A retirada tardia de bois do pasto e a terminação de animais confinados reduziram, na segunda quinzena de outubro, o preço da carne bovina. A sazonalidade do período - demanda tipicamente fraca - agravou a desvalorização.
No atacado paulista, o produto desossado perdeu 2,6% de valor na semana passada, puxado pela queda de 4,9% dos cortes dianteiros. O quilo de peito, por exemplo, chegou a custar R$ 6,80 (-9,1%).
O movimento negativo, entretanto, precede altas cotações que devem ocorrer já em novembro e prolongar-se por todo 2013, segundo empresários e especialistas consultados pelo DCI.
"As chuvas cessaram nos pastos e os confinamentos terminaram: os preços vão subir", diz o diretor-pecuarista da Agropecuária Jacarezinho, controlada pelo grupo Grendene, Ian David Hill. "Teremos, nas férias, uma demanda muito maior", acrescenta.
Hill vai além e observa que, no ano que vem, a disparidade entre oferta e demanda deve levar a arroba (quinze quilos) a patamares entre R$ 102 e R$ 105 - pelo menos na região oeste da Bahia, onde a Jacarezinho administra mais de trinta mil cabeças de gado.
O principal motivo é a disparada de preço das commodities, que retarda o uso de confinamentos no Brasil. Os altos preços da soja e do milho no mercado internacional favorecem a expansão dessas culturas, em detrimento de novos pastos e até mesmo sobre estes. Sem falar nas restrições ambientais à pecuária extensiva.
"Essa agricultura [de soja e milho no centro-oeste] está avançando sobre pastos; o produtor já prefere arrendar o pasto para lavouras. No ano que vem, já devemos sentir perda na oferta de boi", afirma Hill.
Para o analista Hyberville Neto, da consultoria paulista Scot, a demanda interna deve se aquecer já em novembro e manter os níveis positivos no mês seguinte. "Para dezembro, a tendência é de uma demanda ainda um pouco maior do que em novembro", ele diz.
A arroba bovina está cotada, hoje, a R$ 96,50 no mercado paulista, ante R$ 98,50 no mesmo período de 2011 e R$ 97 há um mês, de acordo com dados da Scot.
Os preços do boi, neste ano, estiveram abaixo da série histórica fechada no ano passado. Quando atingiu o menor nível (R$ 90, à vista), em agosto, esteve 11% menor do que o correspondente anual.
Neste caso, novamente, a baixa de preço se deveu a uma questão de oferta, como explica Hyberville: "A safra demorou para acabar, por causa de chuvas prolongadas que mantiveram os pastos nutridos, ficando para agosto".
Geralmente, os pastos começam a secar, expulsando o rebanho, entre maio e junho.
Confinamentos
A oferta oriunda de confinamentos também influenciou, negativamente, as cotações. "A janela de outubro coincidiu com a terminação dos animais, que foram fechados há cerca de cem dias", observa Hill. A Jacarezinho terminou cerca de duas mil cabeças confinadas em Val Paraíso (SP).
O diretor de pecuária do grupo Grendene - que adquiriu a Fazenda Jacarezinho em 1993 - espera que a arroba do boi chegue a R$ 102 ainda este ano.
Como trabalha com cortes de alto valor agregado, e em grandes volumes, o frigorífico consegue segurar o preço, atualmente, em R$ 99. No período mais crítico de outubro, chegou a vender o quilo por R$ 96, mas somente após negociações, pois as cotações originais ficavam entre R$ 94 e R$ 95.
Veículo: DCI