilhão. Entretanto, ele acredita existir “uma boa margem” de negociação para a compra definitiva das operações da Frangosul pelo Grupo JBS muito antes do prazo previsto em contrato.

O Grupo Doux aportou no Brasil em 1998, ao adquirir as plantas da gaúcha Frangosul, com sede em Montenegro. Na época, o mercado dava como certa a chegada da multinacional francesa ao País, mas a aposta era na compra da Seara, então sob controle do Grupo Bung, que já havia decidido vender seu braço operacional de carnes. Para surpresa, o patriarca Charles Doux preferiu a Frangosul, um negócio que prosperou até o começo da crise na União Europeia.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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