O presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Roberto Giannetti da Fonseca, afirmou que a entidade assinará um termo de conduta com o governo, comprometendo-se a não comprar carne de bois criados em áreas desmatadas e a preservar o meio ambiente. Ele deu a informação ao chegar ao Senado, onde participou de audiência pública para discutir a situação dos frigoríficos. "É um compromisso com a sociedade brasileira. Vamos evitar a comercialização de gado originário de áreas desmatadas", afirmou.
A atitude da Abiec faz parte de uma corrente que vem crescendo. Grandes redes de supermercados, como Pão de Açúcar e Wal-Mart, já haviam assumido compromisso semelhante. Giannetti comentou, no entanto, que um dos piores problemas do setor é o abate clandestino, que representa aproximadamente 30% da atividade total do setor.
Ele explicou que o Brasil produz 9 milhões de toneladas de carne por ano, das quais cerca de 2 milhões de toneladas são exportadas. "Estamos preocupados com essa questão porque isso denigre a nossa imagem como fornecedor competitivo de carne bovina, onde somos reconhecidos como bons produtores", argumentou.
Para o presidente da Abiec, é possível praticamente triplicar a receita cambial com exportações de carne bovina brasileira até 2020 sem desmatar nenhuma área para pastagem. No ano passado, as vendas de carne brasileira somaram US$ 5,3 bilhões. Ele previu que a taxa de desfrute pode passar de 22% hoje para 30% daqui a 11 anos, o que significaria que o abate pode evoluir das atuais 44 milhões para 75 milhões de cabeças. "Teríamos produtividade de 1,5 cabeça por hectare. Não seria necessário, portanto, derrubar mais nenhum hectare. Podemos manter a área já usada hoje", comentou.
Apesar de manifestar preocupação com o desmatamento, Gianetti fez na audiência duras críticas ao Greenpeace e ao Ministério Público Federal (MPF), que há duas semanas determinou que frigoríficos suspendessem a compra de carne de propriedades do Estado do Pará acusadas de desmatamento ilegal.
"As informações em sites fazem parecer que eles (MPF) e as ONGs são heróis, enquanto empresas são vilãs", considerou. Ele explicou que, de 24 a 27 de maio, o Ibama e o Ministério Público vistoriaram frigoríficos no Pará e entregaram 14 autos de infração às empresas.
"Com base nestes autos, sem dar às empresas o direito de defesa, o MP obteve a lista de clientes do Frigorífico Bertin e deu a eles dez dias de prazo para dizer se comprariam carne desses fornecedores ou não", argumentou. "Temos aqui inconstitucionalidade, pois os fornecedores não tinham sido condenados."
Ele enfatizou que os 2,5 mil fornecedores do Bertin não estão na lista de propriedades embargadas pelo Ibama ou pelo Ministério do Trabalho. "Os fornecedores não cometeram crime e os clientes, acuados, disseram que não vão mais comprar carne do Estado do Pará. Me assusta a irresponsabilidade com que o MP trata o caso", disse.
Greenpeace. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estuda entrar com uma ação judicial contra o Greenpeace em função de atitudes da ONG a respeito do modo de produção de carne brasileira. A afirmação foi feita, sem mais detalhes, pelo presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás, José Manoel Caixeta, durante audiência pública extraordinária na Comissão de Agricultura do Senado para discutir a situação dos frigoríficos.
De acordo com Caixeta, se for inviabilizada a produção em áreas consideradas como desmatadas, os custos de produção tendem a aumentar e o preço da carne deve subir, prejudicando os consumidores.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ