Os ramos de aves e suínos reagiram à escalada de preço das commodities agrícolas com reajustes na cobrança pelo animal vivo. Entretanto, o mesmo não se pode dizer da bovinocultura, que perdeu valor no mercado de referência (o paulista) e orientou-se de modo a evitar o uso de confinamentos.
Desde a semana passada, enquanto a soja e o milho galgavam recordes na Bolsa de Chicago, o quilo vivo do frango e do leitão valorizaram-se 26% e 38% em São Paulo. Já a arroba (quinze quilos) do boi ficou 4,9% mais barata do que a média do ano, chegando a R$ 89,54, de acordo com um estudo da consultoria Bigma.
Considerado baixo pelo criador, o preço da carne bovina, em contraste com o aumento do custo de produção, foi o motivo para que Guilherme Nolasco, proprietário de 750 hectares na Chapada dos Guimarães (MT), deixasse de confinar parte de seu rebanho, com 1.500 cabeças, neste ano.
"A alta das commodities inviabilizou de vez o confinamento", disse o pecuarista. "O custo da arroba produzida em confinamento está em mais de R$ 80, ou seja, acima do valor pago pelo boi", explicou. No Mato Grosso, a arroba vale, em média, R$ 81.
O impacto das cotações do milho e do farelo de soja, que explodiram por causa da seca nos Estados Unidos, é sentido por Nolasco mesmo com o boi no pasto: o suplemento alimentar (dose de meio quilo por animal ao dia) que ele utiliza encareceu 20%.
E 20% a menos de cabeças de gado devem ser confinadas neste ano, em relação ao que se esperava em abril; o custo do confinamento no Mato Grosso também ficou 20% mais caro.
Os pecuaristas do estado devem utilizar a técnica, a um custo diário de R$ 6 por animal, para "terminar" 740,4 mil bois, segundo a última pesquisa de intenção da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
"Não somos dependentes de confinamento, que é uma ferramenta", analisou o presidente da entidade, Luciano Vacari. "A técnica só deve ser utilizada quando é rentável", afirmou.
Como o confinamento é geralmente utilizado para cobrir o período de entressafra, antecipando a oferta, cerca de 100 mil cabeças deixarão de ser abatidas este ano no Mato Grosso, com a desistência de produtores e a permanência dos animais no pasto, segundo a Acrimat.
"Atraso minha receita e produzo um boi mais tardio, mas o custo é menor", disse Nolasco, cujo confinamento tem capacidade para receber 550 animais. Se o pecuarista resolvesse utilizar a técnica, poderia abatê-los até novembro, mas optou por esperar até janeiro - quando poderá retirá-los do pasto.
"Vai haver pressão sobre o preço neste ano", afirmou Vacari, referindo-se a uma possível queda de oferta. Para ele, "sem problemas, pois o preço está baixo".
Na Nova Bolsa (BM&FBovespa), a arroba do boi está cotada a R$ 98 nos contratos de outubro e novembro, valor 5% menor do que a precificação de janeiro passado: R$ 102.
Em regime fechado, o processo de engorda do boi é notavelmente mais rápido. Para render 4,5 arrobas, o animal precisa de um ano no pasto ou 120 dias no confinamento, segundo Nolasco.
A consultoria Bigma estima que quatro milhões de cabeças de boi serão confinadas durante este ano. "A intenção que havia no começo do ano, de confinar 18% do rebanho, já caiu à metade", afirmou o diretor da empresa, Maurício Nogueira.
O rebanho mato-grossense é o maior do Brasil: tem cinco milhões de cabeças, segundo cálculos da Acrimat.
Veículo: DCI