Frigoríficos encolhem capacidade instalada

Leia em 3min 50s

A postura do Frigorífico Independência de paralisar temporariamente suas atividades à espera de mares mais calmos no mercado de carne bovina não é uma decisão isolada. Levantamento feito nas principais regiões de pecuária de corte do Brasil mostra que muitos abatedouros optaram por fechar as portas desde setembro do ano passado, quando a crise financeira internacional e seus reflexos para a economia real passaram a fazer parte de praticamente todas as mesas de discussão do País.

 

Estimativas não oficiais indicam que a capacidade instalada para abate de animais no Brasil está ao redor de 70 milhões de cabeças por ano. Apesar de a indústria nacional ter crescido muito nos últimos anos, o rebanho não acompanhou o mesmo ritmo, tanto que no ano passado os abates ficaram pouco acima de 40 milhões de cabeças, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

 

Diante da oferta restrita de animais e da queda na demanda internacional provocada pela crise financeira internacional, a indústria frigorífica no Brasil está encolhendo de tamanho. "Ainda não é possível prever qual será o abate neste ano, já que as indústrias que pediram recuperação judicial voltarão lentamente, mas não chegaremos aos 40 milhões de 2008", afirma Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria.

 

Só em Mato Grosso, 11 frigoríficos de um total de 40 que abatem de acordo com as regras do Serviço de Inspeção Federal (SIF) estão temporariamente sem funcionar. Na lista de unidades que deixaram de receber animais para abate constam nomes de peso, como é o caso da unidade de Cáceres do JBS, grupo que atua também no exterior; de quatro plantas do Frigorífico Quatro Marcos espalhadas pelo Estado; da unidade do Margen de Barra do Garça; e da planta do Independência. O levantamento é da Superintendência Federal de Agricultura no Estado.

 

Raio x. Números apresentados na semana passada em Brasília, pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato), Rui Prado, dão a dimensão dos problemas enfrentados pelos pecuaristas. De acordo com ele, os efeitos da crise já comprometeram 40% da capacidade de abate no Estado e 12 mil postos de trabalho podem ser cortados. Os problemas, porém, não estão restritos ao Mato Grosso.

 

Em Goiás, pelo menos seis frigoríficos baixaram as portas nos últimos meses. A expectativa é de reabertura de algumas unidades, mas o tom é de cautela. "Um frigorífico está fechado para reforma e outro está na fase final de apresentação de documentos para habilitação para União Europeia, mas são movimentações pontuais", afirmou o fiscal Sérgio Antônio Novato Neto, do Serviço de Inspeção de Produtos Agropecuários da Superintendência de Goiás.

 

Os efeitos dessas paralisações preocupam os pecuaristas, já que grandes grupos, como é o caso da unidade da JBS de Mato Grosso, chegavam a abater mil animais por dia. O secretário de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais, Gilman Viana, lembra que o quadro é preocupante. "Sem crédito, a tendência é achatar ainda mais. Sem ter para quem vender, há um achatamento no ritmo do comércio", afirmou.

 

No Rio Grande do Sul, outro importante polo de produção de carnes, o problema está na avicultura. Cinco abatedouros de aves e um de suínos já suspenderam temporariamente suas atividades, disse Marco Antônio Rodrigues dos Santos, da superintendência do Rio Grande do Sul.

 

Pagamento. O receio dos pecuaristas alterou a forma de negociar gado no Brasil. Tradicionalmente, os frigoríficos compram animais e fazem o pagamento a prazo, em 30 dias geralmente. Com medo de não receber pelo gado entregue, muitos pecuaristas estão preferindo receber o pagamento à vista, mesmo que isso signifique um deságio sobre o valor a prazo. Na semana passada, o deságio aplicado para os negócios à vista foi, em média, de 3%. "Tradicionalmente, a venda de gado é feita a prazo, mas diante da situação do setor, os próprios sindicatos e associações de produtores já recomendam a venda à vista", afirma Tito Rosa, da Scot. Ele informa que outra importante praça de negociação também está sofrendo com a paralisação de frigoríficos.

 

Em Mato Grosso do Sul, estado com o segundo maior rebanho de corte do Brasil, o frigorífico Independência fechou três unidades, o Margen paralisou uma e o Estrela Alimentos outra. "Isso só para contar as grandes empresas. Se fomos contar as menores a situação é muito mais grave", afirma.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


Veja também

Zurita lidera raça nelore

Um dos mais tradicionais celeiros da genética nelore no Brasil mudou de mãos: a AgroZurita acaba de adquir...

Veja mais
Preços na exportação de frango sobem com produção menor

A decisão do setor avícola brasileiro de reduzir produção para não provocar uma super...

Veja mais
Friboi busca mercado interno e incentiva pagamento à vista

Com a queda das exportações e a paralisação, ainda que temporária, de importantes pla...

Veja mais
JBS diz que pode analisar parcerias

Menos de uma semana depois de o frigorífico Independência ter pedido recuperação judicial, Jo...

Veja mais
Brasil mantém aporte de R$ 1 bi em pesca

O Brasil levará adiante um programa de R$ 1 bilhão para a expansão do setor pesqueiro, apesar da cr...

Veja mais
Grupo Redenção pede recuperação judicial

O conglomerado familiar mato-grossense conhecido como Grupo Bihl - ou Grupo Redenção, como também p...

Veja mais
Pesca controlada

Pesquisadores do Grupo de Estudos Pesqueiros (GEP), do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, d...

Veja mais
Caso ‘Independência’ dissemina desconfiança

Depois da surpresa com as dificuldades financeiras do considerado sólido Frigorífico Independência, ...

Veja mais
Frigoestrela retoma exportação e vira alternativa ao pecuarista

Após retomar em janeiro os abates de boi na planta de Estrela do Oeste (SP) e em fevereiro, na de Tupã (SP...

Veja mais