Ajuste na oferta de boi piora situação do setor

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Sem dúvida, um dos maiores problemas da indústria de carne bovina do Brasil hoje é a escassez de crédito, consequência da crise financeira internacional. Os ACCs - adiantamentos de contrato de câmbio, que as empresas usam para financiar a produção destinada à exportação - sumiram e afetaram os frigoríficos, bastante dependentes do mecanismo. 

 

Mas as dificuldades do setor, que reforçam a tendência de concentração dos frigoríficos, começaram bem antes da atual crise internacional. Desde 2007, as empresas de carne bovina, que investiram em aumento da capacidade de abate de bovinos no país, enfrentam escassez de oferta de animais por causa do ajuste do ciclo de produção. Preços baixos para a arroba do boi levaram ao descarte de matrizes entre 2004 e 2006, o que resultou em diminuição de nascimentos de bezerros. 

 

Esse quadro de menor oferta de animais para engorda fez os preços da arroba do boi começarem a se firmar a partir do fim de 2006, o que voltou a estimular a retenção de matrizes. Ou seja, hoje, o quadro é mais favorável para a recria e engorda de animais, observa Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria. 

 

Mas, mesmo assim, isso não significa um maior fôlego para a indústria. "Este ainda será um ano difícil", observa o analista. A expectativa é que a oferta de animais para abate comece a se normalizar, gradativamente, só a partir de 2010. Isso se o cenário de preços do boi gordo continuar estimulando os investimentos em engorda. 

 

"A situação para as indústrias é complicada. Há uma pressão de custo forte [por causa do preço do boi] ao mesmo tempo em que as vendas estão ruins", comenta Tito Rosa. Não à toa, várias pediram recuperação judicial: IFC, Margen, Frigoestrela, Arantes Alimentos e Quatro Marcos. 

 

Tito Rosa acredita que o Brasil deve conseguir manter os volumes de carne bovina exportados este ano com a esperada reabertura do mercado chileno e o aumento de números de fazendas habilitadas a fornecer animais para abate e exportação de carne à União Européia. Outro pequeno alento é que, apesar da demanda fraca, a produção mundial de carne bovina está ajustada, acrescenta Tito Rosa. 

 

No ano passado, o Brasil embarcou ao exterior US$ 5,325 bilhões, 20,36% mais do que em 2007. O volume, entretanto, diminuiu 14% em relação ao ano anterior, para 2,165 milhões de toneladas (equivalente-carcaça). 

 

Para o analista, a receita com as vendas externas deve recuar por conta da queda dos preços, que já ocorre no mercado internacional, mas o volume deve se manter. "Será decisivo ampliar os volumes para a UE, que compra os cortes de maior preço", avalia. 

 

Veículo: Valor Econômico


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