Produtor de SP recebe menos com oferta excessiva de frango

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A exportação de frango abaixo do esperado no primeiro trimestre do ano causou um aumento da oferta da carne no mercado interno e pressionou para baixo os preços ao produtor, que caíram 30% desde o início do ano para os granjeiros paulistas independentes, principalmente, a partir da segunda quinzena de março. De acordo com especialistas ouvidos pelo DCI, esse excedente de oferta acaba não sendo absorvido pela demanda interna, que neste ano está desaquecida para as aves e para o mercado de carnes em geral. O preço do frango vivo produzido por avicultores independentes no estado chegou a R$ 2,10 o quilograma na última sexta-feira, 19, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA). No começo do ano, o preço chegava a R$ 3,00 o quilograma.

De acordo com o presidente da Associação Paulista de Avicultores (APA), Érico Pozzer, os produtores que não têm acordos com a indústria de aves sentem com maior intensidade as variações da demanda porque representam apenas 7% da produção em São Paulo. "Por menor que seja a retração de consumo, traz um prejuízo muito grande ao nosso produto", afirma.

"No atacado, o comentário geral é que a demanda está enfraquecida por ter acabado de passar o começo do ano, e pela população ainda estar bastante endividada", explica a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Camila Ortelan.

Pozzer, da APA, argumenta que a falta de demanda para a oferta de frangos no mercado interno se dá porque o varejo não está repassando a redução de preços para o consumidor final. "De março para abril, reduzimos os preços da venda do frango abatido das integrações [entre produtores e indústria] para o varejo, como supermercados e açougues. Mas o que se constata no ponto de venda é que [o varejo] não reduziu nenhum centavo".

Enquanto os preços ao avicultor caíram quase 30%, os supermercados estão cobrando 10,03% a mais pelo frango desde janeiro até março, de acordo com o Índice de Preços dos Supermercados (IPS) da Associação Paulista de Supermercados (Apas) e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Já o varejo em geral está cobrando 7,07% a mais, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE. Para os avicultores que possuem contratos com frigoríficos locais, as alterações de mercado não foram sentidas na mesma medida. Segundo Eduardo Olide, cuja família possui uma granja em Conchas, em São Paulo, o preço que recebem por cada ave está estável desde fevereiro em 35 centavos.

O excedente de oferta foi causado pela queda de 7,5% no volume de exportações de aves no primeiro trimestre do ano. Apenas em março, o Brasil exportou 319,7 mil toneladas de carne de frango, ante um volume de 363 mil toneladas no mesmo mês do ano passado. A redução da demanda externa pegou de surpresa os produtores brasileiros, que vinham aumentando a produção contando com mais entregas ao exterior.

O presidente da APA, por sua vez, nega estar ocorrendo crescimento na produção, mas uma retomada dos níveis anteriores ao da crise de 2012, quando o aumento das cotações do milho e da soja pressionou os custos de produção. Os avicultores integrados com a indústria receberam rações com atraso, o que levou à morte de muitos animais. Na granja da família Olide, por exemplo, a produção caiu 40% por causa da demora nas entregas dos suprimentos por parte das indústrias. Já os avicultores independentes tiveram problemas para produzir e escoar a produção por causa dos gastos mais elevados.

"Em São Paulo, houve uma redução total de 25% na produção de frango no ano passado em relação a 2011", relata Pozzer. Como a queda foi generalizada no País, o estado manteve-se como o quarto maior abatedor de aves, passando de 13,98% da participação do abate nacional para 14,49%.

O andamento da produção de frangos no estado só será confirmado com a divulgação dos dados da Associação Brasileira dos Produtores de Pinto de Corte (Apinco). Mas, segundo a pesquisadora do Cepea, os dados relativos a janeiro já mostram que o alojamento de aves aumentou de 497,8 milhões de cabeças em dezembro para 514,7 milhões.

Perspectiva

Apesar do preço não favorável ao produtor, eles acreditam que os custos também serão menores com a redução das cotações de soja e milho, que compõem 90% dos custos de ração. No ano passado, os avicultores independentes chegaram a pagar R$ 35 na saca de milho e R$ 1.400 para a tonelada do farelo de soja. Agora, eles estão pagando R$ 25,73 na saca de milho e R$ 750 na tonelada do farelo de soja. A tendência, segundo Pozzer, é de maior redução de custos. "A safrinha de milho está em desenvolvimento e vai cair de preço. Tudo indica que o preço da soja vai cair também" diz.



Veículo: DCI


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