Queda contínua durante o ano é reflexo do baixo ritmo das exportações imposto pela crise
Desde o começo do ano, alguns cortes de carne bovina de primeira tiveram os preços reduzidos em até 8%. Por trás da boa notícia para o consumidor está o péssimo cenário para os frigoríficos.
Segundo o Índice de Custo de Vida do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre janeiro e abril, o preço da alcatra caiu, em São Paulo, 5,5%, o do filé mignon caiu 6,39% e o da picanha, 8%. Dentre os cortes considerados de segunda, a costela está 6,03% mais barata e o músculo, 6,30%.
As quedas podem ser explicadas pela freada do consumo no mercado externo, o que afetou as exportações brasileiras para a Ásia e a Europa. Com o mercado externo desaquecido, a oferta no mercado interno cresceu, e, por isso, os preços tenderam a baixar. “A crise derrubou as exportações, que praticamente pararam em dezembro e janeiro. Estão voltando aos poucos”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos, Péricles Salazar.
Segundo ele, a indústria frigorífica brasileira está trabalhando com apenas 40% de sua capacidade. “Os abates são feitos conforme a necessidade, e com esse preço, não tem compensado aumentar a oferta”, afirma.
Mas, para o Alex dos Santos Lopes, da Scot Consultoria, o mercado interno também não está totalmente aquecido, e a produção não tem sido escoada de maneira satisfatória. Segundo ele, a queda do preço do varejo não refletiu a ocorrida no atacado. “O varejo não repassou a queda toda. No atacado o preço caiu, este ano, até 20%”, diz ele. “O consumo não cresce porque não há estímulo para comprar”.
Salazar, da Abrafrigo, afirma que as negociações com o varejo para a redução dos preços são difíceis. “No Brasil tem uns cinco ou seis grandes grupos de supermercadistas que mantêm uma margem de lucro muito grande sobre a carne”, diz ele.
Do outro lado, o vice-presidente de comunicação da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Martinho Paiva Moreira, contesta: “A concorrência no ramo dos supermercados é muito mais forte do que na indústria frigorífica. Ninguém pode manter margens de lucro altas”, afirma, garantindo que toda a redução no preço pago pelos supermercados é repassada para o varejo.
Suínos
O preço dos da carne de porco no varejo caiu até mais do que o da carne bovina - o pernil está 16% mais barato do que em janeiro. Segundo Moreira, porém, a queda não pode ser creditada à falta de informação quanto à forma de contágio do vírus H1N1, da chamada gripe suína.
A perspectiva para o mercado interno de carnes, para Salazar, é de melhora gradativa na competitividade. Moreira crê que os preços no varejo mantenham-se estagnados até outubro.
Veículo: Jornal da Tarde - SP