Com recuperação insuficiente, setor suíno vive fim de ano negativo

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A recente alta de preços da suinocultura, atribuída à aproximação das festas de fim de ano, está longe de superar os custos de produção do segmento, relacionados às commodities agrícolas.

No mês de outubro, o preço pago ao criador por quilo de suíno vivo se aproximou de R$ 2,60, alta de 4%. Contudo, o custo produtivo permaneceu em R$ 3,20, mesmo patamar de setembro.

A expectativa de suinocultores é que os preços sigam se elevando até dezembro, mas sem que haja alívio de custos. "É um momento de recuperação, graças às festas de fim de ano. Agora, os custos continuam muito altos", diz Marcelo Lopes, o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).

Por conta da alta dos insumos, os criadores têm arcado com um prejuízo de 20% - isto é, recebido dois décimos a menos do que o gasto na produção. Quando, na reta final do ano, a remuneração da suinocultura costuma ser exatamente o valor oposto ao prejuízo (20%), em médias nacionais.

"Fala-se que o mercado subiu, mas foi dentro de uma condição que ainda não dá lucro", diz Losivânio de Lorenzi, o presidente da Associação Catarinense de Criadores Suínos (ACCS).
A alegada crise da suinocultura se intensificou em abril, quando o animal vivo chegou a valer R$ 1,90 por quilo. O preço subiu, gradualmente, ao patamar atual (R$ 2,60) - ainda baixo, em relação ao custo -, mas a situação se complicou em julho, com a disparada de preços da soja e do milho no mercado global - segundo análises.

Cinquenta mil matrizes foram descartadas dos planteis. As associações não estimam os níveis de desativação e falência dos planteis, mas reconhecem que houve "muitos". Em Santa Catarina, 4% da produção foram perdidos, segundo a ACCS.

A parcela de 15% desse mercado que é composta, no Brasil, por produtores independentes, foi a que sofreu as maiores perdas.

"Houve uma crise, mas também aumento de produtividade. Chega a compensar", subestima, contudo, Pedro de Camargo Neto, o líder da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).

Já o gerente de Operações da Coopercentral Aurora (SC), Celso Capelaro, observa que "houve redução de produção porque muitos produtores desistiram da atividade neste ano, tendo em vista que as commodities permanecerão em alta, e não há sinais de custos para a suinocultura".

Capelaro prevê novo aumento para o valor do suíno até o final do ano: 10%. Mas considera que os insumos também podem ficar ainda mais caros. "Nessa situação, não sobra muito para o criador independente. Afora que ele já acumulava dívidas grandes dos últimos dois anos."

A Aurora reúne cooperativas que trabalham com produção integrada (98% do total) e financiam a produção dos suinocultores. "O integrado praticamente não tem custo, o frigorífico assume tudo", explica Capelaro.

Neste caso, as oscilações dos insumos são repassadas da indústria ao varejo, diferentemente do que acontece no mercado spot, em que o produtor absorve, sozinho, as variações de custo.

Mercado japonês

As associações de criadores, junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), viajam ao Japão no início de novembro, otimistas, para tentar fechar contratos dos primeiros embarques de carne suína brasileira para o país asiático.

O potencial é de um embarque de 150 mil toneladas, em 2013, de produto catarinense ao país, segundo De Lorenzi, da ACCS. Camargo Neto, da Abipecs, fala em 100 mil toneladas. Os números ficam próximos de 10% do total de importações de carne suína japonesas, e podem ter "influência muito positiva" na suinocultura nacional. O mercado externo parece ser a principal saída, esperada para 2013, para essa crise.

"Criadores precisam ter a consciência de manter o plantel como está, de não investir, por um bom 2013", diz De Lorenzi.

 

Veículo: DCI


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