Desafios com o Japão

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Há um consenso de que a conquista do mercado japonês para a carne suína do Estado será um divisor de águas positivo para o agronegócio catarinense. Após a abertura oficial do mercado dia 30 de maio e os eventos da comitiva catarinense ao Japão, quinta e sexta da semana passada, os novos desafios do setor são iniciar os embarques de contêineres, ampliar as vendas e também dividir os ganhos com toda a cadeia produtiva, com atenção ao parceiro do campo. Isto porque se a receita maior do preço japonês ficar concentrada nas agroindústrias, nos próximos anos elas não conseguirão produtores integrados para criar os animais.

Para o diretor de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura do Estado, Roni Barbosa, o setor vai focar, agora, na ampliação das exportações porque desde 2006, quando o Paraná foi atingido por aftosa, os produtores vem deixando de vender cerca de 100 mil toneladas por ano. Com o Japão e a volta da Ucrânia será possível ampliar as vendas.

O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio de Lorenzi, alerta que os produtores estão endividados e que atualmente o preço pago pela indústria, de R$ 2,30 por quilo, não paga o custo que está em R$ 2,85, segundo a Embrapa. Ele alerta que, sem retorno financeiro, o filho do agricultor deixa o campo. Por isso a idade média dos produtores rurais de SC está em 47 anos.



“A indústria deu uma guinada”

Com planos para investir R$ 3 bilhões até 2015, a indústria catarinense está mudando seu perfil, com mais projetos em inovação, design e preservação ambiental. Quem fala sobre essa mudança e a conquista do mercado japonês para a carne suína é o presidente da Federação das Indústrias de SC, Glauco José Côrte.

Como o senhor avalia a abertura do mercado japonês de carne suína para SC?

Glauco José Côrte – É importante porque ratifica a qualidade do produto catarinense. O Japão é um dos mercados mais exigentes do mundo. Foi difícil abrir. Isto certamente foi influenciado pela tradição catarinense. Em muitos contatos que eu tive com japoneses eles ressaltam a qualidade do produto catarinense e a pontualidade das empresas. Santa Catarina abre uma janela de oportunidades. Nossa expectativa é que, nos próximos cinco anos teremos uma presença maior aqui.

Isso abre portas para outros negócios?

Glauco – Acredito que isso vai resultar num maior conhecimento do Estado e aumentar a possibilidade de investimentos em SC. Por isso nós mostramos no seminário o perfil do nosso parque industrial. Eu saio do Japão convencido de que temos que ampliar a nossa presença aqui. Há um movimento de empresas japonesas saírem da China porque a economia chinesa está desacelerando e a competição lá é dura. Acredito que de uma forma ou outra devemos estar mais aqui (no Japão) em feiras, remessas de estudos e convites. A primeira providência é formalizar o convite à Jetro para recebermos uma missão japonesa.

Investir no Japão é difícil?

Glauco – É difícil, os custos são elevados. Ontem encontrei o João Carlos Brega, da Whirlpool. Ele disse que a meta da empresa é aumentar a presença no Japão pela unidade da China. Outras empresas catarinenses também podem ampliar negócios aqui (no Japão), como a Weg.

A Fiesc fez o estudo anual sobre investimentos que apontou planos da indústria do Estado para mais R$ 3 bilhões até 2015. O que isso representa?

Glauco – O que mais nos deixa animados com relação a essa pesquisa não é tanto o volume de investimentos. Essa média tem se mantido, com crise ou sem crise. A indústria precisa investir anualmente porque as mudanças tecnológicas são muito rápidas. O que mais anima é a qualidade do investimento, isso está mudando em SC.

Como as indústrias de SC estão melhorando a qualidade do investimento?

Glauco – Nos últimos cinco anos começou a haver uma modificação com mais projetos para design, novos processos produtivos, qualidade, investimento em pesquisa e desenvolvimento. Nos primeiros anos metade dos projetos era para aumento da capacidade da produção. Hoje aumenta-se a produção com novos equipamentos, mais tecnologia. Muitos investimentos são mais para produtividade. Isso vai permitir que a indústria catarinense possa ser competitiva num mercado cada vez mais disputado. Essa tendência dos últimos anos veio para ficar. A indústria catarinense mudou conceitualmente. Busca produtos melhores, pós-venda melhor, marketing. A indústria deu uma guinada.

O que mais a pesquisa apontou?

Glauco – Ela apontou, também, um aumento de seis pontos percentuais nos investimentos em preservação ambiental, de 17% para 23%. Isso reflete esse aumento de consciência do setor industrial catarinense na busca da compatibilização da atividade industrial com a preservação da natureza e responsabilidade corporativa.

E sobre o investimento a mais de R$ 2 bilhões de multinacionais?

Glauco – Nos últimos anos, a média tem sido essa. Além dos investimentos das nossas empresas apurados na pesquisa, temos um investimento adicional de empresas que estão chegando, que não foram registradas na nossa pesquisa. Desta vez, temos a BMW e outras multinacionais. Apuramos isso no BRDE, solicitação de incentivo do Prodec e em outras fontes.



Veículo - Diário Catarinense


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