A queda do preço das carnes nos últimos meses, potencializada em março pela terceira fase da Operação Carne Fraca, teve reflexo imediato no varejo. Com os produtores perdendo parte das exportações, o mercado interno ganhou espaço e o preço do frango, em alguns locais, ficou até 20% menor de um mês para outro.
Além de rechear as gôndolas dos varejistas, que puderam usar e abusar de promoções, a queda do preço da carne tem um efeito direto na intenção de compra do consumidor. Segundo o professor de macroeconomia da Universidade de Brasília (UnB), César Longo, o efeito dessa retração tem um impacto bastante positivo para o brasileiro.
“O preço da carne baliza o entendimento do consumidor sobre a inflação. Muito se fala que o varejo não tem crescido porque o brasileiro não percebeu a queda dos preços, mas a tendência é que esse quadro mude a partir de agora”, conta.
De opinião similar partilha o gerente de alimentos da rede de supermercados Tudo em Casa, Emereciano Nunes. De acordo com ele, o preço médio do frango congelado ficou 20% mais barato este mês, muito em função da oferta extra, principalmente em estados como Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. “Acredito que esse movimento [de preços baixos] vai se manter nos próximos meses.”
Futuro
A previsão de Nunes está correta. Além dos efeitos negativos na exportação de carnes em geral devido à Operação Carne Fraca, mais um agravante tem tirado o sono dos grandes produtores: as novas regras de abate halal, que segue preceitos do islamismo, que a Arábia Saudita vai implementar. Apesar do Ministério da Agricultura pedir mais 60 dias para implementação das novas exigências, a tendência é que o preço no Brasil continue em queda, pelo menos até maio.
O economista da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Thiago Berka, aponta que, em fevereiro, o Índice de Preços dos Supermercados (IPS) apresentou deflação. E os destaques foram, inclusive, a proteína animal. De acordo com o estudo, feito em parceria com a Fipe, a carne suína teve a maior deflação (-3,99%), seguida das carne bovinas (-3,02%), aves (-2,94%) e pescados (-1,13%).
“Na carne suína, as exportações caíram 17% em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2017, o que aumentou a oferta em fevereiro, encontrando um consumidor ainda sem poder de compra para absorver a maior abundância do produto”, detalha Berka.
Com relação à carne de boi, explica o economista, não houve aumento significativo da produção, mas sim uma demanda enfraquecida que não sustentou o preço no atacado. “A explicação para as aves é semelhante e está na fraca demanda para o mês de fevereiro”, explicou o economista da APAS, que ainda projeta estabilidade no preço das carnes.
“As notícias do campo demonstram que as cotações do boi gordo continuam paradas, pois a indústria não impulsionou as encomendas de forma significativa, o que força os produtores a escoar a produção a preços menores”, diz ele.
As últimas pesquisas de preço confirmam o resultado verificado pelos supermercadistas paulistas. A prévia do Índice de Preços ao Consumidor (IPC-10), da Fundação Getulio Vargas (FGV), captou uma redução no preço do frango, entre abril de 2017 e março deste ano, de 7,33%. No acumulado do primeiro trimestre, a queda foi de 3,83%.
Hora das promoções
Para a consultora de varejo Viviane Piney, o momento é positivo para que os supermercados aproveitem os preços para fazer liquidações. “É uma boa hora para atrair o consumidor com promoções robustas. Tenho dois clientes que têm acompanhado mensalmente o índice de preços ao consumidor e em cima disso decidindo as promoções. Isso tem dado resultado”, conta ela, ressaltando casos de aumento de até 25% no fluxo de clientes nas lojas em dias promocionais.
Para os supermercados que estão abastecidos, um caminho é aproveitar o feriado da Páscoa para incentivar compras para além do almoço comemorativo. “Se você mostrar para o consumidor que ele pode comprar o bacalhau e ainda levar cortes de carne, frango e linguiça com descontos, conseguirá boas vendas”, sugere.
Fonte: DCI