A concentração no setor de carnes será alvo de investigação do Tribunal de Contas da União (TCU). A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados pediu ao órgão uma investigação sobre empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para frigoríficos no período de 2005 a 2009. O pedido foi feito pelo deputado Ernandes Amorim (PTB-RO) na Proposta 65/08 e tem como relator o deputado Moreira Mendes (PPS-RO). O relatório prévio aponta o envolvimento do frigorífico JBS-Friboi na operação Santa Tereza, na qual a Polícia Federal revelou uma quadrilha que cobrava propinas para intermediar empréstimos junto a estatal. O valor recebido na ocasião pela companhia, que é a maior do setor de carne bovina no Brasil, teria sido da ordem de R$ 300 milhões, segundo consta no relatório. Segundo Moreira Mendes, no documento também haveria queixas de que o BNDES estaria beneficiando grandes frigoríficos, contribuindo para uma maior concentração no setor.
Durante evento promovido ontem pelo Wal-Mart sobre um pacto de sustentabilidade com os frigoríficos, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, conselheiro do grupo JBS e ex-ministro da Agricultura, reiterou que empresa não compra gado de propriedades que não estão em condições ambientais adequadas. "As plantas da empresa na região Norte do País estão localizadas em Rondônia e são abastecidas apenas por fazendas do entorno", disse. Quanto a Operação Abate, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal de Rondônia, na qual a JBS é uma das investigadas, Pratini destacou que não foram investigados funcionários diretos da empresa. A Operação já resultou na prisão preventiva de 22 pessoas acusadas de favorecer empresas do segmento de carnes.
Pratini disse ainda que o abastecimento será facilitado pela ampliação da rastreabilidade, mas que quem deve fazê-la são os próprios pecuaristas. "A rastreabilidade é um fator importante nas exportações e não tanto no mercado interno", avaliou.
Exportações
As exportações de carne bovina dos Estados Unidos deverão declinar em 8% em 2009, para 791,06 mil toneladas, segundo dados divulgados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em seu relatório sobre previsões para o mercado pecuário, lácteos e de aves. De acordo com o documento, além de enfrentar uma dura competição com carne suína e de aves, a demanda de carne bovina no Memorial Day, comemorado nos EUA no final de maio, foi decepcionante e os preços têm desde então declinado. "Os abates comerciais de bovinos de corte continuarão abaixo dos níveis do ano anterior, à medida que os produtores parecem relutantes em aumentar os rebanhos retendo novilhas de reposição". O USDA alerta ainda que os abates comerciais no segundo trimestre de 2009 poderão cair significantemente com relação ao mesmo período do ano passado. Com esse recuo e de outros mercados os frigoríficos brasileiros terão que redirecionar um volume ainda maior para o complicado mercado interno. A JBS, que tem nos Estados Unidos uma importante fatia do seu mercado - segundo Pratini, a base da empresa nos EUA além de atender o mercado interno exporta para Japão, Coreia do Sul, Taiwan - também poderá enfrentar já a partir desse ano, um concorrente à altura, com a união de Marfrig e Bertin.
A Marfrig, que admite negociações com o Bertin, firmou ontem um compromisso de compra e venda com a DouxFrangosul, no valor de R$ 65 milhões, para aquisição de seus ativos do segmento de peru no Brasil. Este movimento marca a entrada do Grupo Marfrig no mercado de carne de peru no Brasil.
A aquisição inclui uma planta de abate, na cidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, com capacidade diária de 30 mil perus, além de uma fábrica de rações, um incubatório e 4 granjas com aproximadamente 1 milhão de animais para abate e 50 mil animais para produção de ovos férteis, além de mais de 300 produtores integrados para fornecimento de aves.
Segundo Ricardo Florence, diretor de planejamento e de relações com investidores do Marfrig "a aquisição segue a estratégia de diversificação traçada pelo Grupo Marfrig desde seu IPO fortalecendo ainda mais a sua imagem como a empresa de alimentos mais diversificada em carnes ampliando ainda mais seu portfólio de produtos ofertados aos seus clientes". Pecuaristas da região do Mato Grosso também já falam de uma possível venda do Frigorífico Independência.
Veículo: DCI