A hora e vez do salmão

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Os números impressionam devido ao rápido crescimento num curto espaço de tempo. Em apenas quatro meses o negócio que movimentou mais de 588 toneladas e 3,28 milhões de dólares, chamou a atenção de especialistas e transformou a cidade numa das principais importadoras de salmão do Estado.

Atualmente, Rio Preto mantém uma logística que sustenta a distribuição do peixe de carne nobre e água salgada para mais de 800 pontos espalhados em sete Estados, sendo quatro deles no Nordeste. Negócio que envolve uma megaestrutura, cifras milionárias e liga o município à cidade de Puerto Mont, no Chile, a mais de 4,3 mil quilômetros de distância.

É de lá que o rio-pretense Julio Cesar Antonio, 55 anos, dono da empresa Mar e Rio Pescados, trouxe desde o início do ano 35 carretas lotadas de salmão fresco in natura. São cerca de 130 toneladas do produto por mês, para distribuição em centenas de cidades, incluindo até a baixada santista e algumas do litoral nordestino.

Para se ter uma ideia do volume, nos quatro primeiros meses deste ano o valor movimentado pelo salmão foi o equivalente à mesma quantia vendida por todas as empresas exportadoras de Rio Preto para o exterior: cerca de R$ 6,3 milhões. Sozinho, o peixe representa 16% das importações do município.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, em todo estado são cerca de 20 importadores, que buscam o peixe no Chile ou países da Europa. Com isso, o salmão aparece na 69º posição no ranking da balança comercial e movimentou aproximadamente 10 mil toneladas e mais de 55,7 milhões de dólares de janeiro a abril.

As estatísticas mostram que Rio Preto detém 5% deste mercado e deve crescer mais. Além do salmão, que representa 40% do seu negócio, em maio o empresário já importou cerca de 300 mil dólares em pescados congelados. Ele conta que começou a trazer o salmão do Chile em agosto do ano passado, em pequenas quantidades, mas desde janeiro as compras são em larga escala e beiram em média US$ 850 mil por mês. “No início era pouco, oito toneladas por mês, cerca de 27 mil dólares, que vinham de avião”, lembra. “Hoje são cerca de 20 mil quilos por semana”, completa.

Perguntado se pode ser considerado o novo rei do salmão do noroeste paulista, ele rejeita o rótulo. “Somos uma empresa familiar, eu, minha esposa e meu filho. Foi um baita trabalho para conseguir a confiança dos produtores chilenos e esse mercado, com muitos anos de luta. Não sou rei não, apenas empresário”, diz.No estado, segundo apurou o Diário, outras empresas importadoras de salmão estão concentradas na capital paulista e na região de Piracicaba.

Especialistas em comércio exterior ouvidos pelo Diário afirmam que vários fatores contribuem para o surgimento da cidade na rota dos importadores de salmão. O primeiro deles está na posição geográfica do município. “Rio Preto tem rodovias privilegiadas, isso ajuda bastante no transporte de mercadorias. As cargas vindas provenientes de países como Chile, origem da maioria das importações de salmão, Uruguai e Argentina entram pela BR 153”, explica o despachando aduaneiro do grupo Rio Port, Marcio Marcassa Junior.

Ainda segundo ele, embora num primeiro momento o volume importado surpreenda, não se trata de um nicho de mercado passageiro. “Alimentos são essenciais e a globalização contribui para esse aumento. No caso específico do salmão, temos percebido um grande aumento na demanda por comidas japonesas, visto o número de novos restaurantes típicos e do hábito do brasileiro de comer mais peixes.”

Outro fator que incentiva o negócio é um acordo bilateral de complementação econômica firmado entre Brasil e Chile que retira o imposto de importação que seria de 10% sobre o valor da compra, segundo o despachante aduaneiro da Caribbean Express, Paulo Narcizo Rodrigues. “Isso faz com que o produto chegue a preços mais competitivos, pois se viesse de outros países pagaria o imposto”, explica.

Validade

O salmão importado do Chile vem fresco e tem validade de 21 dias após o abate. A viagem de caminhão leva em média oito dias até Rio Preto. Por isso, a logística de distribuição precisa estar definida antes de o produto chegar à cidade, dizem especialistas. “Na importação é assim que funciona, pois importar um produto é ter a certeza de que irá vender, que tem uma forma de escoar rapidamente sem ficar com a mercadoria parada”, explica Narcizo.

Ainda segundo ele, o perfil dos importadores de Rio Preto tem se diversificado e os empresários já se deram conta que importar e distribuir é mais fácil e o lucro é maior. “Isso não quer dizer que não havia esse consumo significante (de salmão) mas o que ocorre é que empresas da cidade passaram a importar diretamente ao invés de comprar de importadores e distribuidores de outras localidades. Com isso o produto passa a fazer parte (do ranking) das nossas importações”, completa Marcassa.

Boom do ‘japonês’ também contribui para alta

O boom de restaurantes orientais comprova ao aumento do consumo de salmão e, consequentemente, a necessidade de crescimento das importações. Para se ter uma ideia, segundo estimativa do Sindicato dos Bares e Restaurantes, já são cerca de 40 estabelecimentos que servem comida oriental na cidade.

A empresa de Julio Cesar atende pelo menos 21 deles, incluindo o Mirai, no bairro Redentora. Os proprietários Eduardo Barbosa e Sueli Tiemi afirmam que mensalmente clientes consomem cerca de 1,5 tonelada de salmão em pratos típicos da gastronomia japonesa. Segundo eles, representa 70% de todo tipo de peixe comercializado pelo restaurante.

“O consumo de salmão vem crescendo muito em função dos restaurantes e da dificuldade cada vez maior da compra de atum e outros peixes brancos”, dizem. As amigas Sandra Oliveira, 36, e Suelen Ribeiro, 37, confirmam o aumento do consumo do salmão nos últimos anos e dizem que pelo menos duas vezes por semana comem o peixe. “É gostoso e um alimento leve”, diz Suelen.

 




Veículo: Diário da Região - São José do Rio Preto/SP


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