Ação da Marfrig cai 23% desde a venda da Seara

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A venda da Seara Brasil para a JBS não significou o alívio que a Marfrig esperava. Pelo menos por enquanto. Do dia 10 de junho, quando anunciou a venda da Seara Brasil e da Zenda à JBS por R$ 5,8 bilhões, até agora a empresa perdeu quase 23% de seu valor de mercado na BMF&Bovespa - de R$ 4,12 bilhões, no anúncio do negócio, para R$ 3,173 bilhões ontem. Não era o que esperava a Marfrig, que enfrenta uma crise severa desde 2011 por conta do endividamento elevado.

A expectativa era de que o negócio ajudasse a reduzir a alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) da Marfrig - de 4,4 vezes na época da operação - e que isso levasse à retomada da confiança do investidor. Este, porém, ainda parece ter dúvidas sobre o desempenho da companhia que, com a venda da Seara, ficou um terço menor - o faturamento global deve cair de R$ 28 bilhões para cerca de R$ 16 bilhões - e que ainda segue alavancada.

Apesar de a Marfrig ter anunciado a venda dos dois ativos como solução para reduzir seu endividamento líquido, que era de R$ 9,8 bilhões na época do anúncio do negócio, e de ter afirmado que novos "desinvestimentos" não seriam necessários, as portas para novos negócios não foram fechadas, segundo apurou o Valor.

Isso mostra que os problemas persistiam. Mesmo que a dívida líquida da Marfrig tenha recuado para R$ 8,7 bilhões e a alavancagem, para 3,8 vezes, no fim do segundo trimestre, já reflexo da venda da Seara Brasil.

Mas esse número não gerou a confiança que a empresa precisava não apenas por ainda ser elevado, mas por conter itens extraordinários. A companhia considera como Ebitda dos últimos 12 meses para esse cálculo, um total de R$ 2,3 bilhões. Contudo, excluindo os efeitos extraordinários no período e somando apenas os resultados recorrentes, esse valor cai para R$ 1,69 bilhão, o que equivale a uma alavancagem de 5,2 vezes - superior até mesmo à fase anterior à venda da Seara.

Segundo apurou o Valor, ao mesmo tempo em que negociava a venda da Seara Brasil, a Marfrig também conversava com a Minerva, terceira maior empresa de carne bovina do país, para uma eventual venda de ativos de bovinos, e com a BRF para a venda das operações asiáticas da Keystone e da Moy Park, na Europa.

Mesmo após a venda da Seara, a Marfrig continuou a conversar com a Minerva, segundo fontes do mercado. A Marfrig nega qualquer tratativa e a Minerva informou que "não comenta rumores de mercado". Entre fontes do setor de carnes, um eventual negócio entre as duas empresas é considerado uma operação de difícil concretização, ainda que nada seja impossível. "As duas têm culturas diferentes. São como água e óleo", diz uma fonte do setor. Existe ainda um agravante: na atual situação, a Marfrig teria de ceder o controle à Minerva, que é menor, complicando ainda mais a transação.

Quem conhece Marcos Molina, o fundador da Marfrig, também considera difícil que ele saia do negócio de bovinos. A Marfrig começou na distribuição de alimentos para o food service, em 1986, e no ano 2000 entrou no abate de bovinos. Outros segmentos vieram anos depois, por meio de aquisições. "Não consigo ver Molina sem participar do mercado de bovinos", observa um especialista do setor.

Embora a Marfrig negue com veemência que haja negociações para vendas de outros ativos, há uma crença de que a companhia cedo ou tarde terá de voltar a se movimentar devido à sua situação financeira. O fluxo de caixa operacional da empresa ficou negativo em R$ 206,2 milhões no segundo trimestre, ante R$ 11,6 milhões positivos, um ano antes.

Por isso, há um assédio de bancos de investimento interessados em propor modelos de venda ou associação à companhia. Na semana passada, um grande banco nacional bateu à porta da empresa querendo, mais uma vez, estimular negócios.

O Valor apurou que a BRF também teve conversas com a Marfrig e com a Minerva relacionadas ao segmento de bovinos, apesar da falta de consenso interno na empresa agora chefiada por Abilio Diniz sobre esse setor. A empresa estaria atenta ao que pode eventualmente fazer, em especial diante do crescimento e fortalecimento da JBS após a aquisição da Seara Brasil.

O persistente desempenho ruim da Marfrig - o prejuízo no segundo trimestre deste ano foi de R$ 420 milhões - tem gerado desconforto entre os investidores, gerando um círculo vicioso. Desde 10 de junho, as ações da empresa caíram 22,98%. No mesmo período, o Ibovespa subiu 4,81%. Surgiram até mesmo rumores recentemente de que Sérgio Rial, o principal executivo da companhia hoje, deixaria a Marfrig. A empresa nega e afirma se tratar de boato.

Uma emissão de bônus feita pela Marfrig no último dia 13 de setembro também foi recebida com certa surpresa por agentes do mercado, já que a empresa pagou alto para captar. A Marfrig captou US$ 400 milhões em bônus seniores com vencimento em 2021. Os títulos saíram com retorno ao investidor de 11,5% ao ano.

Segundo a Marfrig, o recurso será usado para o refinanciamento de dívida bancária e de bonds já emitidos. Além disso, o objetivo também era a recompra dos US$ 375 milhões em títulos com vencimento em 2016. A empresa informou, em comunicado, que a oferta de recompra atingiu aproximadamente US$ 188 milhões em tais títulos, permitindo o cancelamento dos "covenants" (cláusula contratual restritiva) desses bonds.

No mesmo dia, a JBS levantou US$ 500 milhões em uma emissão de bônus com vencimento em 2021, com taxa de retorno bem mais baixa, de 7,25%.

Os movimentos da Marfrig preocupam investidores e atraem banqueiros porque a captação recente é o terceiro passo dado pela empresa em menos de um ano para melhorar sua dívida. Em dezembro, captou R$ 1 bilhão com uma oferta primária de ações e em junho vendeu a Seara Brasil à JBS.



Veículo: Valor Econômico


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